A Maçonaria Entre a Razão e a Espiritualidade: Um Apelo à Tolerância e Diversidade




Da Redação

A questão sobre a natureza da Maçonaria – se essencialmente humanista e racionalista ou se permeada por elementos místicos e esotéricos – tem sido, ao longo dos séculos, objeto de discussão e, por vezes, de acirradas disputas entre irmãos e irmãs. Essa dicotomia entre visões se reflete não apenas no entendimento do que seja a Ordem, mas também na forma como se praticam seus rituais e se interpretam seus símbolos.

É compreensível que alguns maçons não reconheçam ou atribuam relevância à dimensão mística dentro da Maçonaria, limitando-se a uma visão humanista e pragmática. Contudo, quando essa perspectiva reduz a Arte Real a uma mera confraria social, sem maior atenção à busca por um significado transcendental, surgem questionamentos legítimos. Se não há um valor mais profundo nos rituais e símbolos, qual é, então, sua função? Qual luz os maçons buscam, se a dimensão espiritual é desconsiderada?

Muitos evitam essas questões, como se houvesse uma resistência ou mesmo um mecanismo de defesa diante do tema. É lamentável que, em certos círculos, haja rejeição àqueles que procuram explorar os profundos aspectos esotéricos da Maçonaria, vendo neles um desvio ou atavismo medieval. No entanto, a história nos mostra que houve sempre interseções entre a Maçonaria e as tradições místicas, como as dos Rosa-Cruzes, dos gnósticos e dos hermetistas. O flâmulo ardente, por exemplo, é um símbolo cuja interpretação estritamente mundana se mostra bastante limitada.

A Maçonaria, desde seu princípio, tem acolhido uma diversidade de interpretações. Algumas Lojas enfatizam o papel de Deus como o Grande Arquiteto do Universo; outras preferem um enfoque mais filosófico e agnóstico. O importante, todavia, é que todas essas vertentes coexistam em harmonia, respeitando o direito de cada irmão ou irmã à sua própria compreensão. A tolerância é um princípio fundamental que deve ser praticado não apenas fora, mas também dentro dos templos.

Esclarecimento não significa, necessáriamente, ateísmo. O próprio movimento iluminista, tantas vezes evocado como inspirador da Maçonaria moderna, teve forte influência de pensadores esotéricos, como os hermetistas e Rosa-Cruzes da Renascença. Grandes nomes da história – Pitágoras, Goethe, Newton, Mozart e Thomas Mann – trataram em suas obras de questões que transcendiam a mera razão materialista. Seria razoável rejeitar toda essa tradição e rotulá-la como obsoleta?

A verdade é que ninguém detém o monopólio da verdade dentro da Maçonaria. Irmãos que rejeitam a espiritualidade têm o direito de assim pensar, mas não deveriam desqualificar aqueles que buscam a Maçonaria como um caminho de aprimoramento espiritual. Afinal, não é próprio da Ordem a busca pelo conhecimento, a humildade diante do desconhecido e o reconhecimento de que o universo é repleto de mistérios ainda por serem compreendidos?

O estudo de inúmeras obras sobre a Maçonaria revela que, quanto mais se pesquisa, mais se percebe a vastidão do desconhecido. Diante disso, como poderíamos adotar posturas dogmáticas? Como poderíamos negar peremptoriamente a validade de outras perspectivas sem primeiro examiná-las com seriedade?

Se a Maçonaria fosse apenas um clube social, suas práticas rituais e seu simbolismo pareceriam um enorme esforço para algo que poderia ser substituído por simples encontros informais. O fato de que as Lojas mantêm seus rituais há séculos demonstra que eles contêm algo de essencial, algo que transcende a mera formalidade. Antes de eliminar qualquer aspecto tradicional da Ordem, é imperativo que o compreendamos em profundidade.

Portanto, este é um apelo à abertura de espírito. A Maçonaria é um tesouro de conhecimentos e de tradições que precisa ser preservado. Não devemos permitirmos que o reducionismo a desprovida de seu verdadeiro valor. Ao contrário, devemos zelar por sua riqueza simbólica e filosófica, garantindo que continue a ser um caminho de luz para aqueles que buscam o aperfeiçoamento moral, intelectual e espiritual.

A diversidade dentro da Maçonaria não é uma fraqueza, mas sim uma de suas maiores forças. Ao exercermos a tolerância e o respeito por todas as perspectivas, reafirmamos os princípios que nos unem e garantimos que a Ordem permaneça relevante e significativa para as gerações futuras.

Pesquisa: Luiz Sérgio Castro




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