(*) Por João Alexandre Paschoalin Filho, Ph.D, 33
As raízes da Cabalá se entrelaçam
profundamente com a história e a espiritualidade do povo judeu. Para
compreendê-la, é essencial mergulhar nas tradições místicas que moldaram o
pensamento religioso ao longo dos séculos.
A Cabalá não é apenas um conjunto de práticas
esotéricas, mas um vasto sistema de conhecimento que reflete a busca incessante
pela verdade e pela conexão com o divino. Desde os tempos antigos, o misticismo
judaico revelou-se como uma fonte rica de sabedoria. A Cabalá, em suas origens,
apresenta-se como uma resposta a perguntas fundamentais sobre a existência, a
natureza de Deus e o papel do ser humano no universo.
Tradições místicas como o Merkavah e
o Hekhalot, que surgiram nas primeiras comunidades judaicas,
serviram de alicerces para o desenvolvimento da Cabalá. Essas práticas
envolviam experiências de ascensão espiritual e visões místicas, nas quais os
praticantes buscavam se conectar com a realidade transcendente.
O contexto histórico que moldou a Cabalá é
igualmente fascinante. O impacto do pensamento grego, especialmente da
filosofia platônica, trouxe novas dimensões ao misticismo judaico. A ideia de
um mundo ideal, onde a verdade e a beleza coexistem, ressoou profundamente com
os pensadores cabalísticos. Além disso, a influência do cristianismo, que
emergiu como uma força significativa na história europeia, também deixou sua
marca na Cabalá. Pensadores cristãos da Renascença, como Giovanni Pico della
Mirandola, voltaram-se para a Cabalá em busca de uma compreensão mais profunda
das verdades espirituais, criando um diálogo entre as tradições que perdura até
os dias de hoje.
A Cabalá, em suas primeiras manifestações, era
uma prática restrita a círculos íntimos de estudiosos e místicos. Contudo, ao
longo dos séculos, sua sabedoria começou a se espalhar. Durante a Idade Média,
a Cabalá ganhou destaque com o surgimento de textos fundamentais, como o Zohar,
que se tornou o coração do pensamento cabalístico. Esse texto, atribuído ao
rabino Shimon bar Yochai, é uma obra monumental que explora a natureza de Deus,
a criação e a relação entre o ser humano e o divino.
O Zohar não apenas consolidou a Cabalá como
uma tradição espiritual, mas também a apresentou como uma via de acesso a um
entendimento profundo da realidade.
À medida que a Cabalá se desenvolvia, surgiram
diferentes escolas de pensamento. A Cabalá Luriânica, por exemplo, emergiu no
século XVI sob a liderança de Isaac Luria, trazendo novas interpretações e
práticas que enriqueceram a tradição. Luria enfatizou a ideia de Tikkun,
ou reparação, sugerindo que a criação não era um ato perfeito, mas um processo
contínuo de restauração e harmonização. Essa visão transformou não apenas a
prática cabalística, mas também a espiritualidade judaica como um todo,
promovendo uma compreensão mais dinâmica da relação entre o humano e o divino.
Neste contexto histórico vibrante, a Cabalá
começou a se estabelecer como uma força vital na espiritualidade ocidental,
atraindo não apenas judeus, mas também pensadores e esoteristas de outras
tradições. O retorno do interesse pela Cabalá durante o Renascimento é um
testemunho de sua resiliência e relevância. A busca por conhecimento e pela
conexão com o divino transcendeu fronteiras, criando um espaço onde a Cabalá
pôde florescer e se adaptar às necessidades espirituais de uma nova era.
As origens da Cabalá refletem um rico
entrelaçamento de tradições e influências que moldaram não apenas o pensamento
judaico, mas também contribuíram para o desenvolvimento de uma espiritualidade
universal. A jornada da Cabalá, desde suas raízes até sua expressão
contemporânea, é uma tapeçaria de sabedoria que continua a inspirar e guiar
aqueles que buscam compreender as verdades ocultas do universo.
O desenvolvimento da Cabalá durante a Idade
Média foi um período crucial que moldou não apenas a espiritualidade judaica,
mas também deixou uma marca indelével no pensamento ocidental. Um dos marcos
mais significativos desse período é o Zohar, uma obra monumental que se tornou
o núcleo da tradição cabalística. Atribuído ao rabino Shimon bar Yochai, o
Zohar não é apenas um texto religioso; é uma obra poética e filosófica que
oferece uma visão profunda sobre a natureza de Deus, o universo e a alma
humana. Através de suas páginas, os leitores são convidados a explorar os
mistérios da criação e a entender a relação entre o divino e o mundano.
O Zohar introduziu conceitos fundamentais que
se tornaram pilares da Cabalá, como a ideia de Ein Sof, o
Infinito, que representa a essência de Deus além da compreensão humana. Essa
noção de um Deus simultaneamente transcendente e imanente trouxe uma nova
perspectiva sobre a espiritualidade, permitindo que os praticantes percebessem
a divindade em todos os aspectos da vida cotidiana. Por meio da leitura e
meditação sobre o Zohar, os cabalistas buscavam não apenas conhecimento, mas
também uma conexão íntima com o divino, um anseio que ressoava profundamente em
suas almas.
À medida que a Cabalá se desenvolvia, começou
a interagir com outras correntes de pensamento, especialmente o misticismo
cristão. Durante a Renascença, pensadores cristãos, atraídos pela profundidade
e beleza dos ensinamentos cabalísticos, incorporaram ideias da Cabalá em suas
próprias filosofias. Essa troca de ideias foi um fenômeno fascinante, no qual a
Cabalá não apenas influenciou o cristianismo, mas também foi reinterpretada à
luz de novas crenças. Essa sinergia resultou em um rico diálogo espiritual que
desafiou as fronteiras entre tradições religiosas, promovendo uma busca comum
pela verdade.
Movimentos cabalísticos também emergiram
durante esse período, cada um trazendo novas interpretações e práticas. A
Cabalá Luriânica, por exemplo, surgiu com o rabino Isaac Luria, que introduziu
conceitos inovadores sobre a criação e a queda da alma. Sua visão do mundo como
um campo de batalha entre forças divinas e forças do mal ofereceu uma nova
compreensão do sofrimento humano e da redenção. Luria enfatizou a importância
da prática espiritual e da meditação, incentivando os seguidores a se tornarem
agentes de transformação, tanto em suas próprias vidas quanto no mundo ao seu
redor.
Esses movimentos não apenas enriqueceram a
prática cabalística, mas também estabeleceram uma base sólida para o que viria
a ser a Cabalá moderna. A busca por um entendimento mais profundo e a prática
da espiritualidade tornaram-se características marcantes da Cabalá, atraindo
tanto judeus quanto não judeus em sua busca por significado e propósito. A
Idade Média foi, portanto, um período de intensa criatividade espiritual, no
qual a Cabalá floresceu e se expandiu, preparando o terreno para futuras interações
com outras tradições, incluindo a Maçonaria.
A redescoberta da Cabalá durante o
Renascimento foi um momento de efervescência intelectual e espiritual, marcado
pela curiosidade e pela busca por conhecimento. Filósofos, místicos e
esoteristas começaram a explorar as profundezas da Cabalá, atraídos por sua
rica simbologia e pela promessa de revelações ocultas. Essa redescoberta não se
limitou ao âmbito judaico; ao contrário, a Cabalá começou a transitar entre
diferentes culturas e tradições, influenciando pensadores de diversas origens.
A intersecção entre a Cabalá e a alquimia
destacou-se como uma das manifestações mais intrigantes desse período. Os
alquimistas, em sua busca pela transmutação de metais e pela descoberta do
elixir da vida, encontraram na Cabalá um conjunto de símbolos e conceitos
aplicáveis às suas práticas. A ideia de transformação, central na alquimia,
ressoava profundamente com os ensinamentos cabalísticos sobre elevação
espiritual e busca pela verdade. Assim, os símbolos cabalísticos foram
incorporados em textos alquímicos, criando um diálogo fascinante entre essas
duas tradições.
Com o passar do tempo, a influência da Cabalá
começou a se infiltrar na Maçonaria, uma das instituições mais emblemáticas da
modernidade. Os maçons, em sua busca por conhecimento e iluminação, encontraram
na Cabalá uma rica fonte de ensinamentos que complementavam e enriqueciam suas
práticas. A introdução de conceitos cabalísticos, como a Árvore da Vida e as
Sephiroth, trouxe uma nova dimensão à simbologia maçônica, permitindo que os
maçons explorassem aspectos mais profundos de sua espiritualidade e de sua
busca por autoconhecimento.
A relação entre a Cabalá e a Maçonaria não se
limita à mera influência simbólica; abrange também aspectos éticos e
filosóficos. Ambos os sistemas enfatizam a importância da fraternidade, da
busca pela verdade e do desenvolvimento pessoal. Essa conexão torna-se ainda
mais evidente quando se considera que muitos dos primeiros maçons eram
influenciados por ideias esotéricas, incluindo a Cabalá. Assim, a Maçonaria
estabeleceu-se como um espaço onde os ensinamentos cabalísticos poderiam ser
explorados e aplicados, criando um ambiente propício ao crescimento espiritual.
Neste contexto, a difusão da Cabalá durante o
Renascimento e sua subsequente influência sobre a Maçonaria representam um
poderoso exemplo de como tradições espirituais podem se entrelaçar e enriquecer
mutuamente. A busca por conhecimento e a vontade de explorar os mistérios do
universo são características que permeiam ambas as tradições, criando um legado
que continua a inspirar aqueles que buscam compreender as verdades ocultas que
moldam nossa existência.
Assim, ao avançarmos na exploração da Cabalá e
da Maçonaria, somos convidados a refletir sobre como essas tradições podem nos
guiar em nossa própria jornada de autodescoberta e transformação. A sabedoria
oculta que emana de suas intersecções não é apenas um testemunho de sua
relevância histórica, mas também uma luz que pode iluminar nosso caminho no
presente.
A adaptação da Cabalá para o mundo moderno é
um fenômeno fascinante que reflete não apenas a resiliência dessa tradição, mas
também sua capacidade de se reinventar diante das mudanças sociais e culturais.
Hoje, a Cabalá apresenta-se sob novas luzes, atraindo pessoas de diversas
origens e crenças que buscam não apenas um entendimento espiritual, mas também
uma aplicação prática de seus ensinamentos na vida cotidiana.
Nos últimos anos, o interesse pela Cabalá
explodiu, especialmente dentro do movimento da Nova Era. Essa nova abordagem
busca integrar conceitos cabalísticos com práticas contemporâneas, como
meditação, autoconhecimento e desenvolvimento pessoal. A Cabalá, que antes era
vista como uma tradição restrita a círculos judaicos, agora se tornou um
recurso acessível para aqueles que desejam explorar a espiritualidade de uma
maneira mais ampla. Essa democratização do conhecimento cabalístico, no
entanto, traz consigo desafios significativos.
Um dos principais desafios enfrentados pela
Cabalá moderna é a questão da apropriação cultural. À medida que seus
ensinamentos se espalham, muitos se perguntam: até que ponto é respeitoso e
apropriado que pessoas fora da tradição judaica se apropriem de práticas
cabalísticas? Essa discussão é vital, pois envolve a preservação da essência da
Cabalá e a necessidade de um entendimento profundo de suas raízes. É essencial
que aqueles que se interessam pela Cabalá o façam com um senso de respeito e
responsabilidade, reconhecendo a profundidade e a complexidade de sua história.
Além disso, a popularização da Cabalá também
trouxe à tona a questão da superficialidade. Em um mundo onde tudo parece estar
ao alcance de um clique, há o risco de que os ensinamentos cabalísticos sejam
reduzidos a meras técnicas de autoajuda, perdendo a profundidade espiritual que
os caracteriza. Portanto, é fundamental que os praticantes se comprometam a
estudar e entender a Cabalá de maneira séria e comprometida, buscando não
apenas o conhecimento, mas também a transformação pessoal que ela pode proporcionar.
Em suma, a Cabalá moderna representa uma
intersecção entre o antigo e o novo, um espaço onde a sabedoria ancestral se
encontra com as necessidades contemporâneas. É um chamado para a introspecção,
para a busca de um significado mais profundo em nossas vidas e para o
reconhecimento de que, independentemente de onde viemos, todos estamos em uma
jornada de autodescoberta e transformação.
A prática da Cabalá é uma jornada rica e
multifacetada que se desdobra através de métodos e técnicas que visam
aprofundar a conexão do praticante com a sabedoria oculta. Esses métodos não
são apenas ferramentas; são portas de entrada para um universo de autoconhecimento
e transformação espiritual.
Um dos métodos mais significativos na prática
cabalística é a meditação. A meditação cabalística não se limita a esvaziar a
mente; é uma prática de concentração que busca a união com o divino. Ao focar
na Árvore da Vida, por exemplo, o praticante é convidado a contemplar cada um
dos Sephiroth, permitindo que a energia e as qualidades de cada emanação
permeiem sua consciência. Essa prática pode ser realizada em um espaço
tranquilo, onde a pessoa se sinta à vontade para se conectar com sua essência
mais profunda. A meditação não apenas acalma a mente, mas também proporciona
insights valiosos sobre a vida e as relações do praticante.
A visualização é outra técnica poderosa na
prática da Cabalá. Ao visualizar os símbolos cabalísticos, como a Árvore da
Vida ou o Nome Divino, o praticante ativa uma conexão mais profunda com os
ensinamentos que esses símbolos representam. A visualização pode ser combinada
com a meditação, criando uma experiência rica e transformadora. Por exemplo, ao
visualizar a luz emanando de cada Sephiroth, o praticante pode sentir uma
sensação de purificação e renovação, permitindo que a energia divina flua
através de seu ser.
O estudo dos textos sagrados é um pilar
fundamental da prática cabalística. Textos como o Zohar e o Sefer Yetzirah
oferecem uma riqueza de ensinamentos que podem ser explorados em profundidade.
O estudo não é apenas uma atividade intelectual; é uma experiência espiritual
que envolve reflexão e aplicação dos ensinamentos na vida cotidiana. Ao se
debruçar sobre essas obras, o praticante é desafiado a questionar suas crenças
e a buscar uma compreensão mais profunda da realidade. A prática de ler e
meditar sobre os textos sagrados pode ser enriquecedora, pois cada leitura
revela novas camadas de significado.
Para iniciar essas práticas, é importante
criar um ambiente propício. Um espaço dedicado à meditação e ao estudo, onde o
praticante se sinta seguro e inspirado, pode fazer toda a diferença. Isso pode
incluir a utilização de velas, incenso e objetos simbólicos que ressoem com a
jornada pessoal. Além disso, estabelecer uma rotina diária ou semanal para a
prática pode ajudar a cultivar a disciplina necessária para o crescimento
espiritual.
Os ensinamentos da Cabalá não são apenas
teóricos; eles se manifestam na vida prática do indivíduo. Incorporar essas
práticas ao cotidiano é essencial para vivenciar a sabedoria cabalística. Isso
pode ser feito através de momentos de reflexão ao longo do dia, onde o
praticante se permite pausar e contemplar suas ações e intenções. A prática da
gratidão, por exemplo, é uma forma de reconhecer a presença divina em cada
momento, ajudando a alinhar a vida do praticante com os princípios
cabalísticos.
A Cabalá oferece um caminho profundo e
transformador, onde cada método é uma oportunidade de crescimento e
autoconhecimento. Ao se abrir para essas experiências, o praticante não apenas
se conecta com a sabedoria ancestral, mas também descobre um novo sentido de
propósito e significado em sua vida. A prática da Cabalá é, em última análise,
um convite à transformação pessoal, onde cada passo dado é um passo em direção
à luz e à verdade.
Os rituais e cerimônias cabalísticas
constituem um aspecto fundamental da prática da Cabalá, funcionando como
verdadeiros catalisadores de transformação pessoal e espiritual. Através deles,
os praticantes são convidados a mergulhar em experiências que não apenas
celebram a conexão com o divino, mas também promovem um profundo
autoconhecimento e reflexão.
Um dos rituais mais significativos na tradição
cabalística é o Shabat, que representa um momento sagrado de
descanso e renovação espiritual. Durante o Shabat, os
praticantes se afastam das atividades mundanas e se dedicam à contemplação e à
conexão com a espiritualidade. Este dia é marcado por orações, refeições
especiais e a presença de familiares e amigos, criando um ambiente de unidade e
amor. A prática do Shabat não apenas reforça os laços sociais, mas também serve
como um lembrete da importância de desacelerar e se reconectar com o propósito
maior da vida.
Além do Shabat, as festividades
cabalísticas, como Rosh Hashaná e Yom Kipur, são momentos de
introspecção e renovação. Rosh Hashaná, o Ano Novo Judaico, é
uma oportunidade para refletir sobre o ano que passou e estabelecer intenções
para o futuro. Durante essa celebração, os praticantes costumam realizar
rituais simbólicos, como o toque do shofar, que convida à reflexão e
à mudança. Yom Kipur, por sua vez, é um dia de expiação e
perdão, onde os praticantes se dedicam a reparar relacionamentos e buscar a
purificação espiritual.
Esses rituais, além de suas dimensões
espirituais, oferecem uma estrutura que permite aos praticantes explorarem suas
emoções e desafios. A prática de rituais cabalísticos cria um espaço sagrado
onde as preocupações cotidianas podem ser deixadas de lado, permitindo que o
indivíduo se concentre em sua jornada interior. Essa abordagem ritualística é
essencial para cultivar uma vida espiritual rica e significativa, onde cada
cerimônia se torna uma oportunidade para a transformação.
A prática da Cabalá, portanto, não se limita a
métodos e técnicas; ela se torna uma jornada compartilhada, onde cada
praticante contribui com sua singularidade. A importância do estudo e da
disciplina na prática da Cabalá não pode ser subestimada. A busca pelo
conhecimento é um pilar essencial que sustenta o crescimento espiritual e a
evolução pessoal. Assim como um jardineiro cuida de suas plantas com dedicação
e atenção, o praticante da Cabalá deve nutrir sua mente e coração com
sabedoria, permitindo que floresça uma compreensão mais profunda da vida e do
universo.
O estudo contínuo é uma forma de alimentar a
alma. Textos clássicos, como o Zohar e o Sefer Yetzirah, oferecem um manancial
de ensinamentos que, quando explorados com seriedade e reverência, podem
iluminar o caminho do praticante. Cada leitura revela novas camadas de
significado, desafiando o leitor a refletir sobre suas próprias crenças e a
expandir sua visão de mundo. O autor sugere que o leitor estabeleça um
compromisso pessoal com a leitura desses textos, criando um espaço sagrado para
a contemplação e reflexão. Um ambiente tranquilo, adornado com objetos que
ressoem com sua jornada espiritual, pode ser o cenário ideal para essa prática.
Além do estudo dos textos, a disciplina se
manifesta na regularidade das práticas contemplativas. A meditação sobre a
Árvore da Vida, por exemplo, não deve ser vista como uma atividade ocasional,
mas como parte integrante da rotina do praticante. Essa prática diária não
apenas proporciona momentos de paz e introspecção, mas também permite que o
praticante se conecte com as energias das emanações divinas, promovendo uma
transformação interna que reverbera em todos os aspectos de sua vida.
A disciplina também se reflete na forma como o
praticante aborda os desafios e as dificuldades. A jornada espiritual é repleta
de altos e baixos, e é a disciplina que permite ao indivíduo perseverar, mesmo
quando os obstáculos parecem insuperáveis. A prática da gratidão, por exemplo,
pode ser uma ferramenta poderosa para cultivar uma mentalidade positiva,
ajudando o praticante a ver cada desafio como uma oportunidade de aprendizado e
crescimento.
Em suma, a importância do estudo e da disciplina na prática da Cabalá é um convite à transformação. O praticante é chamado a se comprometer com sua jornada espiritual, reconhecendo que cada passo dado em direção ao conhecimento e à prática é um passo em direção à luz e à verdade. Ao integrar essas práticas em sua vida, o leitor não apenas se conecta com a sabedoria ancestral da Cabalá, mas também se abre para um mundo de possibilidades, onde o autoconhecimento e a transformação pessoal se tornam uma realidade palpável.
Considerações finais:
A interconexão entre a Cabalá e a Maçonaria
revela uma fascinante confluência de tradições espirituais que, embora
distintas, compartilham um rico legado de sabedoria, simbolismo e busca pelo
autoconhecimento. Ao longo da história, a Cabalá foi sendo integrada e
reinterpretada por diferentes pensadores e correntes espirituais, e sua
influência na Maçonaria se estendeu além do plano simbólico, alcançando também
a ética e a prática cotidiana. O estudo dessa relação nos permite compreender
de forma mais profunda como as tradições esotéricas podem interagir e
enriquecer o desenvolvimento espiritual, promovendo não apenas a evolução
pessoal dos praticantes, mas também a transformação coletiva por meio de
práticas comunitárias.
A prática da Cabalá na Maçonaria contemporânea
vai além da simples adoção de símbolos e rituais. Ao meditar sobre as sefirot
da Árvore da Vida, por exemplo, os maçons se conectam com as energias divinas e
espirituais que atravessam o universo e a vida cotidiana. A reflexão sobre
esses ensinamentos oferece um caminho para o autoconhecimento profundo,
permitindo aos praticantes questionarem suas crenças, examinar suas emoções e
compreender suas ações à luz da sabedoria cabalística. Esse processo de introspecção
é essencial para que os maçons possam alinhar suas ações aos valores que eles
consideram centrais, como a busca pela verdade, pela justiça e pela
fraternidade.
Além disso, a prática cabalística aplicada na
Maçonaria contribui significativamente para a construção de uma ética mais
sólida e consciente. Ao integrar os princípios cabalísticos nas suas decisões
diárias, os maçons desenvolvem uma sensibilidade para as questões morais e
éticas que permeiam a vida cotidiana. A capacidade de refletir sobre os efeitos
das suas ações e de se comprometer com valores como a solidariedade e a
responsabilidade social é um dos legados mais poderosos da Cabalá. Esse
desenvolvimento ético não se limita aos membros da fraternidade, mas se estende
às comunidades nas quais os maçons atuam, promovendo mudanças significativas e
duradouras nas esferas social e espiritual.
Por fim, a Cabalá, enquanto prática espiritual, não se restringe a uma busca individualista, mas também se expande para um espaço de transformação coletiva. Os rituais, as meditações e as práticas espirituais que unem maçons em busca de iluminação e autoconhecimento, estabelecem uma conexão profunda entre os membros e reforçam os laços de fraternidade. O estudo e a prática da Cabalá dentro da Maçonaria não só enriquecem a jornada pessoal dos praticantes, mas também contribuem para a criação de um ambiente de aprendizado contínuo e crescimento espiritual. Ao adotar esses ensinamentos, os maçons não apenas buscam a sua própria transformação, mas também se tornam agentes de mudança, iluminando o caminho para a construção de um mundo mais justo, equilibrado e espiritualmente consciente.
(*) João Alexandre Paschoalin Filho, Ph.D, 33
E-mail: paschoalinfilho@yahoo.com
Membro da Academia Campinense Maçônica de Letras, Cadeira 23.
Loja Estrela da Distinção Maçônica Constância – Oriente de Campinas
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