William Hogarth (1697–1764) viveu e produziu em um período de transformação cultural e social na Inglaterra, momento em que a Maçonaria moderna emergia como uma força organizada e influente. Reconhecido por suas sátiras sociais e representações incisivas da vida urbana londrina, Hogarth também deixou uma marca significativa na percepção da Maçonaria, tanto como crítico quanto como membro ativo.
O Contexto Histórico da Maçonaria
e Hogarth
A formação da Primeira Grande Loja da
Inglaterra em 1717 marcou o início de uma nova era para a Maçonaria,
transformando-a de uma confraria de pedreiros operativos em uma sociedade
especulativa, repleta de simbolismo e valores iluministas. Nesse cenário,
Hogarth, que se tornou maçom em 1725, testemunhou e participou do florescimento
dessa fraternidade, muitas vezes refletindo sobre suas contradições e ideais em
sua arte.
A publicação do Livro das
Constituições por James Anderson, em 1723, estabeleceu a base filosófica da
Maçonaria moderna, mas também gerou divisões internas. A eleição de Filipe,
Duque de Wharton, como Grão-Mestre em 1724 foi um evento polêmico que inspirou
a criação dos Gormagons, uma sociedade satírica formada por maçons
descontentes. Hogarth capturou esse ambiente de tensão e ironia em sua obra Mistério
da Maçonaria trazido à luz pelos Gormagons, demonstrando seu olhar afiado
para os conflitos da época.
A Sátira de Hogarth e os
Gormagons
A capacidade de Hogarth de usar o humor
e a sátira para criticar tanto a sociedade quanto a Maçonaria é evidente em
suas representações dos Gormagons. Sua obra ironiza os simbolismos maçônicos e
figuras proeminentes, como Wharton e Desaguliers, expondo a pompa e as pretensões
da Maçonaria de maneira mordaz. Hogarth, no entanto, não se limitou à crítica;
sua abordagem também ajudava a humanizar a Maçonaria, mostrando-a como uma
instituição composta por homens com virtudes e falhas.
A Influência de Sir James
Thornhill
O casamento de Hogarth com Jane
Thornhill, filha do renomado pintor e maçom Sir James Thornhill, marcou uma
transição importante em sua vida e carreira. Thornhill, mestre de uma loja
maçônica e figura influente no meio artístico, facilitou a entrada de Hogarth
na Maçonaria. Esse relacionamento não apenas ampliou as conexões sociais de
Hogarth, mas também o introduziu a uma rede de influências que moldaria sua
visão crítica sobre a fraternidade.
Arte como Crítica e Reflexão
Social
Hogarth é amplamente conhecido por obras
como The Rake’s Progress e Marriage A-la-Mode, que exploram a
moralidade, os excessos e as contradições da sociedade britânica. Essas
gravuras também tocam em temas ressonantes com a filosofia maçônica, como o
progresso moral e a introspecção. Em As Quatro Horas do Dia, por
exemplo, Hogarth inclui uma cena de um maçom bêbado, possivelmente criticando a
hipocrisia ou o excesso nas práticas sociais, sem deixar de reconhecer os
aspectos humanos da fraternidade.
Compromisso Social e Filantropia
Além de sua produção artística, Hogarth
também se destacou como um reformador social. Ele desempenhou um papel crucial
na aprovação da "Lei Hogarth" em 1735, garantindo direitos autorais
para artistas e promovendo o acesso democrático à arte, um valor alinhado aos
princípios maçônicos de igualdade e aperfeiçoamento. Sua contribuição para o
Hospital Foundling, tanto como artista quanto como incentivador, reflete a
dimensão filantrópica de sua personalidade, paralela ao compromisso maçônico
com a caridade.
Legado Maçônico e Artístico de
Hogarth
Através de sua arte e envolvimento com a
Maçonaria, Hogarth ajudou a moldar a imagem pública da fraternidade. Suas
gravuras fortaleceram a coesão maçônica ao criar uma identidade visual que unia
seus membros, ao mesmo tempo que promovia a introspecção e a crítica
construtiva. Hogarth encarnava os valores maçônicos de liberdade intelectual e
moral, mas nunca hesitou em desafiar as instituições, incluindo a Maçonaria,
quando julgava necessário.
William Hogarth permanece como uma
figura emblemática do século XVIII, equilibrando seu papel como artista e maçom
com uma abordagem crítica e independente. Suas obras não apenas documentam os
costumes e excessos da sociedade britânica, mas também oferecem um olhar
profundo sobre os ideais e as contradições da Maçonaria em sua formação
moderna. Ao fazer isso, Hogarth legou um modelo de engajamento artístico e
social que transcende seu tempo, mostrando como a arte pode servir como um
espelho e um catalisador para a melhoria pessoal e coletiva.
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