Jachin e Boaz: O Legado Secreto das Colunas Maçônicas


Da Redação

 A Maçonaria confere uma importância simbólica profunda às colunas do Templo de Jerusalém, especialmente aquelas conhecidas como Jachin e Boaz. Mas qual é a origem dessa veneração? E qual era, afinal, a função dessas colunas no contexto mais amplo da tradição simbólica e mítica do mundo antigo?

Para compreender o verdadeiro papel das colunas, é necessário mergulhar não apenas na história do Templo de Salomão, mas também nos antigos relatos maçônicos e nas tradições que remontam a tempos ainda mais arcaicos: aos dias anteriores ao dilúvio.

As colunas antediluvianas e o Manuscrito de Cook

Um dos registros mais antigos da tradição maçônica é o Manuscrito de Cook, datado de cerca de 1450. Nesse texto, encontra-se a narrativa de que, antes do Dilúvio de Noé, os antigos mestres construtores — temendo uma futura destruição do mundo pelo fogo ou pela água — decidiram preservar o conhecimento adquirido em duas colunas.

Uma foi feita de mármore, para resistir ao fogo, e a outra de lacerus (possivelmente pedra-pomes), por sua capacidade de flutuar e resistir às águas. Essas colunas funcionavam, portanto, como repositórios de sabedoria e ciência, verdadeiros cofres de saber das artes liberais.

Segundo o manuscrito, Jabal, um dos descendentes de Adão, teria sido o responsável por gravar todas as ciências nelas. Após o dilúvio, apenas Noé e seus descendentes sobreviveram. Muito tempo depois, Pitágoras teria encontrado uma dessas colunas, e o filósofo Hermes, a outra — possibilitando, assim, a transmissão do conhecimento perdido às gerações futuras.

Origens míticas e o Livro dos Jubileus

Essa lenda das colunas da sabedoria tem raízes ainda mais antigas, remontando ao Livro dos Jubileus, um texto apócrifo que não foi incluído no cânon bíblico. Ali, encontramos a figura de Cainam, descendente de Noé, que descobre uma inscrição em pedra deixada pelas "gerações anteriores".

Essa inscrição, segundo o texto, trazia o ensinamento dos "atalaias" — entidades que ensinavam aos homens a leitura dos astros e os segredos do céu. O saber ali contido era tão poderoso quanto perigoso, e Cainam, ao acessá-lo, teria pecado por causa dele.

Colunas ou estelas? O relato de Flávio Josefo

Curiosamente, os hebreus antigos não possuíam o hábito de erguer colunas como entendemos hoje, mas sim estelas — estruturas verticais com inscrições. O historiador Flávio Josefo, em sua obra Antiguidades Judaicas, relata que os descendentes de Sete, filho de Adão, ergueram duas estelas: uma de tijolos e outra de pedra, onde gravaram todo o conhecimento adquirido, para que resistisse a qualquer catástrofe.

Porém, essa narrativa parece ser uma fusão entre a história bíblica e uma tradição egípcia mais antiga.

A confusão com os relatos egípcios de Heródoto

O historiador grego Heródoto menciona que Moeris, último de uma linhagem de 330 reis egípcios, ergueu colunas em diferentes regiões após conquistar diversos povos. Nessas colunas, gravava seu nome e o do país conquistado. E se os povos fossem vencidos sem resistência, ele ainda acrescentava um símbolo explícito: os órgãos femininos, como representação da covardia.

Aparentemente, Flávio Josefo teria confundido ou entrelaçado essas tradições, criando um mosaico de narrativas que se tornaram a base para mitos posteriores — inclusive dentro da Maçonaria.

Significado maçônico das colunas

Na Maçonaria especulativa, as colunas representam mais do que apenas estruturas físicas: elas são símbolos de dualidade, sabedoria e estabilidade. Jachin e Boaz — os nomes dados às colunas do Templo de Salomão — representam, respectivamente, o princípio ativo e o princípio passivo, a força e o estabelecimento, o Sol e a Lua, o equilíbrio entre opostos complementares.

Contudo, a influência das colunas antediluvianas continua latente: elas são o símbolo de que o conhecimento verdadeiro deve ser protegido, transmitido, e que ressurge mesmo após as grandes destruições da humanidade.

As colunas do Templo de Salomão não foram apenas marcos arquitetônicos, mas guardas do saber universal, herdeiras de tradições antigas que atravessaram os tempos. Desde os manuscritos maçônicos medievais até as narrativas egípcias e hebraicas, vemos a recorrência da ideia de preservar e transmitir o conhecimento como um dever sagrado.

Para os maçons — e talvez para qualquer buscador sincero da verdade — essas colunas são um convite à elevação interior, ao esforço de reconstruir em si mesmo o templo da sabedoria eterna.


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