A etimologia da palavra “árvore” é fascinante, revelando uma história rica em simbolismo e evolução linguística. Surgido no século XI, derivado do latim “arbor, arboris”, era originalmente um nome feminino, que se tornou masculino nas línguas românicas. Seu significado latino de “eixo” lembra a imagem da árvore como eixo de sustentação do mundo, símbolo de estabilidade e conexão entre o céu e a terra. Esta imagem também se encontra na tradição bíblica, onde a árvore primordial é colocada no centro do mítico Jardim do Éden. Na verdade, no Antigo Testamento se diz que “Deus fez crescer do solo toda espécie de árvores agradáveis aos olhos e boas para alimento, e colocou no meio do jardim a árvore da vida e a árvore do conhecimento do bem e do mal” (Gênesis II, 9).
A localização da segunda árvore permanece
envolta em mistério. O texto bíblico não esclarece se estava localizado próximo
ao centro do Éden ou em outra área do jardim. A única certeza é a explícita
proibição divina: “Podeis comer de todas as árvores do jardim, mas não comais
do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, porque no dia em que dele
comeres, morrerás” (Gênesis II, 17).
Ao transgredir o mandamento divino, o homem
provoca a imensa indignação de Yahweh. A resposta do Senhor é decisiva e
peremptória: “Eis que o homem tornou-se como um de nós, conhecendo o bem e o
mal. Agora devemos impedi-lo de estender a mão sobre a árvore da vida, colher o
seu fruto e viver para sempre!” (Gênesis III, 22).
A expressão “Eis que o homem tornou-se como
um de nós” representa uma viragem fundamental na narrativa. A partir desse
momento, o homem não ascenderia mais à divindade, mas assumiria uma posição
semelhante à dos seres celestiais, passando a fazer parte de uma pluralidade
divina. Esta passagem sublinha a centralidade do nome "Elohim" para
definir a natureza de Deus, que emerge do próprio texto como uma entidade ao
mesmo tempo único e múltiplo. Contudo, a relação entre Deus e o homem na
história bíblica apresenta algumas questões críticas. Se por um lado Yavhé
Elohim pune o homem pela sua desobediência, por outro lado surgem dúvidas sobre
a veracidade das suas ameaças e a sua eficácia como criador. Se o fruto da
árvore do conhecimento não possuísse realmente o temido poder mortal, a morte
do homem não teria sido uma consequência inevitável e a reação divina parece
excessiva. Além disso, o medo de Yavhé Elohim de que o homem possa aumentar o
seu poder alimentando-se da outra árvore da vida levanta questões sobre sua
onipotência e em sua confiança no plano divino.
A expulsão do homem do Éden pareceria quase
um ato de insegurança por parte de Deus, que teme perder o controle sobre a sua
criação.
Outra tradição fascinante diz que a árvore
primordial, a árvore essencial, era adornada com frutos dourados. Esses frutos
não só proporcionaram conhecimento baseado em princípios imutáveis, mas também
uma vida vivida na verdade. Uma união indissociável, segundo esta visão, que
supera a dicotomia maniqueísta representada pelo fruto do conhecimento do bem e
do mal.
Na Bíblia, a proibição de comer da árvore do
conhecimento do bem e do mal, ainda mais rigorosa para a árvore da vida, sugere
a presença de frutos nestas árvores. No entanto, a natureza destas frutas
permanece envolta em mistério. A iconografia clássica, na sua representação da
árvore proibida, favorece quase unanimemente a macieira. Porém, alguns
pintores, em minoria, optam por uma imagem mais ousada: a figueira. Esta
escolha alternativa parece ditada pela necessidade de realismo geográfico.
De fato, embora a Bíblia transmita uma
mensagem universal, não pode escapar ao contexto histórico e cultural dos seus
autores. A maçã, na época da escrita dos textos sagrados, era uma fruta
desconhecida no Oriente. A sua adoção como símbolo do fruto proibido é,
portanto, uma escolha posterior, provavelmente influenciada por outras culturas
e religiões, onde a maçã representava o conhecimento universal e, em alguns
casos, a imortalidade. Neste cenário, a proibição divina de comer o fruto
proibido assume um significado paradoxal, quase contraditório.
A utilização do figo por alguns artistas
representa uma tentativa de conciliar a história bíblica com a realidade
geográfica e botânica da época. A figueira, planta comum e difundida no Oriente
Médio, oferece uma representação mais plausível da árvore proibida.
Talvez seja precisamente a sua estrutura
interna que fez da maçã um símbolo tão poderoso. Cortar uma maçã ao meio ao
longo do seu eixo horizontal revela as células que contêm as sementes se
organizam para formar uma estrela de cinco pontas.
Um símbolo perfeito para representar o
lendário fruto do conhecimento. A maçã, com a sua harmonia intrínseca, evocaria
o equilíbrio e a precisão universais. Um rigor que se exprime no respeito pela
lei da vida e pela sua coerência interna. Quem se alimenta deste fruto, segundo
este simbolismo, une-se ao conhecimento divino e vive em harmonia com a magia
da Seção Áurea, o número que encarna a harmonia dos princípios universais. Uma
visão muito mais rica e evocativa do que a maniqueísta apresentada pela Bíblia,
onde o segundo A árvore no Jardim representava simplesmente proibição e
punição. A natureza exata deste fruto pouco importa. O que assume importância
primordial é a própria ideia de alimento, aqui elevado a símbolo sagrado por
provir de uma árvore primordial, central, axial. A nutrição que esta fruta
proporciona é essencial. Não é um simples alimento, mas fruto da comunhão com
forças e energias universais, alimento para a alma e o espírito.
Para o “buscador”, a proibição desta fruta só
pode representar um desafio irresistível. Um obstáculo a superar para
demonstrar sua coragem e desenvoltura. Somente os tímidos desistirão diante
desta proibição, enquanto os espíritos aventureiros serão pressionados a ir
mais longe, movido por uma curiosidade irreprimível e pelo desejo de revelar o
segredo da Criação. Na verdade, o fruto não pode ser razoavelmente associado a
uma visão maniqueísta do mundo. “No princípio” não havia nem bem nem mal, e uma
divindade nunca poderia expressar-se em termos tão dualistas. O conceito de
proibido é antes uma invenção humana, ligada ao desejo de poder e controle.
Só existe uma árvore que realmente importa e
apenas um fruto que vale a pena saborear: o da Árvore da Vida. Saborear o seu
sabor é requisito essencial para quem deseja viver em comunhão com o universo,
captar a própria essência da vida.
A combinação com maçãs douradas entrelaça a
tradição com a abordagem alquímica. Possuir estas maçãs não significa acumular
riquezas materiais, mesmo do metal mais precioso, mas aspirar à
incorruptibilidade e à inalterabilidade, elevando-se acima da esfera efémera do
tempo.
Se fôssemos focar na especificidade do fruto
da Árvore, a romã poderia representar uma escolha ideal. A sua estrutura
interna, rica em sementes fortemente unidas, simboliza perfeitamente a união
harmoniosa dos elementos que constituem uma unidade indivisível. Uma unidade
que, paradoxalmente, não poderíamos ter concebido sem a existência da
multiplicidade, o que lhe confere seu verdadeiro significado e profundidade.
No alvorecer da criação, na cosmogonia
suméria, a “planta árvore” floresce no jardim primordial, a primeira a adornar
aquela paisagem edênica. Não é um homem que se alimenta deste fruto prodigioso,
mas sim um deus, Enki, movido por um desejo irreprimível de conhecimento e
poder. A sua transgressão não fica impune: uma deusa, magoada e desiludida,
abandona-o, condenando-o ao exílio do seu olhar amoroso. Somente depois que o
sofrimento e a doença o destruírem, ele será capaz de esperar pela
reconciliação.
Esta fascinante narrativa suméria revela um
conceito profundo: comer o fruto equivale a consumir a própria essência da
árvore. A força vital, o poder de regenerar, reside unicamente no seu fruto,
que contém dentro de si o potencial para dar vida a uma nova árvore. O fruto
torna-se assim uma oferenda sagrada, um presente de vida à própria Vida, um símbolo
do ciclo contínuo da existência.
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