O Aprendiz se senta no topo da Coluna do Norte e ali medita e observa, escuta e aprende. Sua tarefa é vencer suas paixões e submeter sua vontade para fazer novos progressos.
O Templo onde a Loja se reúne em Grau de Aprendiz é um símbolo de dupla dualidade: divide-se em Oriente e Ocidente, e este, por sua vez, em Norte e Sul. O Oriente representa o mundo espiritual invisível; o Ocidente, o mundo material visível. O Norte é o local de onde a luz nunca vem, enquanto o Sul é a região da luz e da beleza. E o Aprendiz inicia sua jornada iniciática justamente no local de onde a luz nunca vem: o Norte.
Isso pode ser explicado pela tradição de se começar uma construção pelo lançamento da pedra fundamental no canto nordeste da edificação a ser erguida. No entanto, há outra explicação, também tradicional, derivada de uma realidade oculta neste mundo material.
Os antigos consideravam que do Norte vem o mal, as trevas. O candidato à iniciação estava na escuridão em busca de luz e o começo de sua jornada como Aprendiz ocorre exatamente na região das trevas ao Norte, origem de todo o mal, enquanto sua jornada se estende para o Sul em busca da luz e da beleza. Mas o que, em nível oculto, o Aprendiz precisa fazer na Coluna do Norte?
Segundo certa escola de mistério, a Teosofia, os humanos são capazes de criar as chamadas formas-pensamento, que são criações emanadas da mente. Alguns afirmam ser capazes de ver essas formas. Para que as formas-pensamento tenham uma existência mais duradoura do que o breve tempo em que o pensador as mantém na mente, é necessário que sejam animadas, energizadas pelas emoções e pelo desejo do seu criador. Se o pensador conseguir criar uma forma bem definida, correspondente precisamente ao que deseja, e insuflar nela um desejo imperioso, ela pode ganhar vida própria e se dirigir ao objeto do pensamento original do criador.
No livro Autodefesa Psíquica, Dion Fortune, no quarto capítulo, Projeção do Corpo Etéreo, narra uma experiência vivida por ela própria, que pode ajudar a entender essa realidade oculta:
"Numa tarde, estando deitada em minha cama, em repouso, meditava eu sobre o meu ressentimento e, enquanto assim pensava, caminhei para o limiar do sono. Veio à minha mente o pensamento de abandonar todas as reservas e ficar louca de raiva. Os antigos mitos nórdicos surgiram à minha frente, e pensei em Fenris, o terrível lobo do Norte. Imediatamente, senti uma curiosa sensação oriunda do meu plexo solar e eis que se materializou ao meu lado na cama um enorme lobo. Era uma forma ectoplasmática bem materializada."
No mesmo capítulo, a autora explica a maneira de produzir um elemental artificial, uma forma-pensamento energizada, com base na experiência que vivenciou ao trazer ao seu mundo um lobo materializado, percebido apenas por ela devido à sua capacidade de ver aquilo que para outros é invisível:
"O elemental artificial é produzido formando-se na imaginação uma figura bem definida da criatura que se pretende criar, animando-a com algo do aspecto que corresponde ao nosso próprio ser e, assim, infundindo nela a força natural apropriada. Esse método pode ser utilizado tanto para o bem quanto para o mal, e os 'anjos da guarda' são formados dessa maneira."
Um pouco mais adiante, Dion Fortune reflete sobre o que havia produzido e as possíveis consequências terríveis daquilo que criara:
"Eu havia produzido essa coisa com a minha própria substância por meio de pensamentos vingativos, e que ela era realmente uma parte de mim lançada para fora, e que eu devia, custasse o que custasse, chamá-la e reabsorvê-la em mim, abandonando, ao mesmo tempo, o meu desejo de 'acertar as contas' com a pessoa que me injuriara."
Se a autora tivesse aproveitado a oportunidade para dar vazão prática aos seus ressentimentos, a forma lupina teria conquistado vida independente e, então, seria o diabo, tanto literal quanto metaforicamente. Ela narra também como conseguiu reabsorver a criatura demoníaca que criara a partir de seu desejo de vingança, impedindo que ela se desprendesse e atacasse a pessoa que estava em sua mente.
O vencer das paixões pode estar relacionado à necessidade de conter a ânsia por vingança, conter a inveja que engendra desejos de que males terríveis recaiam sobre a pessoa invejada, conter desejos de conquistas pessoais que impliquem em prejuízo para os outros. Desejos nocivos, trabalhados mentalmente em condições adequadas, podem criar forças astrais que, uma vez libertas de seu criador, partem em direção ao alvo por ele determinado.
Temos, então, o criador perverso e a força destrutiva do mal lançada contra uma vítima que, se não estiver fortalecida e equilibrada, poderá abrir uma via de acesso para essa força desencadeada contra ela. O propósito do Aprendiz ao se sentar ao Norte não é fortalecer-se na prática do mal, mas aprender a controlar a si próprio e as forças que poderá manipular de modo a espalhar amor.
Paixões surgem como grandes ondas em um mar antes tranquilo. Ou você acalma os ventos que encrespam a superfície, ou a força desencadeada arrebentará contra tudo o que se colocar em seu caminho. Esse controlar os ventos corresponde a submeter ao crivo da razão a vontade de fazer o mal. A vontade controlada pela razão pode até permitir que, ao invés de serem desencadeadas forças do mal, sejam disparadas forças que operam para o bem de todos. Em linguagem simbólica, a vontade esclarecida põe os pés sobre a serpente do mal e espalha amor.
Para vencer suas paixões e submeter sua vontade, o Aprendiz se senta ao Norte e trabalha em silêncio. Se for bem-sucedido, poderá passar ao trabalho na Coluna do Sul, aquela da luz e da beleza, do esclarecimento da razão e do amor.
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