Baseado em texto de Alan Breant
A Maçonaria, em seu profundo universo simbólico, incorpora elementos das tradições bíblicas, ocultistas e filosóficas, compondo um sincretismo esotérico que orienta o desenvolvimento moral e espiritual de seus membros. Um dos símbolos marcantes nessa trajetória é a palavra "Schibboleth", cuja origem remonta ao "Livro dos Juízes" do Antigo Testamento. Comumente interpretada de forma simplista, como uma senha que identificava um Companheiro Maçom, Schibboleth carrega em si um significado que transcende a mera identificação ritualística, apontando para uma advertência e um ensinamento crucial sobre as relações intercomunitárias.
A História
Bíblica de Schibboleth
A palavra Schibboleth surge no capítulo 12 do "Livro dos Juízes", que narra um período de constantes batalhas entre as tribos de Israel, em aproximadamente 1130 a.C. Na passagem, Jefté, líder dos homens de Gileade, enfrenta a tribo de Efraim, resultando em um conflito fratricida. Após derrotar os efraimitas, os gileaditas controlam os vaus do rio Jordão, interceptando os fugitivos. Para identificar os inimigos, os gileaditas pedem que pronunciem a palavra "Shibboleth". Aqueles que não conseguem pronunciar corretamente (dizendo “Sibboleth”) são mortos. Essa técnica de identificação por meio da linguagem expôs não apenas a diferença linguística entre as tribos, mas também o profundo abismo da desunião fratricida.
Schibboleth
na Maçonaria
Nos rituais maçônicos, Schibboleth aparece pela primeira vez em meados da década de 1740, sobretudo nos rituais do segundo grau (Companheiro). Usada como uma senha, ela garante a posição do irmão antes de ser elevado ao grau de Mestre. No Rito Escocês Antigo e Aceito, a palavra é tradicionalmente associada a uma espiga de trigo junto a um riacho, remetendo ao episódio bíblico. A instrução do Companheiro esclarece que a simples pronúncia de palavras não revela um verdadeiro iniciado; é necessário mergulhar em seu significado profundo para alcançar o verdadeiro Segredo Maçônico.
Significados
Simbólicos e Advertências de Schibboleth
A abordagem maçônica de Schibboleth vai além da senha ritualística e simboliza uma advertência contra a divisão e o sectarismo. Em um contexto onde a Maçonaria busca a unidade e a coesão social, Schibboleth lembra aos maçons dos perigos da guerra fratricida e da desintegração da fraternidade. Assim como Jefté e os homens de Gileade enfrentaram a tribo de Efraim, a Maçonaria enfatiza a importância de evitar o egoísmo, o separatismo e o sectarismo dentro da Irmandade e, por extensão, na sociedade.
O Legado
Maçônico e as Relações Intercomunitárias
Desde suas origens na Inglaterra do século
XVII, a Maçonaria buscou alinhar-se com uma linhagem bíblica, encontrando na
Bíblia da versão King James (KJV) uma referência moral e simbólica. A prática
maçônica absorveu influências do iluminismo, da Cabala, do ocultismo e de
outras tradições esotéricas, consolidando-se como um movimento que prioriza a
paz social, a tolerância e o respeito mútuo. Schibboleth, portanto, adquire um
novo significado quando visto como um apelo à superação das divisões internas e
das disputas fratricidas.
Os maçons são advertidos a refletirem sobre o que a palavra Schibboleth realmente ensina: a importância de manter a fraternidade intacta e de rejeitar as divisões baseadas em diferenças linguísticas, culturais ou étnicas. A Maçonaria, ao longo dos séculos, destacou a importância da coesão social através do amor, da paz e do respeito mútuo, valores essenciais para a convivência intercomunitária.
Reflexão
Contemporânea: Schibboleth e o Mundo Atual
O mundo contemporâneo, marcado por tensões
intercomunitárias e políticas de exclusão, encontra na reflexão sobre
Schibboleth um alerta atual. A Maçonaria, ao manter viva essa narrativa,
reforça a necessidade de integração e compreensão mútua como elementos
fundamentais para o equilíbrio social. A guerra fratricida, simbolizada pela
pronúncia de Schibboleth, não é apenas um episódio histórico, mas uma
advertência contra a repetição de erros que dividem e enfraquecem comunidades.
O simbolismo de Schibboleth recorda aos
maçons e à sociedade a relevância da diversidade e da inclusão. É um convite a
superar barreiras linguísticas e culturais, reconhecendo o outro como parte
integrante de uma humanidade comum. A verdadeira herança de Schibboleth na
Maçonaria reside em sua mensagem de coesão social, desafiando-nos a construir
pontes em vez de erguer muros.
Schibboleth transcende sua função como senha
ritualística na Maçonaria, oferecendo uma lição profunda sobre as relações intercomunitárias
e o perigo da divisão fratricida. Em tempos de crescente separação e conflito,
a Maçonaria reafirma, através desse símbolo, seu compromisso com a paz, a
tolerância e a unidade entre os povos, lembrando a todos que, para evitar as
tragédias do passado, é essencial abraçar a diversidade e promover a
integração.
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