O historiador Arnold Toynbee, em seu livro
Desafios de Nosso Tempo, inspira uma séria advertência ao tratar da velocidade
com que estão ocorrendo as novas descobertas, resultantes do alto estágio já
alcançado no processamento tecnológico. A advertência aponta em duas direções.
Uma delas refere-se ao despreparo do homem
para absorver as novas descobertas e usufruir de seus benefícios na mesma
velocidade com que elas acontecem. A outra direção aborda o fato de que, embora
a tecnologia seja neutra, o homem não o é. Tende para o bem, mas sofre as
tentações do mal. Ambos — o bem e o mal — estão nos sentimentos humanos.
Confirmam as Sagradas Escrituras ao registrarem que havia o Abel, mas também
não negam que havia o Caim. Os romanos, por entenderem da mesma forma,
desculpavam-se preventivamente com o adágio: "errar é humano".
Em todos os ramos do conhecimento, já
foram desenvolvidos meios quase milagrosos para o bem-estar da pessoa humana e
para o melhoramento das condições da natureza em seu favor. Nem é necessário
elencar aqui essas técnicas, pois elas preenchem grandes espaços na mídia em
suas muitas edições diárias. Acontece que o mal não dorme no ponto. O convite à
sua adesão e prática apresenta uma fachada encantadora. O marketing do vício é
envolvente e sedutor. Daí o combate ao mal ser tão difícil e exigir atenção e persistência.
Diante disso, o apóstolo Tiago bradava, no
início do cristianismo, contra a acomodação e a indiferença. Não bastava apenas
dizer estar do lado da virtude e ter fé em sua vitória. Era necessário realizar
a obra prática: a ação, o combate ao vício. Os romanos completavam seu adágio
ensinando que "permanecer no erro é diabólico".
Antigos sacerdotes de uma Igreja ocidental
adotavam o costume de realizar, em determinado dia, uma cerimônia que
confirmava seus compromissos com a Instituição. Não se tratava apenas do
respeito às regras e juramentos da ordenação, mas também da divulgação de sua
importância no papel salvífico. Apesar de haver um dia específico para essa
cerimônia a cada ano, muitos acreditavam que todo dia deveria ser de renovação
da fé e confirmação de compromissos. Aqueles que assim pensavam estavam
corretos, pois é preciso renascer a cada instante, como ensinou Cristo Jesus. O
Apocalipse, atribuído a João Evangelista, também exalta a fidelidade e assegura
um prêmio aos que procederem assim até o "apagar da velha chama".
O desafio mencionado por Toynbee, no
terreno material ensejado pela tecnologia, também se manifesta no campo social.
O conhecimento de tantas coisas boas e do bem avança vagarosamente, enquanto o
mal se espalha com rapidez. O tecido social esgarça-se pela corrupção dos
costumes mediante a ação dos maus, enquanto os bons permanecem no silêncio.
Parece até o episódio em que Barrabás,
condenado pela violência que praticara, disputou o prêmio da liberdade em
eleição direta e ganhou, unanimemente, de Cristo Jesus — que só pregava o amor
ao próximo e não havia cometido qualquer delito. Naquele momento, as pessoas do
bem preferiram o silêncio, esquecendo-se de seu compromisso com o bem, como se
este fosse algo a ser possuído apenas para benefício próprio, e não
compartilhado com todos.
Rui Barbosa, em sua Oração aos Moços,
contribui ao fazer a exegese do ensinamento cristão: melhor que o pão, que
alimenta o estômago, é o ideal, que nutre o espírito. Pois, enquanto o corpo
perece, o espírito retorna a Deus, para o encontro com a eterna felicidade.
Assim, o ideal torna-se a fonte inspiradora de toda a jornada.
A Maçonaria é uma "escola de
conhecimento" onde seus membros, ao embalo dos ideais da Instituição,
formam-se como construtores sociais. Esses ideais devem nortear os caminhos
daqueles que tiveram a felicidade de ultrapassar os umbrais dessa escola
benfazeja. Mais ainda: devem ser fortalecidos, vivenciados, defendidos e, na
medida do possível, repartidos com todos.
Momentos "de descontinuidade",
como os caracteriza Peter Drucker, são ocasiões para relembrar compromissos,
intensificar a chama e confirmar princípios. A Maçonaria e os maçons não devem
fugir a essa reflexão. Os ideais da Maçonaria são lampiões que os maçons têm o
dever de acender, seja noite ou dia, para iluminar a todos.
Com maior ênfase, em tempos como estes que
atravessamos, o maçom — que é "sal e luz" — não deve abrir mão desses
princípios. Se não for possível renovar-se diariamente, que ao menos, como os
antigos sacerdotes, use as cerimônias de iniciação e ascensão na escada dos
"augustos mistérios" para renovar sua crença nos princípios e
confirmar seu amor aos ideais da Ordem. Ao comprometimento, exige-se respeito.
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