Da Redação
A história da Maçonaria americana no início do
século XX está profundamente entrelaçada com a expansão imperial dos Estados
Unidos. Entre os documentos preservados no Museu e Biblioteca Maçônica do Rito
Escocês — carteiras, certificados e registros raros — encontra-se um capítulo
singular dessa jornada: a trajetória de Walter Weitzman, um imigrante judeu
polonês que, ao servir no Exército americano, tornou-se também uma peça
importante na formação da identidade maçônica na Zona do Canal do Panamá.
O
Império Americano e a Difusão da Maçonaria
Após a Guerra Hispano-Americana de 1898, os
Estados Unidos entraram definitivamente na arena imperial global. A
incorporação de territórios como Porto Rico, Filipinas, Guam e Havaí marcou o
início de uma presença militar constante além-mar. Onde o Exército ia, a
cultura americana o seguia — e, com ela, a Maçonaria, que encontrou nesses
novos cenários férteis espaços de convivência, apoio mútuo e construção de
fraternidade.
A Zona do Canal do Panamá, formalmente
controlada pelos EUA a partir de 1904, tornou-se um desses espaços. Enquanto
milhares de trabalhadores erguiam a obra monumental que uniria os oceanos
Atlântico e Pacífico, soldados americanos eram enviados para garantir a
segurança e o controle da região. Foi nesse ambiente que se formou uma
comunidade maçônica vibrante, marcada pela diversidade e pela transitoriedade
de seus membros.
Walter
Weitzman: De Imigrante a Soldado Americano
Walter Weitzman nasceu em 1892, na Polônia, e
imigrou para os Estados Unidos por volta de 1909 ou 1910. Como tantos outros
imigrantes judeus do início do século XX, buscava melhores condições de vida e
liberdade em terras americanas. Aos 22 anos, pouco antes do início da Primeira
Guerra Mundial, alistou-se no Exército dos Estados Unidos.
Em 1914, foi enviado para o recém-inaugurado
Canal do Panamá, servindo no Corpo de Artilharia Costeira em Fort Randolph. Ali
permaneceu até 1920, desempenhando funções essenciais na defesa de uma das
estruturas estratégicas mais importantes do império americano.
A
Maçonaria na Zona do Canal: Uma Comunidade em Formação
Para os trabalhadores e soldados que viviam no
Panamá, a Maçonaria era mais do que um espaço ritualístico — era um núcleo de
identidade, apoio e sociabilidade. Em 1910, o Conselho Consultivo Maçônico do
Panamá descreveu a fraternidade como algo que “permeia todo o pessoal desta
vasta empreitada”, unindo irmãos de diversos lugares e honrando aqueles que ali
tombaram durante a construção.
Clubes maçônicos surgiram primeiro, pois muitos
irmãos continuavam filiados a lojas nos Estados Unidos. Entretanto, à medida
que a comunidade crescia, surgiram lojas regulares. A primeira, Sojourners
Lodge nº 874, fundada em 1874 sob a Grande Loja da Escócia, tornou-se cada vez
mais americanizada após a presença militar dos EUA. Assim, em 1912, nasceu uma
nova Sojourners Lodge sob a jurisdição da Grande Loja de Massachusetts.
A
Iniciação Maçônica de Weitzman
Em 1917, a Grande Loja Distrital do Panamá
registrou um crescimento impressionante: 902 membros ativos, 141 novos
iniciados e 78 candidatos rejeitados. Entre esses novos irmãos estava Walter
Weitzman.
Ele, um jovem soldado de 1,64 m, olhos
cinza-escuros e cabelos escuros, pagou dez dólares pela inscrição em outubro e
quarenta e cinco dólares pela iniciação em dezembro — uma quantia expressiva
para quem ganhava cerca de trinta dólares por mês. Apesar disso, investiu na
jornada maçônica.
No dia 15 de dezembro de 1917, foi iniciado na
Sojourners Lodge. Poucos meses depois, em 23 de fevereiro de 1918, alcançou o
grau de Mestre Maçom.
Weitzman não parou aí: tornou-se membro do Consistório
nº 1 do Canal do Panamá, pagando seis dólares anuais, e ingressou no
recém-fundado Templo Abou Saad, tornando-se um dos primeiros Nobres do
Santuário Místico no Panamá, em 30 de novembro de 1918.
Vida
Pós-Exército: Uma Fraternidade Ampliada
Após sua baixa honrosa em 1920, com a
dissolução de seu regimento, Weitzman retornou aos Estados Unidos e continuou
suas atividades fraternas até 1925. Mais tarde, envolveu-se profundamente com a
Ordem Independente dos Odd Fellows (IOOF), outra importante organização
fraternal americana.
Em 1927, foi eleito Grande Mestre da Loja
Norman A. Manning nº 415, no Brooklyn — um feito notável para um imigrante que
havia chegado ao país menos de duas décadas antes.
Sua relação com a Maçonaria regular, no
entanto, parece ter diminuído. Em 1931, foi suspenso pela Grande Loja de
Massachusetts, provavelmente por inadimplência, algo comum em tempos de
dificuldades econômicas durante a Grande Depressão.
Os
Últimos Anos e o Legado Preservado
Walter Weitzman viveu tranquilamente no Bronx
ao lado de sua esposa, Anna Lerman, com quem teve dois filhos. Faleceu em 30 de
janeiro de 1989, aos 96 anos.
O que poderia ter sido apenas a história de um soldado imigrante tornou-se, graças aos registros preservados, um raro testemunho da expansão da Maçonaria americana durante a era imperial. Sua coleção pessoal — A Coleção Maçônica Walter Weitzman da Zona do Canal do Panamá (1917–1925) — hoje integra o acervo do Museu e Biblioteca Maçônica do Rito Escocês, garantindo que sua trajetória continue a inspirar estudiosos, maçons e curiosos sobre a história fraternal.
A vida de Walter Weitzman revela muito mais do
que a jornada individual de um soldado: ela ilumina como a Maçonaria serviu de
ponte cultural e comunitária em territórios estratégicos do império americano.
No Panamá, a fraternidade ajudou a unir trabalhadores, soldados e imigrantes
sob valores comuns de solidariedade, aperfeiçoamento pessoal e fraternidade
universal.
Weitzman foi, ao mesmo tempo, um exemplo e um
símbolo dessa época — um homem comum que, através da Maçonaria, encontrou
identidade, pertencimento e um caminho de construção dentro de um mundo
rapidamente transformado pelos ventos do imperialismo e da modernidade.
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