Democracia na loja?


Clique no player para ouvir o artigo

Da Redação

A ideia de que a democracia é uma forma de governo antinatural é, para mim, uma consideração tão óbvia que dispensa provas ou argumentos de apoio. Na natureza, não há exemplos de espécies, populações, matilhas ou rebanhos em que as decisões que dizem respeito à comunidade sejam confiáveis à parte mais representadas segundo um sorteio de quantidade. Mesmo no contexto humano, qualquer estrutura dedicada a operações importantes, movida pela necessidade de garantir resultados significativos ou obrigada a agir em situações altamente críticas, jamais optaria por confiar apenas neste classificado para definir uma linha de ação e organizar sua implementação.

O princípio orientado universalmente adotado em todos esses casos, tanto na natureza quanto nas organizações humanas, é o da orientação por aqueles com maior competência. A função gerencial, ou seja, é exercida por indivíduos que, pelas suas competências e características, estão mais capacitados para garantir o alcance dos melhores resultados para todo o grupo. Isso implica dois pré-requisitos essenciais: primeiro, que as pessoas a quem foi confiada a orientação possuam competências nas competências; e segundo, que os resultados almejados sejam benéficos para o benefício do grupo.

Caso contrário, quando os resultados não são alcançados porque os líderes não possuem os requisitos necessários, ou quando agem por interesse pessoal, o grupo não tem outra escolha senão a autodeterminação. Isso nos leva a outra consideração: embora a democracia não represente a melhor forma de governo, apresenta-se como a única viável após a degeneração de uma aristocracia cada vez mais inepta e corrompida por critérios como riqueza, poder ou descendência genealógica.

Por exemplo, nenhum membro da tripulação de um veleiro contestaria as decisões de um capitão experiente e determinado. No entanto, se o capitão se mostrasse incapacitado, a tripulação não teria outra opção senão dispensá-lo e assumir o comando, mesmo que isso trouxesse riscos e dificuldades. Analogamente, na gestão democrática do governo, a competência da população é uma variável crucial. Quanto mais experiente a população, mais fácil e eficazmente poderia substituir líderes inadequados.

No entanto, o que frequentemente se observa é que a elite prevalece sobre o povão, e o bem comum é obscurecido por impulsos que representam a parte menos evoluída do ser humano. Esta influência é facilitada por uma aristocracia degenerada que, em nome de "dar ao povo o que o povo quer", estimula e apoia tais inclinações. Um exemplo disso é o declínio da oferta cultural cinematográfica, televisiva e editorial, onde os critérios comerciais de "produzir apenas o que se vende" geraram um nivelamento dramático da qualidade.

Para enfrentar essa questão, não basta implementar intervenções regulatórias que aumentem o poder dos governados e limitem o dos governantes. É necessário um trabalho profundo que produza mudanças substanciais na estrutura humana, criando aristocratas verdadeiramente melhores e elevando o nível de competências do demos. Na Maçonaria, a estrutura é bem ordenada nesse sentido, evoluindo o aperfeiçoamento humano e a identificação dos mais aptos para liderar.

É preciso ressaltar que a elevação ao grau de Mestre na Maçonaria não deve ser apenas uma passagem formal, mas reservada para aqueles que demonstraram ter realizado cumprindo os objetivos do segundo grau e possuem as qualidades para oferecer aos outros o que conquistaram. Só assim a loja poderá se configurar como uma aristocracia esclarecida, onde os Mestres não apenas exercem o poder, mas operam em nome de tornar-se progressivamente supérfluos, proporcionalmente ao crescimento e à perfeição das demonstrações.

Infelizmente, na prática, muitas vezes se reproduzem dentro do tecido maçônico as mesmas condições que levaram a sociedade humana a uma democracia imatura, com uma aristocracia formal e superficial. A rotação obrigatória do Venerável Mestre nas Lojas Simbólicas, por critérios de equidade ou experiência educativa, pode ser um exemplo do perigo dessa atitude, análoga à gestão de um serviço hospitalar confiável alternadamente a todos os médicos para "ganho de experiência". Essa prática pode comprometer os resultados e afetar aqueles que têm direito à melhor orientação possível.

Nas escolas iniciáticas e esotéricas, a gestão da irmandade nunca precisou de leis inspiradas nos princípios democráticos, mas sim no princípio de que quem sabe fazer deve fazer, e quem tem e pode dar deve dar. Um Mestre que não tem nada para dar ou não consegue oferecer o que conquistou não pode ser considerado um verdadeiro Mestre. A requalificação da figura, do papel e das tarefas do Mestre Maçom visa devolver ao grau de Mestre seu significado tradicional e funcional.

Concluindo, a verdadeira aristocracia maçônica dos Mestres difere profundamente de qualquer outra forma de governo profano. Visa, acima de tudo, o crescimento humano e interior das demonstrações de aprendizes e companheiros, subordinando todas as ações governamentais a esse objetivo. Ao tornar-se progressivamente supérfluos, os Mestres promovem a autossuficiência e a responsabilidade dos irmãos, contribuindo para uma forma de democracia que não seja apenas justa, mas também eficaz e sustentável. O caminho traçado pela tradição maçônica é claro e possível, desde que a teoria seja acompanhada pela prática, transformando o conhecimento em realização efetiva.

 

 

 

Postar um comentário

0 Comentários