Por Danny Kaplan
Em 1995, a Grande Loja Maçônica da Argentina concedeu o Prêmio Internacional Maçônico da Paz aos representantes das lojas maçônicas de Tel Aviv e Nazaré. Esse reconhecimento veio em virtude do fortalecimento dos laços fraternos e dos contatos pessoais entre judeus e maçons árabes em Israel, promovendo a paz e a coexistência. Em um contexto marcado pelo conflito militar entre Israel e o mundo árabe, a alienação entre os cidadãos judeus e árabes-palestinos continuou sendo uma divisão central na sociedade israelense, com poucos laços sociais entre as duas comunidades. Este artigo examina as relações entre os membros judeus e árabe-palestinos da Maçonaria israelense, explorando suas concepções de fraternidade, cidadania e nacionalismo, com base em um estudo etnográfico de comunidades locais e atividades maçônicas.
A Maçonaria no Oriente Médio
A Maçonaria, a maior e mais antiga ordem fraterna do mundo, espalhou-se globalmente desde o século XVIII, chegando ao Oriente Médio pelas mãos dos impérios britânico e francês. Estruturada como uma sociedade quase secreta, a Maçonaria formou uma das primeiras redes sociais globais nos tempos modernos. Historiadores destacam como seus princípios de universalidade, fraternidade e civilidade esclarecida foram, em muitos casos, reinterpretados em expressões nacionais ou particularistas, refletindo as identificações eurocêntricas de seus membros locais.
Por um lado, nas lojas maçônicas, homens de diversas origens puderam discutir questões de constituição, autogoverno e ordem social, utilizando um vocabulário cívico-democrático. Por outro lado, muitos membros da Maçonaria participaram de lutas pela independência nacional, como observado nos Estados Unidos, na América Latina, na Revolução Constitucional Iraniana de 1905-7 e na Revolução dos Jovens Turcos em 1908.
O Nacionalismo e a Maçonaria em Israel
Ao enfrentar regimes antidemocráticos, é fácil compreender por que maçons se envolveram em revoluções nacionais em nome dos valores universais liberais. Contudo, após a consolidação dos Estados-nação, o patriotismo muitas vezes prevaleceu sobre o universalismo nas lojas maçônicas. Essa questão é particularmente relevante no caso de Israel, onde as lojas maçônicas foram reorganizadas em 1953 como uma entidade nacional, a Grande Loja do Estado de Israel (GLSI). Esta organização congrega todas as lojas que passaram a estar sob a soberania israelense após 1948.
A GLSI segue os princípios ortodoxos da Maçonaria Inglesa, que incluem a crença em Deus ou num Ser Supremo e a exclusão de mulheres como membros. As esposas dos maçons, no entanto, desempenham papéis ativos nas atividades sociais das lojas. Com uma estimativa de 1.200 a 2.000 membros ativos distribuídos em cerca de 55 lojas, a Maçonaria em Israel é composta majoritariamente por judeus, com quatro lojas no norte do país sendo formadas, em sua maioria, por árabes cristãos, além de uma pequena participação de drusos e muçulmanos. Haifa e Jerusalém abrigam duas lojas mistas, onde judeus e árabes compartilham o mesmo espaço.
Declínio e Transformação da Maçonaria
A Maçonaria em Israel, como em muitas partes do mundo, experimentou um declínio no número de membros nas últimas décadas. Embora a ordem tenha atraído membros das classes superiores em seus anos de formação, a adesão recente tornou-se mais heterogênea, incluindo homens de classes média e baixa. A maioria dos membros tem mais de sessenta anos, e a admissão na Maçonaria ocorre comumente na idade da aposentadoria, com novos membros sendo recrutados principalmente por meio de laços familiares e redes sociais.
Atualmente, o trabalho maçônico na GLSI é realizado em oito idiomas: hebraico, árabe, inglês, turco, russo, espanhol, francês e romeno. As lojas ainda servem como enclaves sociais para imigrantes judeus, permitindo que eles mantenham seus costumes culturais e, às vezes, rituais maçônicos de seus países de origem.
Relações Fraternais entre Judeus e Árabes
Diferente de outras partes do mundo, onde a Maçonaria tem uma presença histórica documentada, em Israel e no Oriente Médio, sua influência pública é limitada, frequentemente associada a teorias de conspiração sobre uma suposta aliança judaico-sionista-maçônica para controlar o mundo. No entanto, dentro das lojas maçônicas israelenses, especialmente na GLSI, as relações entre judeus e árabes têm se mostrado significativas.
Um dos aspectos mais notáveis da Maçonaria israelense é a prevalência de árabes em posições de liderança. Em 2010, Nadim Mansour, um árabe greco-ortodoxo, foi eleito Grão-Mestre da GLSI, e outros dois árabes palestinos também já ocuparam esse cargo: Yakob Nazee, em 1933, e Jamil Shalhoub, em 1981. Essa ascensão de árabes a posições de destaque dentro da organização é rara em outras esferas da sociedade israelense.
Maçonaria como Rede Social
Além de promover o diálogo fraterno, a
Maçonaria oferece oportunidades de redes sociais que podem facilitar a
mobilidade ocupacional, especialmente para cidadãos árabes que enfrentam
discriminação no mercado de trabalho israelense. Durante o trabalho de campo em
uma loja judaica, um jovem cristão árabe, Rafiq, foi convidado a se unir à loja
após estabelecer laços pessoais com outros membros. Esse tipo de interação
demonstra como a Maçonaria pode ajudar a superar barreiras sociais e culturais,
mesmo em um ambiente predominantemente judaico.
As relações entre judeus e árabes na
Maçonaria israelense são um exemplo único de como os laços fraternais podem
superar divisões sociais e políticas. Embora a Maçonaria em Israel enfrente
desafios semelhantes aos observados em outras partes do mundo, como o declínio
na adesão e a perda de apelo entre as classes mais altas, ela continua a
oferecer um espaço onde membros de diferentes origens podem se reunir em torno
de valores compartilhados de fraternidade, cidadania e paz.
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