O Mestre Maçom e a Luta Contra a Vaidade



Por  Mario Vasconcelos

Muitas vezes esquecemos o caráter eminentemente "simbólico" da distinção entre diplomas e cometemos o grave erro de não discernir o que é a simbologia do diploma em relação a outros saberes e temas que deveriam ser debatidos fraternalmente entre todos os maçons, independentemente do seu diploma simbólico ou filosófico.

Devemos demonstrar muito zelo, tato e, sobretudo, humildade nas relações com nossos Irmãos em geral e, particularmente, com nossos Neófitos, que são os fundamentos de nosso futuro, herdeiros potenciais da Ordem maçônica e que, no futuro, serão Mestres, qualificados, instruídos, cultos, preparados e virtuosos, na medida em que tiverem bons exemplos a seguir.

Com certeza, nossa Fraternidade é uma escola para a vida e, em uma instituição focada no aperfeiçoamento moral, uma estrutura é necessária para que os mais experientes orientem o caminho dos mais jovens da Ordem. Esse é um ponto pacífico. Sem dúvida, a estrutura hierárquica das posições e dos diplomas "simbólicos" merece nosso mais profundo respeito e reverência, pois, em teoria, trazem consigo uma experiência e, em muitos casos, vasto conhecimento desenvolvido pela prática da arte real e, para os que gostam de leitura, com muitos estudos e pesquisas. Acontece que o volume de conhecimento está longe de se traduzir automaticamente em sabedoria, a verdadeira pedra filosofal que suaviza e enriquece o caminho do homem.

Insira milhões de dados em um supercomputador e coloque-o em situações que exijam compaixão, resiliência, intuição, tolerância ou interpretações de nossas normas que diferem da literalidade (sem entrar no mérito das imperfeições existentes em nossa legislação). Certamente, ficaríamos desapontados com o resultado. Alguns se opõem, apontando a aplicação de inteligência artificial, aprendizado de máquina e muitos outros campos da ciência de dados, que emergem com uma força colossal nos dias de hoje.

Não duvidamos de que esse dia chegará. Mas creio que não viverei o suficiente para ver a ciência substituir a sensibilidade humana por algoritmos digitais inteligentes.

Estamos falando de seres humanos, da relação entre um Mestre Experiente e um Aprendiz, que, em geral, fica atônito com o oceano de informações disponíveis diante dele. Nossa Ordem é extremamente sábia e perspicaz ao testar nossa vaidade com títulos, posições, jóias, vestimentas e diplomas. Sábio é também aquele Irmão que resiste a essas tentações e se cuida para jamais esquecer a brancura imaculada e a beleza simples do nosso primeiro avental.

Gustave Flaubert, ao ler a hagiografia de Santo Antão, na obra "As Tentações de Santo Antão", destacou que Antão era um homem excepcional, praticamente não humano, que resistia a tudo. No entanto, ele utiliza a história de Antão para enfatizar que a vaidade é um dos pecados mais graves e comuns cometidos pelo homem.

Ele relata que o demônio teria desistido de atormentar Santo Antão, pois, após décadas de tentações infatigáveis apresentadas ao Santo, já com 105 anos, ele deu-lhe as costas e disse: "Você venceu! Pela primeira vez na história, alguém foi mais forte do que eu", e deixou a caverna. Antão caiu de joelhos e agradeceu a Deus com uma simples oração: "Muito obrigado, agora me tornei um santo".

Era tudo o que o demônio precisava ouvir. Ele abriu um largo sorriso e voltou imediatamente. Antão havia resistido a tudo, exceto à vaidade de ser um santo.

Quantos de nós não conhecemos a passagem bíblica provocadora e reflexiva "Vaidade das vaidades! Tudo é vaidade" (Eclesiastes 1:2). Já se perguntou, queridos Irmãos, por que essa passagem integra o universo do conhecimento simbólico de nossa Ordem?

Tentemos interpretar essas mensagens. Elas trazem ensinamentos de nossos antepassados. Eles gritam, do silêncio de suas sepulturas:

"Olhem, meus irmãos!!! Atenção, pois o perigo de uma queda moral está em toda parte!!!”

Na formação do Aprendiz, do futuro Companheiro, do futuro Mestre, do futuro Venerável, etc., devemos ter a humildade de entender que a construção do conhecimento se dá horizontalmente, lado a lado, olho no olho, e não com a superioridade de quem se dirige a um Irmão de "grau simbolicamente" inferior como se fosse um subordinado.

Infelizmente, os Irmãos falam de hierarquia (um fator extremamente necessário em nossa Ordem), mas ignoram ou negligenciam o momento preciso em que ela é necessária.

É nesses momentos que a verdadeira sabedoria está presente e mostra seus doces frutos. O modelo de "transmissão" vertical e unidirecional professor-aluno já deu provas inequívocas e desastrosas de sua obsolescência.

O verdadeiro educador cresce com seu aluno, pois o processo de todo aprendizado é uma troca de conhecimentos enriquecedora. Uma verdadeira "construção" onde o Mestre aperta os laços com seu Aprendiz, demonstrando a humildade necessária aos grandes homens e o ajudando a consolidar as bases do Opus Magnum (Grande Obra).

Exceto, obviamente, para assuntos protegidos pelo segredo dos graus simbólicos, a generosidade no compartilhamento de informações deve ser constante.

Como Mestre, sinto a necessidade gritante de compartilhar o pouco conhecimento que julgo útil ao meu Irmão. Não importa se esse conhecimento foi obtido ao custo de muitas horas de pesquisa, estudo, leitura e investigação.

Se não conseguimos compartilhar conhecimentos úteis com nossos Irmãos, se não conseguimos melhorar um pouco sua vida ou incentivá-los a meditar e refletir, de que me serviram tantas leituras e tantas informações acumuladas?

Nossos neófitos, meus Irmãos, felizmente, têm sido acolhidos em nossos quadros cada vez mais preparados. Iniciados com experiência e formação profana muitas vezes superior à de seu Iniciador! Espíritos que não se conformam mais com respostas dogmáticas ou com aquelas do tipo "Você saberá no devido tempo!", muitas vezes usadas como subterfúgio para a ignorância dos questionados.

É muito melhor e mais digno dizer: "Meu Irmão, eu não sei, mas irei pesquisar e me esforçar para encontrar a resposta."

Sejamos mais humildes, meus Irmãos! Falo de verdadeira humildade, pois a falsa humildade é a mais abjeta das vaidades. Aprendamos a usar o Nível sobre nossas cabeças! Lembremo-nos do que somos feitos! Ossos! Quebrados e destinados ao pó da igualdade!

Assim, contribuiremos verdadeiramente para que nossos aprendizes tenham exemplos de virtudes baseados na maior delas: uma humildade autêntica e sem pretensões! Base sólida para a melhoria do homem e da humanidade.

Concluindo e agradecendo aos Irmãos pela atenção fraterna, gostaria de deixar uma frase atribuída ao Mestre Nazareno, que, com respeito e deferência a todas as orientações religiosas, traz ao nosso coração e mente o calor de uma reflexão serena: 

"Bem-aventurados os pobres de espírito, pois deles é o reino dos céus" (Jesus, o Cristo). 

  


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