Sic Transit Gloria Mundi “Assim passa a glória do mundo”

Por Cássio Almeida Lima

Com essas palavras, o mestre de cerimônias advertia o novo pontífice sobre a efemeridade do poder terreno durante as antigas cerimônias de coroação papal na Igreja Católica. Era um lembrete de que, mesmo ocupando a posição mais alta na hierarquia eclesiástica, o papa ainda era mortal e sujeito à transitoriedade da vida e das glórias mundanas. Esta também é a primeira frase dita pelo Venerável Mestre aos neófitos, quando despojados da venda material que os mantinha imersos na escuridão e cujos espíritos ansiavam ver a luz. Este ato solene e inesquecível para os maçons ensina que a Maçonaria a todos nivela e que aspirações profanas, como poder, riqueza e fama, são passageiras, assim como os cargos e insígnias maçônicas, que, por mais honrosos que sejam, não devem ser motivo de vaidade.

A vaidade dos cargos corrompe os valores fundamentais da ordem. Por essa razão, o caráter transitório da glória aparente dos cargos é crucial para manter o equilíbrio e preservar os valores maçônicos, lembrando ao maçom sua condição inicial de aprendiz. A cor do avental, as comendas, as insígnias e os graus são símbolos de reconhecimento pelos anos de estudos e trabalhos em prol da maçonaria, não instrumentos de envaidecimento. As glórias maçônicas passam, mas o legado de trabalho e dedicação é indelével.

O maçom deve combater, ainda, a soberba, que anda de mãos dadas com a vaidade. Juntos, esses dois vícios são característicos de uma pessoa arrogante e alimentam uma falsa sensação de superioridade, que a afasta dos valores essenciais da humildade, do respeito e da fraternidade ensinados na maçonaria. Um irmão soberbo anseia por ser reconhecido como maior do que os outros, seja por ocupar uma posição de autoridade maçônica, seja por possuir conhecimentos que julga superiores. Ele torna-se um mendigo de atenção. Ao buscar ser exaltado acima de seus iguais, esquece que a verdadeira grandeza está em servir, agir com retidão e contribuir para o bem coletivo. Como diz um provérbio italiano: “A soberba vai a cavalo e volta a pé”.

Um homem é verdadeiramente livre quando ergue a cabeça acima dos preconceitos e subjuga suas paixões. Mas essa liberdade se torna inalcançável quando ele se deixa dominar pela vaidade, que é uma forma sutil e destrutiva de escravidão. Ela aprisiona o indivíduo na busca incessante por aprovação e reconhecimento externos, desviando-o de sua essência e dos valores ensinados na maçonaria. O antídoto para combater a vaidade é a humildade, que permite ao homem reconhecer suas limitações e viver em harmonia tanto com seus irmãos quanto consigo mesmo. Como disse o escritor britânico C.S. Lewis, "A humildade não é pensar menos de si mesmo, mas pensar menos em si mesmo".

A palavra humilde tem sua origem no latim “humus”, que significa “terra” ou “solo”. A maçonaria nos convida a refletir sobre a inevitabilidade da morte e a transitoriedade da vida, lembrando-nos que somos pó e ao pó voltaremos (Gênesis 3, 19). Esse lembrete não é apenas um chamado à humildade, mas também uma oportunidade de refletir sobre a efemeridade das conquistas materiais e mundanas, inspirando-nos a desapegar da vaidade e a direcionar nossos esforços para valores mais elevados e duradouros, como o legado.

Falar sobre legado é refletir sobre o impacto que nossas ações têm na vida das pessoas. É a perpetuação das virtudes que cultivamos e dos exemplos que deixamos em vida. Enquanto os bens materiais e os títulos perecem com o tempo, a lembrança perdura no coração daqueles que foram inspirados por nossas atitudes. Como maçons, devemos ser modelos de dignidade, humildade e temperança, promovendo sabedoria, fraternidade e concórdia em todos os lugares por onde passarmos. Albert Pike resumiu essa ideia ao afirmar: "Aquilo que fazemos por nós mesmos morre conosco; o que fazemos pelos outros e pelo mundo permanece e é imortal."

Não nos deixemos enganar pelos falsos brilhos das coisas. A aparência muitas vezes seduz com promessas vazias de felicidade ou prestígio. É essencial aprendermos a discernir entre o que é efêmero e o que é eterno, praticando o desapego às riquezas, à fama e aos prazeres terrenos, visto que são transitórios. Como escreveu Tomás de Kempis em seu livro Imitação de Cristo: "Nada é mais fugaz do que a glória do mundo; é como o sopro do vento, que passa e se dissipa."


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