James Anderson: O Arquiteto Das Constituições Maçônicas

 

Da Redação

Em 1739, faleceu em Londres, aos 60 anos, o reverendo e maçom James Anderson, deixando um legado que marcaria para sempre a história da Maçonaria especulativa. Nascido em 1679 em Aberdeen, na Escócia, Anderson trilhou um caminho que uniria a fé protestante, a erudição histórica e os princípios maçônicos, consagrando-o como uma das figuras centrais na consolidação da moderna Franco-Maçonaria.

Ordenado ministro da Igreja da Escócia em 1707, James Anderson transferiu-se para Londres pouco depois, assumindo inicialmente o púlpito da congregação da Glass House Street, onde permaneceu até 1710. Posteriormente, exerceu seu ministério na Igreja Presbiteriana da Swallow Street, onde pregou até 1734. Seus últimos anos foram dedicados à capela da Lisle Street, permanecendo ali até a sua morte. A sólida formação teológica e sua ativa participação no meio presbiteriano da capital inglesa colocaram Anderson em contato com círculos intelectuais e iniciáticos que fermentavam a nova Maçonaria especulativa, nascida justamente em Londres com a fundação da Grande Loja em 1717.

Mais do que ministro, James Anderson tornou-se Mestre Maçom de uma Loja em Londres e passou a ocupar cargos de destaque na Grande Loja de Londres e Westminster. Sua capacidade de pesquisa histórica, combinada com seu compromisso com a Fraternidade, fez com que, em setembro de 1721, fosse escolhido para uma missão de grande responsabilidade: compilar e redigir uma história da Maçonaria que também servisse de base normativa para a jovem Grande Loja.

Esse trabalho resultaria na obra mais famosa de Anderson: As Constituições dos Maçons Livres (The Constitutions of the Free-Masons), publicada em Londres em 1723. Embora o nome de Anderson não figurasse na folha de rosto da edição original, sua autoria é confirmada em um apêndice da própria obra, e desde então seu nome se tornou indissociável deste documento fundador.

A obra de Anderson consistia em duas partes principais: a "História dos Maçons" — onde traçava uma narrativa mítica e legendária da Maçonaria desde a Antiguidade até os tempos modernos — e as regras administrativas, chamadas de “Antigos Deveres” (Old Charges), que orientavam a conduta dos maçons e a organização das Lojas.

Ainda que vários dos aspectos históricos de sua narrativa sejam hoje considerados mais simbólicos do que factuais, as Constituições de 1723 estabeleceram os fundamentos organizacionais e filosóficos da Maçonaria especulativa, promovendo valores como a liberdade de consciência, a fraternidade universal e a busca pela verdade, princípios que distinguiriam a Ordem em relação a outras instituições de seu tempo.

A importância do trabalho de Anderson ultrapassou rapidamente os limites da Inglaterra. Sua obra foi reeditada e adaptada em diferentes contextos culturais e linguísticos. Já em 1734, a edição original foi levada à América pelo então jovem impressor Benjamin Franklin, em Filadélfia, tornando-se o primeiro livro maçônico impresso no continente americano. Essa edição americana foi fundamental para o florescimento da Maçonaria nas Treze Colônias, que futuramente desempenharia papel relevante na formação dos Estados Unidos.

Outras edições seguiram, como a versão holandesa de 1736, a alemã de 1741 e a francesa de 1745, permitindo que a visão de Anderson sobre a Maçonaria alcançasse um público global, unificando práticas e conceitos em diferentes nações e tradições maçônicas.

Em 1738, já próximo do fim de sua vida, James Anderson publicou uma segunda edição ampliada e revisada de suas Constituições, com mais detalhes históricos e algumas atualizações normativas. Esta edição buscava refletir o crescimento e a complexidade crescente da Maçonaria especulativa, que já se espalhava por vários países europeus e pelas colônias americanas.

Ao falecer em 1739, James Anderson deixou um dos legados mais perenes da história da Franco-Maçonaria. As Constituições de Anderson tornaram-se não apenas o texto organizador da Grande Loja de Londres e Westminster, mas um modelo a ser seguido por inúmeras obediências maçônicas mundo afora, inspirando adaptações, traduções e comentários até os dias atuais.

Embora as lendas que ele relatou sejam frequentemente vistas hoje com um olhar mais crítico, o espírito organizador, filosófico e universalista das Constituições permanece como um dos pilares essenciais da Maçonaria especulativa, garantindo unidade e identidade a uma Fraternidade global e diversa.

Assim, James Anderson não foi apenas o autor de um livro, mas o verdadeiro arquiteto jurídico, filosófico e espiritual de uma instituição que, há mais de três séculos, continua a trabalhar pela liberdade, igualdade, fraternidade e aperfeiçoamento moral e espiritual da humanidade.

Pesquisa e Edição: Luiz Sérgio Castro

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