por: Renan Williams Soglia Moore (*)
Fonte: Square Magazine
A Maçonaria é, por sua própria natureza, um
sistema de moralidade velado em alegorias e ilustrado por símbolos.
Este conceito, profundamente enraizado na
história da fraternidade, torna-se especialmente relevante no contexto da
Igreja de São Francisco de Assis, localizada em São João del-Rei, no estado de
Minas Gerais, Brasil.
Construída entre 1774 e 1809, esta igreja foi
projetada e decorada por Antônio Francisco Lisboa , mais conhecido como Mestre
Aleijadinho, sob a supervisão de Francisco de Lima Cerqueira e Francisco de
Lima e Silva.
O caráter simbólico e esotérico de sua obra
convida à reflexão sobre a possível ligação entre Aleijadinho e a Maçonaria,
tema que tem gerado debates e especulações entre historiadores e estudiosos.
A Iniciação de Aleijadinho na Maçonaria: Um
Enigma Não Resolvido
Ao longo da história, houve muito debate sobre
a potencial iniciação de Aleijadinho na Maçonaria, embora não haja registros
históricos ou documentos oficiais que confirmem isso.
A Maçonaria, como a conhecemos hoje no Brasil,
começou a se organizar formalmente em 1822 com a fundação do Grande Oriente
Brasileiro, que mais tarde se unificou como Grande Oriente do Brasil (GOB).
No entanto, os ideais maçônicos circulavam no
Brasil desde o final do século XVIII, em meio ao movimento iluminista, o que
influenciou o discurso político e cultural da época.
É possível que, embora a Maçonaria ainda não
estivesse totalmente institucionalizada, suas ideias já estivessem
influenciando a sociedade brasileira, como evidenciado pela primeira loja
maçônica registrada no Brasil em 1797, no estado da Bahia, e seu provável
envolvimento na Inconfidência Mineira.
Simbolismo Maçônico na Igreja de São
Francisco de Assis
A Igreja de São Francisco de Assis, com sua
arquitetura impressionante e decoração intrincada, apresenta vários elementos
que, quando examinados pela lente da Maçonaria, sugerem uma possível
familiaridade do Aleijadinho com os rituais e símbolos da fraternidade.
A Maçonaria, com seu foco na liberdade de
pensamento e expressão, desafia convenções e hierarquias estabelecidas, e isso
se reflete nas obras de Aleijadinho.
Suas criações parecem carregar uma mensagem
simbólica que aponta para os princípios da irmandade, como se o próprio Mestre
tivesse escolhido deixar um legado visual que ressoasse com os ideais maçônicos
de sua época.
Os símbolos maçônicos são evidentes no próprio
layout da igreja. No interior, em dois altares laterais, localizados em
posições geográficas exatas correspondentes a um templo do Rito Escocês Antigo
e Aceito (A∴A∴S∴R∴),
o Sol e a Lua são meticulosamente esculpidos, símbolos fundamentais para os maçons.
Além disso, os vitrais da igreja criam uma
conexão simbólica com o nascer do sol, ecoando a conhecida expressão maçônica:
“Assim como o Sol nasce no Leste para fazer seu
curso e começar o dia…”.
O arranjo preciso desses elementos cria uma
atmosfera que faz referência direta ao ritual maçônico, principalmente em
momentos como o amanhecer, quando o Sol passa por uma das janelas, criando uma
cena visualmente marcante e simbolicamente rica.
Outro elemento de destaque na Igreja de São
Francisco de Assis é a escultura de São João Batista, que aponta para cima,
como se chamasse a atenção dos fiéis – ou, como os maçons podem interpretar, de
seus irmãos.
A presença de São João Batista, símbolo de
renovação e iniciação, parece reforçar a ideia de que a obra de Aleijadinho
carrega uma mensagem mais profunda, talvez um convite à reflexão sobre os
mistérios da vida e da espiritualidade.
Influência maçônica na arquitetura
externa da Igreja
A Maçonaria não se limita ao interior da
igreja, mas também se reflete em sua arquitetura externa.
As torres do campanário, juntamente com os
batentes da porta principal e as colunas do portão, apresentam uma semelhança
impressionante com as colunas de um templo maçônico, representando os pilares
fundamentais da fraternidade.
Além disso, a cruz no topo da igreja é uma Cruz
de Lorena, um símbolo associado às Cruzadas e aos Cavaleiros Templários, cujos
princípios e mistérios são frequentemente ligados à Maçonaria.
Este símbolo, juntamente com a arquitetura da
igreja, sugere uma possível conexão com o esoterismo medieval e os rituais
iniciáticos que moldaram a história da irmandade.
Curiosamente, do outro lado da rua, a poucos
metros da igreja, ergue-se a Associação de Artesãos de São João del-Rei, local
que poderá, em tempos passados, ter sido uma loja maçónica ou uma guilda de
maçons operativos.
Embora não haja evidências conclusivas, a
possibilidade de Aleijadinho ter participado de reuniões maçônicas neste local
não pode ser descartada, dado o contexto histórico e a presença de elementos
maçônicos em sua obra.
Conclusão: O Legado do Aleijadinho e da
Maçonaria
Embora as evidências documentais sobre a
iniciação de Aleijadinho na Maçonaria sejam escassas, as evidências
circunstanciais não podem ser ignoradas.
A simbiose entre a arte de Aleijadinho e os
símbolos maçônicos é inegável e revela uma profunda ligação do Mestre com os
ideais da irmandade.
Para um historiador maçônico, esses sinais
podem não ser suficientes para uma confirmação definitiva, mas para um
historiador maçom, eles carregam um peso simbólico significativo.
O legado de Aleijadinho, com suas obras-primas
na Igreja de São Francisco de Assis, continua sendo um testemunho da fusão de
arte, espiritualidade e princípios maçônicos.
A cidade de São João del-Rei, com sua rica
história e sua inestimável igreja, convida todos, especialmente os maçons, a
explorar os mistérios ocultos em sua arquitetura e simbolismo.
Assim, a figura de Aleijadinho se reafirma não
apenas como um mestre da arte barroca, mas também como um homem possivelmente
imerso nas influências da Maçonaria, cujos ensinamentos e símbolos estão
imortalizados em sua obra.
A verdadeira iniciação de Aleijadinho, se é que
ocorreu, permanece um mistério, mas sua obra continua falando por si,
desafiando o olhar atento daqueles que buscam entender as profundezas da
Maçonaria e do esoterismo.
Para os maçons, especialmente os maçons brasileiros, a Igreja de São Francisco de Assis em São João del-Rei continua sendo um local de devoção, reflexão e talvez de novas revelações sobre o legado do Mestre Aleijadinho.
(*) Renan Williams Soglia Moore M ∴ M ∴ de A ∴ R ∴ L ∴ S ∴ Fronteira Paulista n.º 448 (Bragança Paulista – SP), sob a égide da Grande Loja Maçônica do Estado de São Paulo – GLESP. Bacharel em História e Especialista em História da Arte e Museologia
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