Da Redação
Por trás de cada ritual e lenda da
Maçonaria, há um propósito profundo que transcende a literalidade e aponta para
o simbólico. Os "Princípios Fundamentais da Maçonaria", adotados por
inúmeras Grandes Lojas ao longo da história, destacam o uso de graus
simbólicos, cada um contendo uma lenda significativa. Dentre essas, a lenda de
Hiram Abiff é central, encapsulando a essência do aprendizado maçônico por meio
de uma tragédia no templo.
O Propósito do Simbólico e
do Trágico
A escolha de uma tragédia como elemento
central dos graus simbólicos não é arbitrária. Ela reflete duas características
marcantes da Maçonaria: (1) os rituais não buscam transmitir eventos
históricos, mas comunicar verdades atemporais; e (2) lidam diretamente com os
aspectos mais sombrios da experiência humana.
Essa abordagem pode parecer desafiadora
para os homens modernos, acostumados a buscar fatos concretos. No entanto, os
rituais maçônicos propõem uma perspectiva diferente: o mito não é uma
falsidade, mas um veículo para verdades universais que se expressam por meio de
narrativas simbólicas.
Ritual e Mito: Estruturando
a Condição Humana
Os rituais são ferramentas que conectam
o indivíduo às gerações passadas e futuras, imprimindo nele os valores da
sociedade em que vive. Eles transcendem o tempo, estruturando civilizações e
reconciliando conflitos. Na Maçonaria, os rituais e mitos sustentam o Rito,
transformando o aprendiz em protagonista de uma jornada simbólica.
A lenda de Hiram Abiff, figura central
do terceiro grau, ilustra esse processo. A história não busca retratar eventos
históricos, mas servir como um espelho para as verdades universais sobre a
mortalidade e o autossacrifício.
A Lenda de Hiram: Piedade
e Temor
A narrativa de Hiram Abiff é uma síntese
das emoções presentes nas tragédias gregas, especialmente a piedade e o temor.
A piedade une o iniciado ao sofrimento humano, enquanto o temor o conecta à
causa oculta desse sofrimento: a mortalidade.
Essa lenda permite que o iniciado
reconheça a inevitabilidade da morte, mas também seu próprio potencial heroico
ao superar o medo e abraçar uma transformação espiritual. A morte simbólica de
Hiram representa a "morte-em-vida" do velho eu do homem, que deve ser
abandonado para que ele alcance um novo estado de consciência e autodomínio.
A Ressurreição no Contexto
Maçônico
Ao contrário da ressurreição cristã, a
ressurreição de Hiram não é literal. Ela simboliza um renascimento espiritual,
em que o iniciado emerge transformado, pronto para enfrentar a vida com uma
nova perspectiva. Ele não abandona sua existência terrena, mas a reinventa.
Esse renascimento é um chamado à
regeneração moral e espiritual, marcando o início de um novo capítulo na
jornada do iniciado. É sobre o túmulo de sua natureza inferior que ele deve
caminhar, para atingir as alturas da dignidade e da sabedoria.
O Trabalho de Uma Vida
Na Maçonaria, cada iniciado começa como
um homem comum, envolto em ignorância e inconsciência. Através da prática
ritualística e do engajamento com os símbolos e mitos, ele tem a oportunidade
de se transformar em um "homem perfeito".
Essa jornada não é um evento único, mas
o trabalho de uma vida inteira. É um esforço constante para alcançar a
plenitude moral e espiritual, representada simbolicamente na ressurreição de
Hiram.
Esse é o verdadeiro propósito da
Maçonaria: oferecer uma estrutura que permita aos seus membros transformar suas
vidas, superar seus medos e atingir seu potencial mais elevado. É um labor
contínuo, marcado pela busca incessante de autoconhecimento e aperfeiçoamento.
Conclusão
O mito de Hiram Abiff encapsula o propósito
profundo da Maçonaria: guiar os iniciados por uma jornada de transformação,
conectando-os às verdades universais da condição humana. Ao abraçar a tragédia
e o simbólico, a Maçonaria convida seus membros a transcender a mortalidade,
descobrir o herói dentro de si e viver de acordo com os princípios mais
elevados.
Essa é a essência do trabalho maçônico e o significado do mito de Hiram: a busca incessante pela luz, pela sabedoria e pela perfeição interior.
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