A verdade não é um dogma nem uma palavra de
ordem, mas uma busca constante por desvendar os enigmas da vida e suas
circunstâncias. Não se trata apenas de fatos comprováveis, mas de uma harmonia
entre o pensamento, os fatos e a intersubjetividade humana. Em tempos de
desinformação, essa busca torna-se um ato de coragem.
A justiça e a equidade, valores centrais em
nossa sociedade, exigem discernimento: a capacidade de separar o ilusório do
real, o falso do autêntico. Isso requer inteligência e consciência. Trata-se de
um exercício de responsabilidade moral diante da confusão intencional que se
disfarça de verdade, exaltando a mentira e o engano por meio de crenças que se
apresentam como superiores ao saber, desprezando a investigação e a ciência.
Em um sentido profundo, isso representa a perda
do significado da verdade, fenômeno relacionado ao realismo pragmático. Nas
palavras de María Elena Candioti de Zan, citadas na Revista de Filosofía de
Santa Fé, essa abordagem concebe a verdade como a base do conhecimento,
estruturada a partir do racionalismo por meio da lógica, da dedução ou da
dúvida metódica. Por outro lado, o empirismo resgata a experiência e a
percepção como fontes legítimas de saber, projetando-nos para um conhecimento a
posteriori, baseado naquilo que sentimos ou observamos.
Contudo, atualmente, já não é sustentável a
ideia de uma correspondência absoluta entre a realidade estruturada e a
verdade. Surgiu o fenômeno da pós-verdade, que, enquanto fenômeno social e
cultural, molda julgamentos e crenças, desarticulando as bases do conhecimento
científico e objetivo. A pós-verdade manipula ideias e sentimentos através do
poder da informação, atraindo a sociedade para construções que beiram o falso.
Nesse contexto, apenas a partir da consciência do erro pode-se explicar a
distância entre uma verdade genuína e a justificação de um fato.
A diversidade, então, torna-se uma aliada
indispensável. Ouvir múltiplas vozes, acolher diferentes perspectivas e
confrontar visões opostas permite contrariar a simplificação polarizadora das fake
news. A pluralidade não ameaça a verdade; ao contrário, revela-a sob múltiplos
ângulos e amplia o pensamento divergente. Isso se traduz no reconhecimento da
universalidade dos valores humanos acima de ideologias ou crenças particulares.
O valor da equidade nos lembra que não há
justiça sem verdade, nem verdade sem justiça. A equidade não é uma igualdade
matemática, mas a aplicação justa dos princípios em cada caso particular. Em um
mundo saturado de informações tendenciosas, ser equitativo significa resistir
ao conforto dos extremos e buscar o justo meio com integridade e compaixão.
A dissolução dos princípios de equidade,
participação e responsabilidade deixa a sociedade desprotegida, exposta às
regras do abuso e à hegemonia de grupos de interesse que atuam em sentido
contrário aos ideais da humanidade, muitas vezes sem nenhum contrapeso.
Infelizmente, em várias regiões do mundo, assistimos com tristeza a tentativas de eliminar a diversidade, de uniformizar etnica e ideologicamente por meio da violência, e de destruir as bases da democracia usando como desculpa fatores econômicos, a migração ou a intolerância religiosa. Líderes mundiais, muitas vezes referências em diferentes latitudes — inclusive na nossa —, recorrem à confusão e manipulam a informação para fomentar a polarização. Criam caos e desesperança, erguem barreiras, desumanizam a linguagem e alimentam a iniquidade e a injustiça, desvalorizando o ser humano por meio do ódio, quando este não se ajusta a seus métodos.
Tudo isso deve nos levar à reflexão: somente
por meio da busca honesta pela verdade poderemos ampliar a justiça e a
equidade. Somente com participação social diversa, em uma construção
democrática autêntica, será possível resistir aos efeitos discriminatórios da
pós-verdade e frear a desconstrução do bem comum.
Fonte: Revista Occidente 562
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