O Templo de um Verdadeiro Iniciado - Conjecturas à Luz da Maçonaria Contemporânea


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Por Ir.'. Dário Angelo Baggieri (*)


Estamos vivenciando uma Maçonaria conflituosa nos dias atuais ou seriam maçons em conflito?

O interregno que estamos observando em nossos Templos mostra, aos irmãos mais observadores, que existem duas correntes que veladamente se demandam: a dos mais antigos, bastante conservadora nas tradições de nossa Sublime Ordem, e a dos mais jovens, adeptos da modernidade da tecnologia da informação e da inteligência artificial. Esse conflito se traduz com o aumento expressivo da evasão que estamos vivenciando e que vem se agravando nessas três últimas décadas, sendo que a Maçonaria Universal perdeu mais de 30% dos seus iniciados nos últimos 15 anos, conforme pesquisa da GLMDF divulgada, e que ainda mostra que o único país que ainda se mantém com crescimento ponderal positivo no mundo é o Brasil.

Essa evasão está se acelerando e vemos que incide principalmente naqueles irmãos com menos de 5 anos de iniciados, que se mostram desmotivados, desiludidos e até mesmo decepcionados pelo ostracismo cultural, ritualístico, inercial, pela falta de ações planificadas, vendo uma Maçonaria que está vivendo das glórias do passado e onde as vaidades pessoais imperam de maneira pomposa e até mesmo acintosa, de uma vulgaridade ímpar até então nunca presenciada.

Voltando à baila de nosso ensaio, frisamos que o verdadeiro templo de um maçom não é uma estrutura física, mas sim o seu próprio ser, o seu interior, onde a construção moral e espiritual ocorre. Embora os maçons se reúnam em templos físicos para rituais e estudos, o objetivo final é a transformação interior e a busca pela verdade. O templo, em si, é carregado de simbolismo, representando o universo, o corpo humano e o caminho para a iluminação.

Academicamente, poderemos dizer que ele é geralmente dividido em três partes: Ocidente (mundo material), Oriente (mundo espiritual) e a área central (o homem). Sua orientação do Ocidente para o Oriente simboliza a jornada do maçom em direção à luz e ao conhecimento, buscando desenvolver virtudes como amor, amizade, razão, humildade e perseverança, afastando-se de vícios e ambições egoístas.

Em resumo: embora os templos físicos sejam importantes para os rituais e o estudo, o verdadeiro templo maçônico é a jornada de transformação interior que cada um deve empreender em sua individual busca pela verdade e pelo aprimoramento moral e espiritual.

A grande maioria dos que estão adentrando em nossas colunas o fazem por cinco motivos principais, segundo estudos realizados por irmãos estudiosos, em um grupo especialmente montado aqui nas Três Fronteiras, que englobam Bahia, Espírito Santo e Minas Gerais. Nessa pesquisa de dois anos, que foi finalizada há poucos dias e estava sendo processada com criteriosa análise de abnegados irmãos, foi criado um perfil do maçom evasor.

O Maçom evasor (que deixa a instituição), em sua maioria, é:

Ainda não Mestre Maçom (ou Mestre com tempo de interstício baixo);

Com menos de 5 anos de Maçonaria;

Casado;

Sem religião declarada;

Com ensino superior;

Renda mensal entre 5 e 10 mil reais.

58% dos maçons brasileiros têm acima de 60 anos.

Apenas 1/3 dos maçons brasileiros têm menos de 46 anos de idade.

Há um conflito de gerações na Maçonaria brasileira entre os maçons com menos de 46 anos e os de mais idade. A geração mais jovem apresenta características mais críticas, tem uma média maior de nível de escolaridade e de hábito de leitura.

Os anseios dos maçons mais jovens divergem essencialmente dos anseios dos maçons idosos. A geração mais jovem apresenta características mais críticas, tem uma média maior de nível de escolaridade e de hábito de leitura. Os anseios dos maçons mais jovens divergem dos dos mais idosos.

Outro fator citado pelo relatório da equipe são as insatisfações apontadas, dentre as quais citamos os chamados “profanos de avental”, como são conhecidos no Brasil os maçons que não têm comportamento e compromisso maçônico, dentro e fora dos templos, o que desmotiva os mais jovens que se desiludem com aqueles que deveriam ser escopos das virtudes e dos bons costumes.

Ainda, essa camada mais jovem, com comportamento mais questionador, aponta suas insatisfações em relação às "reuniões sem conteúdo" e também ao "desinteresse" dos irmãos maçons que não têm comportamento maçônico, que somente vão às reuniões para destilarem desavenças e exporem suas "medalhas e títulos".

Nessas pesquisas ainda se indica que há muita desvalorização dos Aprendizes e Companheiros em Loja. Não há um planejamento das sessões, inexiste a capacitação e desenvolvimento dos recém-iniciados. Geralmente são ministradas apenas as instruções obrigatórias e nada mais.

Mas essa pesquisa profunda também aponta soluções. Como as causas da evasão são bem diversificadas, essas soluções mais importantes são:

Implantar um rigoroso processo de formação maçônica;

Promover ações sociais, de forma estruturada;

Promover ações políticas, implementando a “Maçonaria Executiva”;

Valorização individual pela meritocracia de cada um;

Formação maçônica:

Com otimização do espaço e do tempo;

Valorização do ensino maçônico;

Motivação e participação do Mestre;

Incentivo aos obreiros para o estudo e a pesquisa;

Melhor compreensão da Instituição.

No Grau de Aprendiz Maçom:

A Loja é o referencial;

A Loja é a responsável pela sua formação;

A Loja é quem deve estar preparada, propiciar as condições que promovam o seu aprimoramento educacional, motivacional e insercional doutrinário.

Para o Companheiro Maçom:

Desenvolvimento do que é fraternidade;

Desenvolver-se e conhecer-se;

Dominar os conhecimentos para compreender o que é a vida, dentro e fora do Templo, na família e na sociedade como um todo.

E ao Mestre Maçom:

Ele é o referencial;

Ele é o responsável pela continuidade e pelo processo de educação e formação dentro da Loja;

Realizar obras no sentido individual e coletivo;

Difundir as ideias, a ética e a moral maçônicas.

Essas regras devem ser implementadas em um trabalho coletivo, no templo físico de nossas oficinas.

Agora, voltando ao templo interior de cada um de nós, vemos uma diversidade de pensamentos, paradigmas dos mais variados matizes sociais e culturais, e isso nos traz um novo desafio a ser equacionado:

Como trabalhar o templo interior de cada um de nós?

Mesmo diante de desafios, temos ferramentas e técnicas:

Estudo e reflexão: aprofundar-se nos ensinamentos maçônicos, refletindo sobre seus significados e aplicações práticas.

Meditação: praticar a meditação para acalmar a mente, aumentar a concentração e fortalecer a conexão com o interior.

Oração: buscar a conexão com o divino, através da oração, para encontrar orientação e força interior.

Ritualística: participar ativamente dos rituais maçônicos, utilizando-os como ferramentas de transformação interior.

Em resumo, o trabalho no templo interior na Maçonaria é uma jornada pessoal de transformação, onde o maçom deve buscar construir um caráter virtuoso e uma vida alinhada com os princípios maçônicos, utilizando os ensinamentos, símbolos e ferramentas da ordem como guia.

É na maturidade que o homem verdadeiramente iniciado desperta e se considera parte de um templo maior que consiste em toda a vida do “grande” Universo. Conscientiza-se de que concorre para a realização de todo o esplendor do milagre da vida, estabelecido em leis naturais espantosas, só compreendidas no amadurecimento espiritual.

Os maçons reúnem-se num templo de pedra que representa o universo, local sagrado onde cada indivíduo reconstrói o seu próprio lugar sagrado, o templo de si mesmo. É nesse local também onde se provoca e incentiva o seu irmão a edificar e melhorar o seu templo. Cada um atua num templo de carne, que é a representação em miniatura do universo dentro de um templo de pedra que o representa.

Os templos, melhorados pelo trabalho em si mesmos, agradecem ao privilégio de vestirem ossos com carne, animados pela força ativa do espírito que exalta o dom da vida.

É pelo conjunto de todo o trabalho de construção e reconstrução, planejado racionalmente, que o maçom declara a glória do Grande Arquiteto do Universo, reconhecendo Seu infinito poder e nossa infinita fraqueza, e que Ele transcende qualquer limitação humana, sendo a fonte de toda a criação e capaz de realizar feitos extraordinários.

Ao reconhecermos esse poder, somos impelidos a confiar em Sua sabedoria e direção em nossas vidas, buscando uma relação mais profunda com Ele e permitindo que Sua vontade se manifeste em nós.

Somente assim teremos purificado o nosso Templo Interior, local que deve abrigar o Supremo Arquiteto do Universo.


Bibliografia

SPOLADORE, Hercule. O Homem, o Maçom e a Ordem, ISBN 85-7252-204-2, 1ª ed., Editora Maçônica A Trolha Ltda., Londrina, 2005.

CAMINO, Rizzardo da. Rito Escocês Antigo e Aceito – Graus um ao Trinta e Três, ISBN 978-85-370-0222-3, 1ª ed., Madras Editora Ltda., São Paulo, 2009.

CLAUSEN, Henry C. Comentários sobre Moral e Dogma, 1ª ed., 248 páginas, EUA, 1974.

MIRANDA, Pedro Campos de. Os Caminhos da Maçonaria, ISBN 85-7252-216-6, 1ª ed., Editora Maçônica A Trolha Ltda., Londrina, 2006.


Ir.'. Dário Angelo Baggieri

M.'.I.'. CIM 157465

Cadeira nº 1 da AMLES – Patrono Alferes Tiradentes

 


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