Com essas palavras, o mestre de cerimônias
advertia o novo pontífice sobre a efemeridade do poder terreno durante as
antigas cerimônias de coroação papal na Igreja Católica. Era um lembrete de
que, mesmo ocupando a posição mais alta na hierarquia eclesiástica, o papa
ainda era mortal e sujeito à transitoriedade da vida e das glórias mundanas.
Esta também é a primeira frase dita pelo Venerável Mestre aos neófitos, quando
despojados da venda material que os mantinha imersos na escuridão e cujos
espíritos ansiavam ver a luz. Este ato solene e inesquecível para os maçons
ensina que a Maçonaria a todos nivela e que aspirações profanas, como poder,
riqueza e fama, são passageiras, assim como os cargos e insígnias maçônicas,
que, por mais honrosos que sejam, não devem ser motivo de vaidade.
A vaidade dos cargos corrompe os valores
fundamentais da ordem. Por essa razão, o caráter transitório da glória aparente
dos cargos é crucial para manter o equilíbrio e preservar os valores maçônicos,
lembrando ao maçom sua condição inicial de aprendiz. A cor do avental, as
comendas, as insígnias e os graus são símbolos de reconhecimento pelos anos de
estudos e trabalhos em prol da maçonaria, não instrumentos de envaidecimento.
As glórias maçônicas passam, mas o legado de trabalho e dedicação é indelével.
O maçom deve combater, ainda, a soberba, que
anda de mãos dadas com a vaidade. Juntos, esses dois vícios são característicos
de uma pessoa arrogante e alimentam uma falsa sensação de superioridade, que a
afasta dos valores essenciais da humildade, do respeito e da fraternidade
ensinados na maçonaria. Um irmão soberbo anseia por ser reconhecido como maior
do que os outros, seja por ocupar uma posição de autoridade maçônica, seja por
possuir conhecimentos que julga superiores. Ele torna-se um mendigo de atenção.
Ao buscar ser exaltado acima de seus iguais, esquece que a verdadeira grandeza
está em servir, agir com retidão e contribuir para o bem coletivo. Como diz um
provérbio italiano: “A soberba vai a cavalo e volta a pé”.
Um homem é verdadeiramente livre quando ergue a
cabeça acima dos preconceitos e subjuga suas paixões. Mas essa liberdade se
torna inalcançável quando ele se deixa dominar pela vaidade, que é uma forma
sutil e destrutiva de escravidão. Ela aprisiona o indivíduo na busca incessante
por aprovação e reconhecimento externos, desviando-o de sua essência e dos
valores ensinados na maçonaria. O antídoto para combater a vaidade é a
humildade, que permite ao homem reconhecer suas limitações e viver em harmonia
tanto com seus irmãos quanto consigo mesmo. Como disse o escritor britânico
C.S. Lewis, "A humildade não é pensar menos de si mesmo, mas pensar
menos em si mesmo".
A palavra humilde tem sua origem no latim
“humus”, que significa “terra” ou “solo”. A maçonaria nos convida a
refletir sobre a inevitabilidade da morte e a transitoriedade da vida,
lembrando-nos que somos pó e ao pó voltaremos (Gênesis 3, 19). Esse lembrete
não é apenas um chamado à humildade, mas também uma oportunidade de refletir sobre
a efemeridade das conquistas materiais e mundanas, inspirando-nos a desapegar
da vaidade e a direcionar nossos esforços para valores mais elevados e
duradouros, como o legado.
Falar sobre legado é refletir sobre o impacto
que nossas ações têm na vida das pessoas. É a perpetuação das virtudes que
cultivamos e dos exemplos que deixamos em vida. Enquanto os bens materiais e os
títulos perecem com o tempo, a lembrança perdura no coração daqueles que foram
inspirados por nossas atitudes. Como maçons, devemos ser modelos de dignidade,
humildade e temperança, promovendo sabedoria, fraternidade e concórdia em todos
os lugares por onde passarmos. Albert Pike resumiu essa ideia ao afirmar: "Aquilo
que fazemos por nós mesmos morre conosco; o que fazemos pelos outros e pelo
mundo permanece e é imortal."
Não nos deixemos enganar pelos falsos brilhos
das coisas. A aparência muitas vezes seduz com promessas vazias de felicidade
ou prestígio. É essencial aprendermos a discernir entre o que é efêmero e o que
é eterno, praticando o desapego às riquezas, à fama e aos prazeres terrenos,
visto que são transitórios. Como escreveu Tomás de Kempis em seu livro Imitação
de Cristo: "Nada é mais fugaz do que a glória do mundo; é como o sopro
do vento, que passa e se dissipa."
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