O Mito de Osíris: Morte, Ressurreição e Ordem Cósmica


Da Redação

O mito de Osíris é um dos mais profundos e significativos do Antigo Egito, pois encapsula os mistérios da morte, da ressurreição e da ordem cósmica. Sua lenda, transmitida por milênios, narra o destino de um soberano divino traído e assassinado, mas capaz de renascer em uma nova dimensão, assumindo o papel de juiz supremo do além e garantidor do equilíbrio universal.

Essa epopeia não é apenas um conto mitológico, mas um arquétipo sagrado que reflete o ciclo eterno da natureza e da existência humana: a destruição seguida pelo renascimento, o caos vencido pela ordem, o pôr do sol que antecede uma nova alvorada. Osíris incorpora o princípio da regeneração, não apenas no contexto religioso egípcio, mas também em diversas tradições esotéricas e iniciáticas, incluindo a Maçonaria. No simbolismo do Rito Escocês Antigo e Aceito, o mito osiriano representa a passagem através das provas da morte iniciática e o retorno à luz do conhecimento.

Por meio da análise dessa lenda, podemos descobrir significados profundos que vão desde a espiritualidade egípcia até as tradições místicas do Ocidente, tornando o mito de Osíris um fundamento essencial do pensamento esotérico.


O Culto de Osíris e Sua Relação com a Vida Após a Morte

Na religião do Antigo Egito, Osíris era venerado como o Senhor do Além, aquele que presidia o reino dos mortos e garantia a sobrevivência da alma na eternidade. Por essa razão, seu culto estava profundamente ligado às práticas funerárias e aos mistérios da ressurreição. Osíris era frequentemente representado com a pele verde, um símbolo da renovação e da fertilidade, pois também era considerado o deus da vegetação e da regeneração cíclica da natureza. Essa coloração evocava o eterno renascimento da vida e o ciclo das estações, em uma constante alternância de morte e renascimento.

Filho primogênito da deusa Nut, personificação do céu, e do deus Geb, encarnação da terra, Osíris teve como irmãos Seth, o deus do caos e das tempestades, e as deusas Ísis e Néftis. Apesar de sua divindade, a mitologia narra que Osíris reinou sobre as terras do Egito em tempos remotos, antes do governo de Menes (ou Narmer), o primeiro faraó histórico.

Durante seu reinado, Osíris ensinou aos egípcios as artes da agricultura, do cultivo dos cereais, da produção do vinho e da cerveja, e também a extração e manipulação dos metais. Sob seu governo, o Egito experimentou um período de grande prosperidade e ordem.


O Conflito com Seth e o Assassinato de Osíris

Diferente de Osíris, Seth representava as forças do caos, da violência e do conflito. Ele era o senhor das tempestades, das areias escaldantes do deserto e das forças incontroláveis da natureza. Seu caráter tempestuoso e sua inclinação para o conflito o tornaram o oposto de Osíris, que simbolizava o equilíbrio e a regeneração. Seth, movido pelo ciúmes e pela inveja, tramou um plano para assassinar seu irmão e usurpar o trono do Egito.

Segundo a tradição, Seth organizou um banquete no qual apresentou uma belíssima urna de madeira decorada com ouro, anunciando que a daria de presente a quem coubesse perfeitamente dentro dela. Quando Osíris deitou-se na urna, Seth e seus conspiradores rapidamente fecharam a tampa e selaram-na com chumbo derretido, impedindo qualquer escape. Em seguida, lançaram a urna no rio Nilo, onde foi levada pela correnteza até terras distantes.


O Resgate de Osíris e Sua Ressurreição

Desolada com a perda de seu esposo, Ísis partiu em uma longa jornada para encontrar seu corpo. Seguindo as pistas do Nilo, chegou à cidade fenícia de Biblos, onde encontrou a urna que continha o corpo de Osíris incorporada ao tronco de uma acácia sagrada. Com astúcia e magia, Ísis conseguiu recuperar a urna e retornou ao Egito, escondendo-a em um pântano remoto. No entanto, Seth descobriu o paradeiro do corpo e, tomado de fúria, esquartejou Osíris, espalhando seus pedaços por todo o Egito.

Novamente, Ísis e Néftis partiram em uma missão para recuperar os fragmentos do corpo do deus assassinado. Cada pedaço encontrado tornou-se um local sagrado, e a reunião dos restos mortais deu origem ao primeiro ritual de mumificação, conduzido por Anúbis. Graças à magia de Ísis e ao poder divino de Thoth, Osíris foi trazido de volta à vida, mas não como um ser terreno. Seu destino era governar o além como o grande juiz das almas no tribunal da justiça pós-morte.


A Vingança de Hórus e o Restabelecimento da Ordem

Enquanto Osíris assumia seu novo papel no mundo espiritual, seu filho Hórus crescia sob a proteção de Ísis. Quando atingiu a idade adulta, desafiou Seth para uma batalha pelo trono do Egito. O conflito entre os dois deuses durou anos, passando por inúmeras provações e julgamentos divinos. No fim, Osíris interveio do além e declarou Hórus o verdadeiro herdeiro, restaurando a ordem e exilando Seth no deserto.

Com a vitória de Hórus, o Egito recuperou sua harmonia, e o mito tornou-se a base da realeza egípcia, pois cada faraó era considerado a encarnação de Hórus na Terra. Enquanto isso, Osíris continuava a reinar no além, garantindo o equilíbrio entre a vida e a morte.


Conclusão

O mito de Osíris é mais do que uma simples narrativa mitológica; representa o ciclo da vida, da morte e da renovação. Sua simbologia transcendeu a religião egípcia e influenciou diversas tradições esotéricas, incluindo a Maçonaria, reafirmando seu lugar como um dos mais poderosos arquétipos espirituais da humanidade.

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