Da Redação
Louise Michel (1830-1905) foi uma das figuras mais emblemáticas da Comuna de Paris de 1871, uma revolucionária, feminista e anarquista que dedicou sua vida à luta pelos direitos dos oprimidos e pela igualdade social. Professora comprometida, Michel nunca hesitou em desafiar o status quo em nome da justiça e da liberdade. Mesmo após a derrota da Comuna, sua determinação e coragem não esmoreceram, sendo deportada para a Nova Caledônia, onde continuou a lutar pela educação dos mais pobres e pela justiça social. Michel passou à história como um exemplo de dedicação incansável às causas que acreditava.
A
"Virgem Vermelha" e a Maçonaria
Embora a trajetória revolucionária de Louise
Michel não tenha sido marcada por uma relação estreita com a Maçonaria, seus
últimos anos trouxeram uma reviravolta surpreendente em sua vida. Conhecida
como a "Virgem Vermelha" por sua fervorosa defesa da Comuna de Paris,
Michel acabou por se filiar à Maçonaria em 1904, pouco antes de sua morte. Essa
adesão tardia à irmandade maçônica foi impulsionada pela ativista Madeleine
Pelletier, que a convidou para uma conferência de recepção na loja
"Fraternité Universelle", em 20 de julho de 1904. A loja, honrada com
sua presença, ofereceu-lhe a filiação, que foi prontamente aceita por Michel.
Esse ingresso na Maçonaria, contudo, não
representava um rompimento com seus ideais anarquistas. Michel encontrou na
Maçonaria mista, especialmente nas lojas que aceitavam mulheres, um espaço onde
seus valores de igualdade, liberdade e fraternidade encontravam ressonância. A
sua iniciação formal ocorreu em 13 de setembro de 1904 na loja "Filosofia
Social", uma das poucas a admitir mulheres naquela época, demonstrando seu
compromisso com a inclusão em um contexto ainda predominantemente masculino.
No dia seguinte à sua iniciação, Louise Michel deu uma palestra na loja "Diderot" sobre o tema "Mulheres e Maçonaria", onde expressou sua surpresa ao descobrir que havia lojas maçônicas mistas. Michel confessou que teria se juntado à Maçonaria muito antes se soubesse da existência dessas lojas, acreditando anteriormente que a organização era exclusiva para homens. Nesse discurso, ela também reafirmou seu desprezo pelo poder hierárquico, afirmando que "o poder estupidifica os homens", e defendeu a abolição do poder para criar uma sociedade mais justa e igualitária, alinhada aos ideais maçônicos.
Um
Compromisso Tardio, mas Coerente
Embora tenha ingressado tardiamente na
Maçonaria, Michel conseguiu alinhar seus princípios anarquistas e
revolucionários aos ideais maçônicos. Ela associou sua visão de uma sociedade sem
hierarquias e sem opressão aos princípios de igualdade, liberdade e
fraternidade da Maçonaria. Mesmo que sua jornada dentro da irmandade tenha sido
breve, sua participação deixou uma marca significativa ao demonstrar que os
valores maçônicos podiam coexistir com a luta revolucionária e os anseios por
uma sociedade mais justa.
Durante seu funeral, que contou com a presença de várias personalidades e oradores, incluindo o venerável da loja "Fraternidade Universal", foi ressaltado que Louise Michel, embora não tivesse sido uma maçom durante a maior parte de sua vida, encontrou na Maçonaria um espaço para ecoar suas lutas pelos oprimidos. O caixão de Michel foi adornado com insígnias maçônicas, um símbolo de sua associação tardia, mas significativa, com a ordem.
Legado
Louise Michel continua a ser uma figura
inspiradora, símbolo de coragem e luta contra as injustiças. Sua entrada na
Maçonaria, embora tardia, é um lembrete de sua busca contínua por igualdade e
justiça social, valores que transcenderam as fronteiras políticas e
filosóficas. Ela permanece, ainda hoje, como uma referência de total
comprometimento com os ideais de transformação social e liberdade, tanto no
campo anarquista quanto, nos seus últimos momentos, na Maçonaria.
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