A Tocha e o Futuro


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Da Redação

140 anos após sua chegada a Nova York, a estátua esculpida pelo irmão Bartholdi continua a falar à humanidade — marcada por guerras, desigualdades e novas formas de escravidão digital.

Liberty Enlightening the World” não é apenas o nome de uma estátua. É uma declaração universal, um chamado eterno, um símbolo de Luz esculpido na matéria para dialogar com o espírito. Em 17 de junho de 1885, quando o navio Isère atracou no porto de Nova York com 214 caixas contendo a Estátua da Liberdade, não era apenas um presente da França aos Estados Unidos que chegava ao Novo Mundo — era uma obra sagrada da consciência humana, concebida, projetada e realizada por Irmãos sob a orientação interior do compasso e do esquadro.

Hoje, exatos 140 anos após aquele dia, sua chama ainda brilha. Porém, em um mundo confuso e polarizado, onde a palavra "liberdade" é esvaziada, abusada ou temida, cabe ao homem iniciado, pensante e livre redescobrir seu significado mais elevado. Afinal, essa estátua não é apenas um monumento: é uma iniciação coletiva à Luz.

Uma Obra Maçônica

A criação da estátua é atribuída ao irmão Frédéric-Auguste Bartholdi, mestre maçom filiado à loja Alsace-Lorraine n.º 89, no Oriente de Paris. Nascido em Colmar, em 1834, era escultor renomado, republicano convicto e defensor da laicidade. Antes mesmo de moldar matéria, Bartholdi era um artista da alma. Não criava apenas formas — infundia significados nelas.

Formado nos círculos culturais e espirituais da Terceira República Francesa, encontrou na Maçonaria um idioma universal para dar forma à sua visão de mundo. Para Bartholdi, a Estátua da Liberdade nunca foi apenas arte — foi missão. Inseriu nela símbolos maçônicos que conhecia e praticava: 

- A tocha como Luz iniciática 

- A tábua da Lei como base do Direito Natural 

- Correntes quebradas como libertação da ignorância e servidão 

- A coroa de sete raios como referência aos graus da perfeição, dias da criação e planetas sagrados 

Um Livro de Pedra

A estátua é um livro feito de pedra e luz, como uma catedral gótica ou um templo iniciático. Nada nela é casual ou meramente decorativo. Cada elemento fala uma linguagem antiga e sagrada. A tábua com a data de 4 de julho de 1776 não é apenas memória histórica — é promessa de autodeterminação. As correntes quebradas aos seus pés não remetem apenas à escravidão abolida, mas à transição visível das trevas à Luz.

Seu rosto, inspirado na mãe de Bartholdi, olha para o futuro, guardando uma esperança eterna. O olhar severo e sereno é de quem entende que a Liberdade, para existir verdadeiramente, requer vigilância, consciência e educação.

Um Templo a Céu Aberto

A Liberdade é uma condição do ser — um caminho. Não é um bem concedido, é uma conquista individual e coletiva. Por isso, a Estátua da Liberdade é um templo laico a céu aberto.

Foi concebida como tal por irmãos como Édouard René de Laboulaye — jurista, fervoroso republicano e maçom que incentivou Bartholdi a concretizar o sonho: um sinal visível da amizade entre as duas repúblicas, mas sobretudo um símbolo compartilhado de uma humanidade que deseja ser livre e fraterna.

O projeto foi uma obra maçônica coletiva. Contribuíram Gustave Eiffel (também iniciado), lojas e instituições culturais de ambos os continentes. Mais que uma façanha arquitetônica, foi uma invocação à Luz, erguida sobre os fundamentos da Fraternidade universal.

Um Farol para o Presente

Hoje, mais do que nunca, a Estátua da Liberdade clama por nossa responsabilidade. Em tempos em que novas escravidões digitais, sociais e culturais invadem mentes e corações, a tocha erguida ao céu nos diz: não deixe sua chama se apagar.

Não abandone seu templo interior. Não pare de buscar a Verdade.

Em uma era que constrói muros em vez de pontes, que usa palavras para dividir ao invés de unir, o recado de Bartholdi e seus Irmãos ressoa com força: Liberdade é o nome terreno da Luz. E como a Luz, não se impõe: irradia.

Em 17 de junho de 1885, não chegou a Nova York apenas uma estátua — chegou uma promessa.

Hoje, em 2025, essa promessa ainda vive, mas está frágil. Se a liberdade não for alimentada, apaga-se. Se não for compreendida, corrompe-se. Se não for protegida, vira seu oposto.

A estátua não está ali para nos tranquilizar — está para nos questionar.

Ainda somos dignos de sua tocha? Ainda conseguimos enxergar seus símbolos? Compreendê-los? Encarná-los?

Frédéric-Auguste Bartholdi, falecido em 1904, não viu sua obra plenamente realizada, mas vislumbrou sua força imortal. Deu ao mundo não apenas uma figura, mas um propósito.

Hoje, o dever de continuá-lo é nosso. Porque só quem passou pelas trevas conhece verdadeiramente o valor da Liberdade. E apenas quem a honra diariamente é digno de levá-la no coração — e no mundo.


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