Da Redação
Desde tempos imemoriais, a astronomia e a arquitetura sagrada caminham juntas, refletindo o desejo humano de compreender e representar a ordem cósmica. Na Maçonaria, essa relação se manifesta através de diversos símbolos e estruturas arquitetônicas presentes nos templos maçônicos, que evocam a conexão entre o microcosmo terrestre e o macrocosmo celestial.
A Influência das Artes Liberais e da Astronomia na Maçonaria
Um dos primeiros registros maçônicos que mencionam as artes liberais data de 1990, confirmando que essas disciplinas sempre foram de grande importância para os maçons. Entre essas artes, a astronomia ocupa um papel central, sendo estudada em conjunto com a geometria, pois ambas representam a busca pelo conhecimento universal e pela compreensão das leis que regem o cosmos.
No templo maçônico, diversos elementos arquitetônicos refletem essa relação. Os sete degraus que elevam o Oriente, onde se encontra o trono do Venerável Mestre, representam tanto as sete artes liberais (trivium: gramática, lógica e retórica; quadrivium: aritmética, geometria, música e astronomia) quanto os sete planetas conhecidos na antiguidade. Além disso, o candelabro de sete braços, presente no altar, reforça esse simbolismo cósmico.
A geometria, considerada a mais sagrada das ciências, tem um papel fundamental dentro da filosofia maçônica. De acordo com a tradição pitagórica, a geometria expressa verdades absolutas e serve como um canal de comunicação com o divino. A astronomia, por sua vez, fornece o referencial celeste que permite ao homem compreender seu lugar no universo e construir templos alinhados com as forças cósmicas.
O Céu Estrelado e os Elementos Astronômicos no Templo Maçônico
O céu estrelado, pintado no teto das lojas maçônicas, é um dos mais evidentes símbolos da ligação entre a Maçonaria e a astronomia. Representa o infinito e a busca pela sabedoria, conectando os irmãos maçons com o cosmos. Além disso, o Sol e a Lua, posicionados ao lado do Venerável Mestre, remetem ao equilíbrio entre as forças opostas e complementares da natureza.
Outro elemento importante é a esfera celeste colocada sobre a coluna jônica ao sul, representando o conhecimento celestial e a harmonia das esferas. O templo maçônico, assim como diversas construções sagradas antigas, segue a orientação dos pontos cardeais, estabelecendo uma conexão direta com o movimento dos astros.
A Arquitetura Maçônica e a Tradição Astronômica
A Maçonaria herdou a tradição arquitetônica que remonta aos antigos construtores de templos e catedrais. Instrumentos como o compasso, o esquadro e o fio de prumo são utilizados tanto na arquitetura quanto nos rituais maçônicos, simbolizando precisão e equilíbrio. A arquitetura sempre foi considerada uma "ars regia" (arte real), pois permite materializar o conhecimento espiritual através da pedra, que, por sua durabilidade, simboliza a eternidade.
A relação entre astronomia e arquitetura é evidente em diversas civilizações. Desde os templos do Egito Antigo até as catedrais góticas da Idade Média, a orientação dos edifícios sagrados obedece a princípios astronômicos. O templo maçônico não é exceção, pois também segue o alinhamento este-oeste, em referência ao nascer e ao pôr do sol.
O Alinhamento Astronômico das Construções Sagradas
A orientação dos templos maçônicos reflete antigos princípios litúrgicos. Assim como nas igrejas paleocristãs, onde o sacerdote se voltava para o sol equinocial durante os rituais, os templos maçônicos também possuem um alinhamento que respeita a trajetória solar. O eixo leste-oeste está presente na maioria das construções sagradas, pois simboliza o renascimento e a iluminação.
O alinhamento solsticial, por outro lado, é mais complexo, pois depende da latitude do local. Por exemplo, a igreja românica de San Giorgio, em Bari, foi construída de maneira que sua estrutura estivesse alinhada com o nascer do sol no solstício de inverno. Esse mesmo princípio se aplica a diversas catedrais europeias e até a monumentos megalíticos como Stonehenge.
A inclinação do eixo terrestre (aproximadamente 23°27’) também tem um significado profundo na simbologia maçônica e arquitetônica. Esse ângulo, responsável pelas estações do ano, influencia o ciclo da vida na Terra e, consequentemente, a organização do calendário e dos rituais religiosos. Assim, ele se torna um símbolo do equilíbrio cósmico e é frequentemente representado nas proporções de templos sagrados.
A Reprodução de Configurações Celestes na Arquitetura
Diversos templos e monumentos foram projetados para refletir configurações astronômicas. Um dos exemplos mais notáveis é o alinhamento das pirâmides de Gizé com a constelação de Órion, que os antigos egípcios associavam a Osíris. Esse mesmo padrão foi encontrado em Teotihuacan, no México, e nas pirâmides de Xian, na China.
As catedrais francesas dedicadas a Notre Dame, como as de Chartres, Reims e Paris, formam um desenho no solo que remete à constelação de Virgem, sugerindo um grande projeto esotérico medieval. Em Chartres, por exemplo, no dia 15 de agosto, um raio de sol atravessa um orifício no rosácea ocidental e ilumina o centro do labirinto no chão da catedral, simbolizando o encontro da luz divina com a terra.
A relação entre astronomia, arquitetura e Maçonaria reflete um antigo anseio humano de compreender e representar a ordem universal. O templo maçônico, com seu céu estrelado, seu alinhamento astronômico e seus símbolos geométricos, materializa esse conhecimento e reafirma a conexão entre o homem e o cosmos. Como diz o ensinamento hermético: "o que está em cima é como o que está embaixo" – e a arquitetura maçônica é a prova viva dessa correspondência cósmica.
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