Um dos momentos mais importantes político de
um país são as eleições. Oportunidade em que o eleitor responsável, no
exercício da cidadania, escolhe seus representantes. As eleições municipais podem
até parecer pouco interessantes, mas, através delas é que se revelam os grandes
líderes de amanhã. Convido os nossos leitores para lançar um olhar especial
para o momento político atual, trazendo à luz, a relação que a Maçonaria teve e
tem tido, ao longo de sua história, com a política nacional.
Para falarmos de Maçonaria e Política,
teremos que nos remeter ao período da transformação da Maçonaria Operativa em
Especulativa, quando nossas fileiras foram complementadas por pessoas que não
detinham os segredos da Arte Real.
A Inquisição foi um movimento
político-religioso, criado pelo Papa Gregório IX, em que a Igreja impunha suas
atrocidades contra aqueles que eram considerados hereges, condenando todas as
teorias contrárias aos dogmas do cristianismo. Os membros das Escolas de
Mistérios, como rosacruzes, cabalistas, hermetistas e outros, foram os
principais alvos da “santa igreja”. Esses passaram a buscar refúgio nas Lojas
Maçônicas, que por ser uma Ordem de Construção, que teve papel fundamental na
construção das Catedrais e, em especial, na reconstrução de Londres, quando do
nefasto incêndio de 1666, não sofria, então, a perseguição dos inquisitores.
A chegada desses membros das Escolas de
Mistérios no seio da Maçonaria, a partir do século XVII, os quais ficaram
conhecidos por “Aceitos”, gerou transformações profundas na instituição,
deixando de ser uma Ordem de construção de prédios para assumir um papel de
construtora do edifício humano.
No século seguinte, um sistema de pensamento orientado pela razão, conhecido como Iluminismo, ingressou nas Lojas Maçônicas. Esse foi o maior avanço cultural que emancipou o homem, abrindo caminho para grandes jornadas de conhecimento, utilizando o ambiente seguro, intelectualmente livre e neutro das Lojas
Nesse período, em pleno Brasil-Colônia, os
brasileiros mais abastados, buscavam completar seus estudos em Portugal e na
França, onde tiveram contato com esses ideais Iluministas, sendo iniciados nas
Lojas Maçônicas europeias. De volta ao Brasil, onde, ainda, não existia Maçonaria,
viram-se expostos a colocarem em prática seu projeto de libertação do Brasil.
Surgem as Academias e Grupos Literários, que tinham como objetivo registrar a
história da colônia. Tal locais serviram de abrigo para esses eruditos e suas
ideias, que ao longo do século XVIII, apesar das repressões sofridas, promoveram
diversos movimentos revolucionários pela libertação do Brasil.
No século seguinte, veio a estruturação da
Maçonaria, com a criação do Grande Oriente Brasílico, em 1822, que teve como
objetivo a Independência do Brasil. É importante citar que, na época, o
candidato para participar das fileiras maçônicas precisava jurar defender a
causa da Independência, o que configurava uma relação estrita da Maçonaria e a
Política.
A compreensão de que, hoje, não devemos
tratar de política dentro de nossas Lojas é um conceito um tanto errôneo. O que
não podemos, em verdade, é tratar de discussões políticas partidárias.
Sérgio Buarque de Holanda, em seu trabalho “Da Maçonaria ao Positivismo”, afirma que “a maçonaria como uma instituição, atuou de forma mais efetiva, apenas, durante o processo de emancipação brasileira, possuindo, posteriormente, uma presença inexpressiva”.
Em 1897, ao assumir a carga do Grão-Mestre
Adjunto do Grande Oriente do Brasil, nosso ilustre Irmão Quintino Bocaiuva,
conhecido como o "Patriarca da República", expressou-se com firmeza
sobre a necessidade de restaurar a Maçonaria como uma instituição influente na
formação de opinião.
“(…) se
nós nos limitássemos a fazer a caridade, a dar pensões, a ser sociedade de beneficência,
cairíamos no ridículo de uma organização tão complicada e tão aparatosa, com
cerimonial tão minucioso de palavras, sinais, toques e passos, com sessões
noturnas secretas, tão prolongadas, para fins tão insignificantes plenamente
preenchidos, sem tantas formalidades, por quantas associações, estrangeiras ou
nacionais, que se acham, para esse fim, estabelecidas entre nós. É esta a
contraprova da asserção, tantas vezes por mim afirmada nesta Assembleia. – A
Maçonaria é uma associação altamente política. Mas qual é essa política? Tendes
o direito de perguntar-me. Responderei, começando por definir os termos da
controvérsia: – Política é a arte de educar o povo e dirigi-lo nas vias do
progresso e do engrandecimento, até a consecução dos seus fins no seio da
humanidade. É isto que nós maçons chamamos de “alta política”; tal qual
delineada na nossa constituição. (…) A nossa política, tão grande como a nossa
instituição, é aquela que nos faz amar o cristianismo, e detestar o jesuitismo,
que nos impele a estudar e ouvir socialistas e rebater anarquistas; que nos
obriga a aceitar e manter a República e repelir a monarquia; que nos dá a
diferença profunda entre o jacobirismo e o patriotismo; pois este é um
sentimento de amor, e é aquele um mal sentimento de ódio, contrário ao nosso
lema de fraternidade universal, dos homens e dos povos.
A verdade é que, com o passar dos anos, quando
do ingresso na Ordem, não havendo mais a necessidade do juramento para defesa
de uma causa, como foi na emancipação do Brasil e, mais tarde, com o
engajamento em movimentos como a Abolição da Escravatura e a República, e nos
dias atuais, com a falsa compreensão de que não se pode mais discutir política
em nossas Lojas, abrimos as portas de nossa instituição para muitas pessoas
descomprometidas com os interesses da população. Desde os curiosos, e até,
muitas das vezes, para aqueles que buscam, tão somente, beneficiar-se em
conseguir uma certa influência, a fim de atender, tão somente, seus interesses
particulares.
A Política e a Maçonaria caminham de mãos
dadas, até porque, sua origem nos mais diversos países e, em especial, em
terras brasileiras não teve outro cunho, senão o político. Desde que aqui
chegou, no idos do século XVIII, infiltrando-se nas Academias, que acolheu os
maçons, quando nem Maçonaria existia, ao surgimento das primeiras Lojas, de sua
estruturação em Obediência, e de todos seus feitos que aqui dispensa citá-los.
A afirmativa de Platão (428 a.C. a 328 a.C.),
ao dizer que: “quem não gosta de política
está condenado a ser governado por quem gosta”, já seria suficiente para
que tivéssemos um olhar especial para esse aspecto. Como construtores sociais,
nossas responsabilidades aumentam exponencialmente, exigindo-nos o engajamento
político de forma plena.
O distanciamento da política, e o flagrante
desinteresse do maçom por sua função templária, onde o aspecto iniciático foi
deixado em segundo plano, vem transformando nossas Lojas em um verdadeiro clube
de serviços, regados a festivas, após os trabalhos, que se estendem,
semanalmente, varando a madrugada. Uma dura realidade!
Cabe a cada um refletir sobre: “o que vindes fazer aqui?” Em especial,
no que se refere à política, não ser parte da solução já nos remete,
automaticamente, a ser parte do problema! O momento atual do Brasil exige o
engajamento de todos, pois trata-se da implantação da Verdadeira Proclamação de
nossa Independência. Precisamos olhar a política com olhos de ver!
Finalizando, diria que se para ingressarmos
em nossa instituição, hoje, não mais precisamos prestar um juramento por uma
causa a ser defendida, isso não nos exime das responsabilidades para com os
interesses da população, principalmente, com relação à preservação da soberania
nacional, haja vista a ameaça da implantação de uma Nova Ordem Mundial. Fiquemos
por aqui!
Fontes:
Boletim do Grande Oriente do
Brasil nº 144 – mai/jun 1897;
Da Maçonaria ao Positivismo
- Sérgio Buarque de Holanda;
A República – Platão (século
IV a.C.);
Discurso de Posse do Grão-Mestre
Adjunto do GOB – Quintino Bocaiuva (1897).
0 Comentários