Os Degraus do Templo


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Por Ir.'. Dario Angelo Baggieri

Desde que iniciei, em 1988, na querida e amada Loja Simbólica Sermão de Montanha, nº 1738, federada ao GOB e GOB-ES, sempre me atiçou a curiosidade de entender o porquê das denominações que nomeiam aqueles degraus — tanto os de acesso ao Oriente quanto os de acesso ao Trono de Salomão — e o motivo daquela cronologia a cada passo.

Pesquisei em várias literaturas de Potências e Obediências Regulares, e até mesmo de algumas “ditas espúrias”, e confesso que encontrei as mais desvairadas explanações nas várias searas do filosofismo, hermetismo, simbolismo, esoterismo e, por que não dizer, de um “achismo” viajante.

 Os Sete Degraus do Rito Escocês Antigo e Aceito

Normalmente, no Rito Escocês Antigo e Aceito (REAA), são sete degraus que representam diferentes estágios a serem ascendidos pelo maçom.

Os quatro primeiros, que ficam do Ocidente ao Oriente, simbolizam:

  1. Força – Representa a união dos irmãos e suas forças físicas e espirituais.
  2. Trabalho – Indica o esforço para desbastar a pedra bruta, que simboliza nossas imperfeições, e o exercício do trabalho honesto.
  3. Ciência – Alcançada através do estudo constante, proporciona sabedoria e compreensão da filosofia maçônica.
  4. Virtudes – Essenciais para a prática diária e para a subida da Escada de Jacó, símbolo do processo de regeneração pessoal.

Após esses, existem mais três degraus dentro do Oriente, correspondendo à Pureza, Luz e Verdade, necessários para atingir o Santo dos Santos, local mais sagrado do Templo, onde ficam o Dossel e a Cadeira de Salomão.

Em algumas descrições, os degraus também podem ser interpretados como símbolos de atitudes que o maçom deve cultivar, como lealdade, coragem, paciência, tolerância, prudência, amor e silêncio.

A soma desses degraus totaliza sete — um número de forte simbologia, remetendo à criação e às Sete Artes e Ciências Liberais estudadas desde a Idade Média.

Assim, ao galgar esses degraus, o maçom percorre uma jornada de aprendizado, aprimoramento moral e espiritual, que deve ser feita com prudência e consciência, pois a subida é lenta e difícil, e a descida pode ser rápida e inesperada.

Os Degraus do Ocidente

Também no Ocidente há degraus nas mesas do 1º e 2º Vigilantes, representando a força física e espiritual dos irmãos.

O Ocidente é entendido como a área onde os irmãos exercem suas forças em união, com um degrau no Segundo Vigilante e dois no Primeiro Vigilante, refletindo a hierarquia e o trabalho coletivo da Loja.

Esse degrau simboliza a base da união e da força dos maçons.

Na linguagem simbólica, degraus são símbolos de progresso e ascensão interior: subir degraus é mover-se de um plano para outro, de uma consciência mais densa para uma mais elevada.

🔺 Os Quatro Degraus de Acesso ao Oriente

  1. Força – Base do conjunto dos Irmãos, representa a união física e espiritual que sustenta a Loja e permite a coesão em torno do Venerável Mestre.
  2. Pureza (ou Trabalho) – Simboliza o desbastar da pedra bruta e o esforço de autotransformação. Representa o equilíbrio da Loja e o trabalho honesto como base da harmonia coletiva.
  3. Ciência – Associada ao estudo e à busca do conhecimento. É o aprendizado contínuo que combate a ignorância e o fanatismo, tornando o maçom instrumento da manifestação divina.
  4. Virtudes – Essenciais à liderança e à subida da Escada de Jacó. Exigem ética, justiça, honestidade e altruísmo, culminando na iluminação e na aproximação ao Santo dos Santos.

Esses degraus formam um caminho simbólico de autodesenvolvimento, de trabalho coletivo e de busca pela perfeição moral e espiritual — essência do progresso maçônico e da construção de uma sociedade mais justa e harmoniosa.

 Os Degraus do Trono de Salomão

Dando prosseguimento ao nosso ensaio, entraremos nos significados filosófico, esotérico e iniciático dos degraus de acesso ao Trono de Salomão:

 Pureza

Caracteriza um estado interior de integridade moral e de retidão no agir. É a ausência de compulsões materiais, paixões desordenadas e ambições egoístas.

Filosoficamente, representa a disciplina ética e a virtude ativa.
Esotericamente, é a condição indispensável para que a luz possa penetrar sem distorções. É o “limpar interior” — purificação das intenções e alinhamento com princípios mais elevados.

 Luz

No simbolismo, está associada ao conhecimento, sabedoria, razão e despertar intelectual.
Filosoficamente, significa transcender a ignorância e adquirir discernimento.
Esotericamente, é a revelação espiritual, o acesso a verdades antes veladas. A luz dissipa as sombras da dúvida e da materialidade, proporcionando clarificação interior: ver com clareza quem se é, onde se está e para onde se vai.

 Verdade

Filosoficamente, é o fim último do saber — não um simples conjunto de fatos, mas a coerência entre o ser e o dever-ser.
Esotericamente, é a verdade transcendente, consubstancial com o Grande Arquiteto. Quando a alma atinge esse degrau, alinha-se com a ordem cósmica e age conforme o real e o eterno.

A Verdade é aquilo que permanece quando tudo o mais é removido — crenças, ilusões, máscaras.

 O Percurso Iniciático

Esses três degraus formam um percurso interno comum às tradições esotéricas:

  1. Purificação → preparação: limpar o espelho interior para refletir corretamente.
  2. Iluminação → revelação: o espelho limpo permite que a luz penetre e revele.
  3. Verdade → realização: a luz mostra o que é verdadeiro; o iniciado vive conforme essa verdade.

Na alquimia espiritual, temos fases semelhantes: purificação (solve), iluminação (coagula & illuminatio) e a Grande Obra, que é a Verdade ou Pedra Filosofal.

No misticismo cristão, budista e sufista, também se fala na purificação do ego, iluminação espiritual e conhecimento da verdade divina.

Mesmo na filosofia ocidental, como em Platão, encontramos o símbolo da ascensão da caverna — da ignorância à luz do Bem e do Verdadeiro.

 O Trono do Venerável Mestre

Esse ensaio pode ser transposto para várias situações, e talvez nunca haja consenso.
Podemos, contudo, compreender o motivo pelo qual aqueles que caminham rumo ao Veneralato devem passar por essa jornada.

O Trono do Venerável Mestre simboliza autoridade, liderança e sabedoria dentro da Loja.
Colocar esses degraus abaixo dele é simbólico de que:

  • Para ocupar um lugar de liderança espiritual, é imprescindível ter passado por esses estágios;
  • O Venerável não está acima desses valores, mas apoiado sobre eles;
  • Sua função exige pureza para julgar, luz para discernir e verdade para agir com justiça.

Bibliografia

  1. História Ilustrada do Templo de Salomão – Gilson Sanches
  2. Os Segredos do Templo de Salomão – Kevin L. Gest
  3. O Templo de Salomão e Estudos Afins – José Ronaldo Viega Alves
  4. Os Segredos do Templo de Salomão – Kevin J. Conner – Atos
  5. Rituais do GOB, Grandes Lojas e COMAB do REAA
  6. A Bíblia Hebraica, especificamente o Livro dos Reis


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