Ética Médica e Inteligência Artificial: Desafios e Perspectivas para a
Medicina do Futuro
Por Jean-Jacques Zambrowski
A integração da inteligência artificial (IA) na medicina contemporânea
representa uma revolução sem precedentes, trazendo consigo avanços notáveis,
mas também desafios éticos significativos. A reflexão sobre a ética médica
frente à ascensão da IA é essencial para garantir que o progresso tecnológico
beneficie a humanidade de maneira justa e responsável.
A Revolução da IA na Medicina
Desde os anos 1980, a IA tem sido utilizada na medicina, inicialmente em
sistemas especializados como o MYCIN, destinado à identificação de infecções
bacterianas, e o SPHINX, para detecção de icterícia. Com o avanço tecnológico,
a IA evoluiu para sistemas capazes de analisar grandes volumes de dados,
auxiliando em diagnósticos, tratamentos personalizados e na gestão de
informações clínicas .
Hoje, a IA é empregada em diversas áreas médicas, incluindo:
Imagiologia Médica: Algoritmos de aprendizado profundo analisam imagens
radiológicas, como mamografias e tomografias, com precisão comparável ou
superior à dos radiologistas humanos .
Medicina Personalizada: A análise de dados genômicos permite a criação
de tratamentos adaptados às características individuais dos pacientes,
melhorando a eficácia terapêutica .
Automatização de Processos: A IA auxilia na automação de tarefas
administrativas, como agendamento de consultas e preenchimento de prontuários,
liberando tempo para que os profissionais de saúde se concentrem no atendimento
ao paciente .
Desafios Éticos Emergentes
Apesar dos benefícios, a incorporação da IA na medicina levanta questões
éticas complexas. O filósofo e cientista da computação Moshe Vardi alertou
sobre o risco de as máquinas superarem os humanos em diversas tarefas,
questionando a utilidade da espécie humana e potencialmente levando ao
desemprego em massa .
Além disso, o Parlamento Europeu propôs o estudo da possibilidade de
conceder personalidade jurídica a robôs dotados de IA, especialmente aqueles
capazes de tomar decisões autônomas ou interagir de forma independente com
terceiros . Essa proposta levanta debates sobre responsabilidade legal e moral
em casos de erros ou danos causados por sistemas autônomos.
Princípios da Ética Médica Aplicados à IA
A ética médica tradicional baseia-se em quatro princípios fundamentais:
Autonomia: Respeito à capacidade do paciente de tomar decisões
informadas sobre seu próprio cuidado.
Beneficência: Compromisso em agir no melhor interesse do paciente.
Não Maleficência: Evitar causar danos ao paciente.
Justiça: Garantia de distribuição equitativa dos recursos e tratamentos
médicos.
A aplicação desses princípios à IA requer adaptações. Por exemplo,
garantir a autonomia do paciente implica em assegurar que ele compreenda como a
IA influencia seu diagnóstico ou tratamento. A beneficência e a não
maleficência exigem que os sistemas de IA sejam projetados para melhorar os
resultados clínicos sem causar danos. A justiça demanda que a IA não perpetue
ou amplifique desigualdades existentes no acesso aos cuidados de saúde .
Regulamentação e Governança da IA na Saúde
A regulamentação da IA na medicina é um campo em desenvolvimento. A
União Europeia propôs um regulamento que classifica os sistemas de IA em
categorias de risco, com o objetivo de equilibrar a inovação tecnológica e a
proteção dos direitos fundamentais .
Além disso, iniciativas como o FUTURE-AI estabeleceram diretrizes
internacionais para o desenvolvimento e implementação de IA confiável na saúde,
enfatizando princípios como justiça, universalidade, rastreabilidade,
usabilidade, robustez e explicabilidade .
Educação e Formação Ética em IA
A formação de profissionais de saúde deve incluir educação sobre ética
em IA. Um estudo propõe a integração da ética da IA nos currículos médicos
existentes, preparando os futuros médicos para utilizar essas tecnologias de
forma segura e ética .
Conclusão
A convergência entre ética médica e inteligência artificial é inevitável
e necessária. À medida que a IA se torna uma ferramenta cada vez mais presente
na medicina, é imperativo que seu desenvolvimento e aplicação sejam guiados por
princípios éticos sólidos. A colaboração entre profissionais de saúde,
desenvolvedores de tecnologia, legisladores e a sociedade civil é essencial
para garantir que a IA na medicina promova o bem-estar humano, respeite os
direitos individuais e contribua para um sistema de saúde mais justo e eficaz.
Este artigo é baseado no conteúdo publicado em 28 de maio de 2025 por
Jean-Jacques Zambrowski no site 450.fm.
0 Comentários