Profano



 Da Redação

Em latim, o prefixo “ pro ” geralmente é traduzido como “longe”, “à frente” ou “para frente”. No caso do termo “ profano ”, formado a partir de “ fanum ”, que significa “templo”, ele se refere a “aquele que está fora do Templo”, designando assim os que não são maçons, confirmando uma abordagem de contraste com o caminho iniciado. O profano representa segurança e certeza, opostos à incerteza da iniciação.

Não que tange ao silêncio, o profano, ou “aquele que está fora do Templo”, marca sua oposição ao caminho iniciado por meio de um uso enfático e absoluto de palavras. A Maçonaria, sendo uma sociedade iniciática, é construída sobre a transmissão de seu tesouro simbólico através da Palavra. Porém, se ao maçom é permitido falar, ele não o faz indiscriminadamente. Seus meios de reconhecimento incluem “palavras, sinais e toques”, conforme especificado nos rituais, e não a mera comunicação sonora. Alguns desses elementos são confiáveis ​​para “aprender entrantes” ao final de sua cerimônia de iniciação.

Diante da prática ritual, que desempenha um papel essencial e fundador, o Aprendiz deve buscar compreender os símbolos que transmitem a mensagem iniciática, atribuindo-lhes um significado que faça sentido em sua jornada. De outra forma, o ritual permanecerá como gestos sem significado. A visão que se apresenta ao recém-chegado à Loja inclui uma diversidade de símbolos que decoram as paredes e os objetos, formando uma verdadeira floresta simbólica.

Hoje, nossa experiência compartilhada dificulta distinguir o que é sagrado, uma vez que não o carregamos conosco da mesma forma que as sociedades tradicionais. Segundo Gershom Scholem, o simbolismo moderno “não obrigação”, permanecendo como um assunto privado. A tolerância em nossas sociedades modernas permite liberdade de escolha em questões filosóficas e religiosas, mas também implica no enfraquecimento de uma definição comum de sagrado.

Neste contexto, consideraremos o “sagrado” como algo indescritível pela natureza, mas essencial para a estruturação social em questões fundamentais da humanidade. Ou seja, como aquilo que ajuda a moldar a sociedade. Geralmente, o termo se refere ao que está relacionado à prática religiosa e ao que conecta os seres humanos de maneira intangível, independentemente de uma definição moderna ou antiga, mantendo sempre uma profundidade que desafia a compreensão. Para o ser humano, o sagrado é uma garantia de que o espaço e o tempo são consistentes e finitos. Construir um “tempo sagrado” é tornar visível o intangível por meio do ritual, criando um mundo transparente e seguro. O sagrado, portanto, exige-se na organização das sociedades humanas, moldando comportamentos e estruturando a vida coletiva.

Ainda que a Maçonaria ofereça um caminho iniciado, sua peculiar liberdade absoluta de consciência pode gerar incompreensões entre seus membros. Uma delas é a ideia de que a Maçonaria se encerra no ritual, como se o ritual fosse um meio de separação entre o interior e o exterior, designando o “Sagrado” ao responder questões fundamentais com o uso adequado de ferramentas de construção. Esta visão “racional” permite considerar a permanência da lei da analogia na base da organização social, diferenciando o que está acima do que está abaixo, o que está dentro do que está fora. Para isso, é necessário separar, dividir e construir, em busca da Verdade, da “obrigação” e da egrégora.

Embora a egrégora muitas vezes assuma uma ressonância coletiva, um ritual maçônico não é mais do que um método de estabelecer um tempo sagrado onde certas ações se tornam possíveis, mas não se destina a criar uma ideologia uniforme. Os rituais dos Aprendizes, apesar de semelhantes, servem para considerar a qualidade maçônica dos membros, verificar a descrição e determinar o Tempo simbolicamente. Esses rituais promovem a criação de uma egrégora, para permitir que o grupo trabalhe em um objetivo comum, mas não ditam as ações e pensamentos de cada membro. A “Corrente de União”, em particular, é um símbolo esotérico que representa uma “forma-pensamento”, um campo de energia coletiva que se torna tão tangível quanto uma presença física.

O Silêncio é uma ferramenta fundamental para estruturar a egrégora, pois rege tanto o domínio material quanto o psíquico. A mesma ordem natural aplica-se a ambos. Como disse Spinoza, o que é sagrado para uns pode ser profano para outros, evidenciando que o sagrado não se limita ao significado religioso, mas pode ser visto como a “luz criada por Deus”, conforme recomendado por Maimônides em “O Guia dos Perplexos,” e refletindo a presença de Deus no mundo. O sagrado é uma ligação entre o divino e o mundano, um conceito imanente que permeia tudo, onde cada elemento se torna um símbolo.

Por fim, a Maçonaria considera o espaço ritual como um receptáculo de “tempo sagrado”, não um local consagrado em si. Um símbolo não é sagrado, mas se torna portador de significado quando compartilhado por um grupo, tornando-se uma representação consensual do sagrado e manifestando a busca coletiva por um significado mais profundo e universal.

 

Postar um comentário

0 Comentários