Davi e Salomão: Reis e Construtores de Uma Nação e de um Templo

Por Chuck Clem | Tradução e adaptação: Luiz Castro

A história dos reis Davi e Salomão é mais do que uma narrativa bíblica de poder, fé e sabedoria. É também uma das fundações simbólicas mais profundas da Maçonaria. Muitos graus maçônicos têm como pano de fundo a construção do Templo de Salomão — não apenas como um feito arquitetônico, mas como uma metáfora da construção do caráter e do aperfeiçoamento do ser humano.

A Origem de um Reino Unificado

Após a travessia do rio Jordão em 1406 a.C., os israelitas se fixaram em Canaã (atual Israel), divididos em doze tribos. Embora partilhassem uma fé monoteísta, a organização social era descentralizada — cada tribo administrava sua própria prática religiosa, unindo-se apenas em tempos de guerra. Foi apenas em 1020 a.C. que os israelitas decidiram se unificar sob uma monarquia, coroando Saul como primeiro rei. Contudo, seu governo não conseguiu consolidar um poder central.

A ascensão de Davi marcou o início de uma transformação. Primeiro rei de Judá, ele enfrentou desafios imensos: unificar as tribos, reformar o exército e estabelecer um centro político e religioso. Sua resposta foi estratégica. Reformou o exército com seus “trinta valentes”, soldados profissionais e leais, e conquistou territórios férteis dos filisteus, expandindo o poder de Israel.

Jerusalém, a Cidade de Davi

A escolha de Jerusalém como capital foi visionária. Apesar de sua posição aparentemente desfavorável — longe de rios e do mar —, a cidade oferecia vantagens naturais: fontes de água, vales defensivos, e localização central. Mas o fator decisivo foi sua ligação com o Monte Moriá, local onde Abraão quase sacrificou seu filho Isaac, selando o pacto abraâmico que fundamenta as três grandes religiões monoteístas: Judaísmo, Cristianismo e Islã.

Davi transformou Jerusalém no centro espiritual e político de Israel. Transportou a Arca da Aliança — até então abrigada em um tabernáculo móvel — para um local fixo na cidade, e teve o desejo de construir um templo permanente. No entanto, segundo o relato bíblico, Deus recusou seu intento, afirmando que Davi havia derramado muito sangue em guerras. A tarefa caberia a seu filho, Salomão.

Davi, o Poeta e o Construtor

Davi não apenas foi um guerreiro, mas também um homem de fé e sensibilidade artística. Autor de 75 salmos, ele participou ativamente das cerimônias religiosas, até mesmo vestindo o éfode de linho dos sacerdotes durante a entrada da Arca em Jerusalém. Além disso, preparou o terreno para a construção do Templo, comprando a eira de Araúna no Monte Moriá, e estabelecendo uma importante aliança comercial com Hirão, rei de Tiro, de onde viriam madeira e artesãos.

Salomão, o Sábio Construtor do Templo

Salomão assumiu o trono em 970 a.C. e iniciou a construção do Templo quatro anos depois. A obra durou sete anos e contou com materiais e trabalhadores fornecidos por Hirão. O Templo substituiu o tabernáculo e se tornou o coração da fé judaica.

A dedicação do Templo foi monumental. Salomão conduziu pessoalmente a cerimônia, demonstrando não apenas liderança, mas uma profunda conexão espiritual com Deus. O Templo foi concebido como morada simbólica do Senhor — não física, mas espiritual, irradiando a “shekinah”, presença divina que destruía os que se aproximassem sem autorização.

O Legado de Salomão

Salomão também se destacou como autor de três livros bíblicos: Provérbios (sabedoria prática), Cântico dos Cânticos (poesia amorosa) e Eclesiastes (reflexões existenciais). Seu reinado trouxe prosperidade e estabilidade, tornando Jerusalém um centro religioso, político e comercial.

Mas com sua morte, o reino se dividiu: as dez tribos do norte formaram Israel, e as duas do sul, Judá. A união que durou cem anos entre Saul, Davi e Salomão se desfez, mas o impacto de seus reinados permanece até hoje.

O Significado Maçônico

Na Maçonaria, a construção do Templo de Salomão é uma poderosa alegoria para o aperfeiçoamento humano. Os maçons, como “construtores morais”, são ensinados a transformar a pedra bruta (sua natureza imperfeita) em pedra polida (a virtude). Assim como Davi planejou e Salomão construiu com dedicação e reverência, o maçom é convidado a construir seu caráter com firmeza e fé.

A jornada desses dois reis reflete o ideal maçônico de tornar-se “um homem melhor” através da sabedoria, da justiça, do trabalho e da espiritualidade. Eles foram líderes visionários, homens falhos, mas profundamente conectados com Deus. Foram poetas, guerreiros e arquitetos do espírito e da nação.

Uma Herança Viva

O impacto de Davi e Salomão transcende a história bíblica. Jerusalém, a “Cidade de Davi”, continua sendo um centro espiritual para as três grandes religiões monoteístas. O Monte do Templo, onde ficava o Templo de Salomão, é reverenciado por judeus, cristãos e muçulmanos. Cristo visitou o Segundo Templo ali construído. Maomé, segundo a tradição islâmica, ascendeu aos céus do mesmo local.

A Maçonaria moderna bebe profundamente dessa tradição, e vê em Davi e Salomão não apenas personagens históricos, mas arquétipos do verdadeiro construtor — aquele que molda o mundo com inteligência, fé e moralidade.

Fonte: Knight Templar

  

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