Da Redação
Os antigos
concebiam a música como uma força fundamental do universo, refletindo a
harmonia das esferas e governando o movimento dos astros. Tanto o som quanto a
matéria são manifestações de vibrações: o som surge pela oscilação das
moléculas do ar, enquanto a matéria é composta por átomos que também vibram.
Assim, pode-se argumentar que sua essência é a mesma.
Se as palavras
são a linguagem da mente, a música representa a expressão da alma.
"Na
Maçonaria, devemos tornar a virtude amável pela atração de prazeres inocentes,
de música agradável, de alegria pura e de alegria razoável" (Ramsay).
A música é
a arte de combinar sons de maneira harmônica e aprazível ao ouvido. Seus
elementos essenciais incluem a melodia e o ritmo, aos quais se somam o timbre e
a acentuação. A harmonia, por sua vez, estabelece a simultaneidade dos sons.
A
Influência da Música na Filosofia Antiga
Aristóteles,
no oitavo livro de sua "Política" (VIII, 5-7), enfatiza a importância
da educação musical, sugerindo que a música influencia o comportamento, o
caráter e as disposições morais (o êthos). Essa perspectiva foi retomada por
Marsilio Ficino no Renascimento, que defendia que a música, ao movimentar o ar
purificado, excitava o spiritus aéreo, intermediário entre o corpo e a
alma, promovendo equilíbrio emocional e físico.
Pitágoras e
Platão atribuíram à música um significado mais abrangente, distinguindo a
música teórica (relacionada à harmonia do universo, aritmética e rítmo) da
prática (envolvendo melodia e poesia). Leibniz, no século XVIII, reforçou essa
concepção ao afirmar que "a música é um exercício aritmético secreto, no
qual a mente lida com números sem percebê-lo".
Música e
Espiritualidade
Na tradição
hebraica, a música era um elemento central nas cerimônias religiosas, como
evidenciam os cânticos de Moisés, as trombetas de Jericó e a harpa de Davi. Os
primeiros cristãos herdaram essa tradição, levando ao desenvolvimento do
cantochão no século IV por Santo Ambrósio, que refletia as influências musicais
da Antiguidade.
No século
XI, a invenção da escala musical por Guido d'Arezzo e o desenvolvimento do
contraponto marcaram o surgimento da música moderna. "Se houver uma
liteira, ela deve carregar algo, e se houver chaves, elas devem abrir
portas" — essa analogia ilustra a relação entre a harmonia musical e a
sabedoria humana.
A relação
entre música e cores também aparece na alquimia. O pavão, por exemplo,
simboliza a gama cromática do sangue alquímico, uma ideia explorada por Salomon
Trismosin em Splendor Solis e por Michel Maïer em Atalante fugitive,
onde a Grande Obra Alquímica é explicada através de fugas musicais e gravuras.
O trítono,
ou quarta aumentada (exemplo: Dó-Fá sustenido), foi considerado maligno na
Idade Média e chamado de diabolus in musica. Em contraste, a física
moderna revelou que átomos expostos a temperaturas próximas do zero absoluto
comportam-se como um único átomo em movimento sincronizado, "cantando em
uníssono", conforme descrito pelo Comitê Nobel ao conceder o Prêmio Nobel
de Física de 2001 para Cornell e Wieman-Ketterle.
A Música na
Maçonaria
A música
sempre teve um papel central na Maçonaria, enriquecendo o ambiente ritualístico
e a comunhão entre os irmãos. Em algumas lojas escocesas, os rituais são
cantados quase integralmente. A música na loja tem três principais categorias:
Composições
específicas para rituais e festas, como as celebrações de São João;
Peças que,
embora não escritas para a Maçonaria, se adequam à sua atmosfera;
Obras de
inspiração maçônica, como a Maurerische Trauermusik de Mozart.
As Constituições
de Anderson (1723) incluem quatro canções maçônicas, expandidas nas edições
seguintes. Da mesma forma, Ahiman Rezon de Dermott inclui sessenta
canções, prólogos e epílogos. Compositores como Jan Sibelius serviram como
organistas de Grandes Lojas, enriquecendo a tradição musical maçônica.
Na tradição
inglesa, o termo "coluna da harmonia" referia-se originalmente a
grupos de sopro que pontuavam rituais e festividades. Em lojas escocesas, a
música é tão essencial que se designa um bardo para o canto e um
organista para acompanhar os rituais.
Música,
Notas e Correspondências Simbólicas
Os nomes
das notas musicais derivam do Hino a São João Batista, sistematizados
por Guido d'Arezzo. O Si vem das iniciais de Sancte Iohannes,
enquanto Do pode derivar de Dominus (Senhor). A tradição
hermética associa cada nota a um planeta: Do à Lua, Ré a Saturno, Mi a Júpiter,
Fa a Marte, Sol ao Sol, Lá a Vênus e Si a Mercúrio.
Hermann
Hesse, em O Jogo das Contas de Vidro, correlaciona as notas musicais às
cores e qualidades espirituais, enquanto Isaac Newton, também alquimista,
estudou a relação entre sons, luzes e os sete metais alquímicos.
A música,
assim como a ciência e a filosofia, tem o poder de harmonizar nossa compreensão
do universo. O que aconteceria se a ciência, a estética e a ética se unissem em
uma sinfonia perfeita? Talvez então, a humanidade encontrasse sua verdadeira
harmonia.
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