Do Aprendiz ao Mestre: A Tríade 3–5–9 como Síntese da Iniciação

 



Por João Alexandre Paschoalin Filho, 33 (*)

Na Maçonaria, os graus simbólicos, Aprendiz, Companheiro e Mestre, formam a Loja Azul e guardam uma sequência numérica oculta: 3, 5 e 9. Embora conhecida, poucos se aprofundam em seu real sentido, analisando-os de forma fragmentada, quando na verdade representam um caminho contínuo de formação iniciática.

Este ensaio busca lançar uma interpretação ousada, conectando essa sequência aos ensinamentos das antigas escolas de mistério, lembrando que o conhecimento maçônico deve ser holístico e não reduzido a apenas moralidade superficial.

A Ordem Maçônica é um repositório de saberes esotéricos preservados contra perseguições e abriga símbolos que remetem à alquimia, à Cabala e à astrologia. Entre eles, a cor azul se destaca: primária, pura e espiritual, evoca introspecção, serenidade e elevação da alma, relacionando-se ao céu, ao infinito e ao elemento Ar, além de estar ligada a Júpiter e Mercúrio, símbolos da sabedoria e da inteligência. A seguir, dissertemos acerca da sequência 3-5-9:

O número três e o grau de Aprendiz Maçom

O número três é um dos mais poderosos arquétipos da tradição esotérica, sendo a tríade que reconcilia os opostos e conduz ao equilíbrio. Representa os ciclos existenciais, as trindades sagradas e o triângulo, primeira forma geométrica estável.

Na Cabala, está ligado às sefirot superiores, Kether, Chokmah e Binah, ao mundo da emanação pura, e à letra Ghimel, símbolo do movimento e da misericórdia que faz a mediação entre o Criador e a criação. Esotericamente, conecta-se também à Terra, terceiro planeta, onde o espírito experimenta a dualidade e cumpre sua jornada cármica rumo à centelha divina.

Astrologicamente, relaciona-se a Gêmeos e a Mercúrio, arquétipos da dualidade consciente, da mente e da linguagem. Na alquimia, expressa a tríade sal, enxofre e mercúrio; corpo, alma e espírito, e as três grandes operações: nigredo, albedo e citrinitas.

No grau de Aprendiz, o iniciado vivencia esse processo: mergulha no nigredo (a morte do ego), inicia a purificação no albedo e prepara-se para o despertar solar da consciência, promessa da iluminação futura.

No Tarô, o número três revela-se na Imperatriz, arquétipo da criação e da fertilidade, em que a ideia ganha forma e o espírito se manifesta na matéria. Essa imagem reflete a condição do Aprendiz Maçom, que dá seus três passos rumo à Luz, gesto que simboliza o despertar da consciência e o início do trabalho interior.

Enraizado na Terra, o terceiro planeta, ele atua na matéria, trabalhando a pedra bruta e cultivando em silêncio os valores que germinarão no futuro, tal como o solo fértil que recebe a semente iniciática.

O triângulo, primeira figura estável, representa o equilíbrio entre pensar, falar e agir, sustentado pelos pilares de Sabedoria, Força e Beleza. Embora ainda limitado à dimensão material, o Aprendiz já é tocado pela emanação divina de Atziluth, pressentindo a transcendência.

Sentado na coluna do Norte, associada à energia feminina e receptiva, ele assume o papel de receptáculo: potência latente que aguarda ser preenchida pela sabedoria. Assim, a dualidade expressa nas colunas Boaz e Jachim e no pavimento mosaico não é obstáculo, mas campo de aprendizado, onde o Aprendiz aprende a integrar opostos e preparar-se como vaso consciente da Luz.

Assim, o três define o princípio estruturado da Obra da do Aprendiz: Ghimel, movimento e misericórdia; Terra, consciência encarnada; triângulo, estabilidade primordial; Imperatriz, terreno fértil da criação; Mercúrio/Gêmeos, mente desperta; e seu lugar no templo, Boaz, indicando a passividade necessária para receber o conhecimento .

A iniciação do Aprendiz é reflexo da Grande Obra Alquímica. No Nigredo, vivido na Câmara de Reflexão, enfrenta o silêncio, a morte simbólica e o caos necessário para dissolver o ego. No Albedo, atravessa as provas dos elementos, purificando vontade, emoções e pensamento, distinguindo essência de aparência. E no Citrinitas, quando a venda é retirada, recebe a luz: o despertar da visão espiritual, prenúncio do Sol interior que nasce em sua alma.

Assim, o Aprendiz não é apenas iniciado, mas transmutado. Ele é a matéria e o alquimista, a pedra e a ferramenta, o operário e a obra. Seu compromisso é cultivar a chama que lhe foi confiada, prosseguindo no caminho que conduz à reintegração plena com a Verdade.

O número cinco e o grau de Companheiro Maçom

O número cinco, essência do grau de Companheiro, manifesta-se no pentagrama erguido, símbolo do Homem Perfeito, aquele que supera a matéria do quaternário e se eleva ao conhecimento e à espiritualidade.

Representa Adam Kadmon, arquétipo da humanidade antes da queda, e integra na alquimia os quatro elementos acrescidos do quinto: o éter. Sua geometria revela a razão áurea, tornando-se imagem da harmonia universal e da união entre microcosmo e macrocosmo, ecoando o princípio hermético: “o que está em cima é como o que está embaixo”.

No templo, o pentagrama resplandece como Estrela Flamígera, contendo em seu centro a letra G, o Olho da Providência, o Iod ou o Tetragrama, irradiando a centelha divina e a luz do conhecimento que desperta a consciência. Não é ornamento, mas chama espiritual que purifica e ilumina, fogo alquímico que dissolve impurezas e prepara o Companheiro para a transmutação interior. A Estrela é, assim, a presença do divino no homem, ponte entre finito e infinito, entre o mundo visível e os mistérios ocultos.

No alfabeto hebraico, o número cinco corresponde à letra Hei, símbolo do sopro divino e da revelação. Formada pela união do Daleth (pobreza, mundo material) e do Vav (o que desce dos céus), ela expressa a presença de Deus que se revela na criação.

No Tetragrama Sagrado, aparece duas vezes, reforçando sua função de ponte entre mundos. Na Cabala, o cinco remete à sefirá Gevurah, o rigor e o julgamento, que só encontra equilíbrio em Chesed, a misericórdia. Assim, o cinco manifesta a justiça divina: firme, mas temperada pelo amor.

O simbolismo do número expande-se ainda mais: cinco são os livros da Torá, as divisões dos Salmos, os mandamentos repartidos nas tábuas; cinco as feridas de Cristo, os pães que alimentaram a multidão, os sentidos humanos e as extremidades do corpo. Trata-se, portanto, de um número de revelação, equilíbrio e totalidade.

No Tarô, o cinco se expressa no arcano do Hierofante (Papa), mestre espiritual e transmissor da tradição, guardião dos mistérios e ponte entre o divino e o humano. Sentado entre duas colunas, ele ensina que a verdadeira iniciação une fé e razão, espírito e matéria. É arquétipo do homem completo: quatro membros e a cabeça, cinco sentidos, cinco elementos, guiado pela luz da sabedoria.

O número cinco, ligado a Júpiter, arquétipo da expansão da consciência e da justiça divina, e ao signo de Leão, regido pelo Sol, expressa a plenitude criadora e a consciência irradiadora do homem que desperta sua centelha divina. No centro da cruz simbólica, onde se encontra a rosa mística, o cinco assinala a vitória do espírito sobre a matéria.

No grau de Companheiro, esse princípio manifesta-se nas cinco viagens, que simbolizam etapas do despertar da consciência, e nas ferramentas, régua, maço, cinzel, alavanca e esquadro, que traduzem força, rigor, medida e transformação. O Companheiro não desbasta apenas a pedra bruta exterior, mas a si mesmo, buscando integrar corpo, mente e espírito. A Estrela Flamígera, reflexo do Adam Kadmon e do Sol interior, torna-se o emblema de sua jornada: luz da sabedoria, centro criador e expressão da harmonia entre microcosmo e macrocosmo.

Assim, o número cinco é o selo da transmutação espiritual: o Companheiro já não apenas aprende, mas começa a ensinar pelo exemplo, tornando-se ponte entre mundos, reflexo vivo da ordem cósmica e irradiador da luz do Espírito.

O número nove e o grau de Mestre Maçom

Passemos agora a especular acerca do número nove e seus mistérios. Este apresenta uma forte conotação com tudo aquilo que é eterno e imortal, na essência e na constância, uma vez que possui uma interessante particularidade matemática: todo número multiplicado por nove termina sempre retornando a este. Por exemplo:

  • 3 x 9 = 27 = 2+7 = 9
  • 45 x 9 = 405 = 4+5 = 9
  • 2758 x 9 = 24822 = 2+4+8+2+2= 18=1+8=9

O número 9 é visto como símbolo de perfeição, conclusão e transformação. Nas escolas pitagóricas, representava o coroamento da evolução espiritual, pois resulta do triplo do 3, número sagrado e harmônico, sendo associado à maturidade do Mestre.

Na alquimia, corresponde ao ponto máximo da Grande Obra antes da iluminação definitiva, momento em que a matéria já foi purificada em todas as etapas e resta apenas a depuração final. Relaciona-se à Trindade Universal, Sal, Enxofre e Mercúrio, elevada ao seu potencial pleno, simbolizando a reintegração entre o homem e o divino.

Na astronomia e na mitologia, o 9 conecta-se a Plutão, planeta da morte, do renascimento e da transformação profunda, ligado ao deus Hades e ao processo iniciático de descida ao inconsciente para resgatar riquezas espirituais, em que o ego deve morrer para o ser verdadeiro renascer.

Na astrologia, embora Plutão seja regente moderno de Escorpião, sua posição como nono planeta o coloca como guardião do portal que liga Escorpião, signo da prova e da purificação, a Sagitário, signo da expansão e da verdade. Assim, o 9 representa o rito de passagem: a travessia pelas sombras interiores que encerra um ciclo e abre outro em um nível mais elevado de consciência.

No alfabeto hebraico, o número nove é representado pela letra Têt, conhecida como “a letra da bondade” por iniciar a palavra tov (“bom”), embora também dê origem a termos como tamê (impuro) e tahor (puro), revelando sua ambivalência. Seu formato fechado lembra um útero, símbolo de gestação e de ciclos, remetendo aos nove meses necessários para que a vida se manifeste.

Na Cabala, o nove corresponde à sefirá Yesod, situada no pilar central da Árvore da Vida como fundamento que equilibra as polaridades ativa e passiva e conecta o mundo material de Assiah ao mundo sutil de Yetzirah, marcando o primeiro passo da ascensão rumo a Kether.

No Tarot, está ligado ao arcano do Eremita, representado por um ancião com manto, lanterna e cajado, arquétipo do iniciado que se afasta das ilusões materiais para buscar a luz interior e sustentar-se pela tradição e pela persistência, ocultando sob o manto o conhecimento sagrado adquirido.

Em sua dimensão geométrica, o número nove se expressa no Eneagrama ou estrela de nove pontas, figura de grande importância esotérica, associada à síntese de ciclos, à culminância espiritual e à integração da consciência. Suas variações de traçado refletem diferentes padrões energéticos e a estrela é relacionada aos nove planetas, aos nove coros angélicos e aos nove portais iniciáticos.

Cada ponta corresponde a uma etapa da jornada espiritual, e o movimento interno de suas linhas simboliza a dinâmica entre estados de ser. Por isso, o Eneagrama é considerado tanto um selo de proteção quanto uma chave meditativa, ensinando que a evolução verdadeira é circular e cíclica, mas ao mesmo tempo se expande em espiral rumo ao infinito.

No Grau de Mestre Maçom, o número nove revela-se em toda a sua profundidade como símbolo de fechamento de ciclo e portal para uma nova consciência. A letra hebraica Têt, ligada à ideia de gestação na escuridão antes da luz, encontra eco na lenda de Hiram Abiff, cujo corpo ocultado representa a semente depositada na terra à espera do renascimento.

Essa narrativa concentra o simbolismo do grau: Hiram, arquiteto do Templo de Salomão, é morto por três companheiros movidos por ambição e ignorância, que simbolizam as paixões humanas capazes de corromper o trabalho espiritual. Sua morte dentro do Templo, entendido como o santuário interno da alma, expressa a dissolução do ego e a desconstrução da antiga identidade, necessárias para que o iniciado renasça em um novo nível de consciência.

O sepultamento de Hiram, marcado pela acácia incorruptível, aponta para a imortalidade da essência e para a certeza da renovação. Quando desenterrado, a Palavra original não é recuperada, mas substituída por uma Nova Palavra, sinal de que a verdadeira sabedoria não é devolvida como antes, mas transformada pela experiência da morte iniciática. Esse processo corresponde ao simbolismo de Plutão, planeta da morte e da regeneração, que exige a descida às profundezas e a dissolução do ego para que a luz possa renascer.

No plano geométrico, o Eneagrama exprime a culminância espiritual e a integração dos graus anteriores, encerrando a tríade Aprendiz–Companheiro–Mestre. Na Cabala, o Mestre manifesta a sefirá Yesod, fundamento que une o invisível ao visível, ponto de transição entre a morte e a nova vida, tornando-se canal de projeção da luz espiritual no mundo.

No Tarot, essa etapa é representada pelo Eremita, que caminha solitário iluminado pela lanterna da sabedoria adquirida, guiando os demais apenas o suficiente para que avancem por si mesmos.

A astrologia reforça a passagem do Escorpião para Sagitário como chave simbólica: o primeiro representa a prova, a morte e a regeneração, enquanto o segundo anuncia a visão ampliada e a expansão da consciência após a travessia. Na alquimia, o Mestre é aquele que, como o alquimista ao criar a pedra filosofal, unifica Sal, Enxofre e Mercúrio; corpo, alma e espírito em harmonia.

Assim, o Grau de Mestre não se limita a concluir um percurso, mas consagra a edificação interior, sustentada pela vitória sobre as limitações humanas, pela incorruptibilidade simbolizada pela acácia e pela posse de um novo Verbo criador. É a síntese que integra e eleva, preparando o iniciado para os degraus mais altos da senda iniciática.

Conclusão

A progressão dos números 3, 5 e 9 revela que os graus simbólicos não devem ser compreendidos como etapas isoladas, mas como uma jornada iniciática coesa que conduz o homem da matéria à plenitude espiritual.

O Aprendiz, regido pelo três, aprende a despertar e a trabalhar a pedra bruta; o Companheiro, sustentado pelo cinco, integra os elementos e harmoniza corpo, mente e espírito; e o Mestre, coroado pelo nove, experimenta a morte simbólica e o renascimento, alcançando a síntese de todo o processo.

Esses números, presentes nas tradições pitagóricas, cabalísticas, alquímicas, astrológicas e cristãs, não apenas ilustram conceitos filosóficos, mas também funcionam como mapas internos para a construção do templo interior.

No nove, em especial, encontram-se a perfeição e o portal para uma nova consciência, lembrando que a iniciação não termina na Loja Azul, mas continua em planos mais elevados, desafiando o iniciado a transcender suas próprias limitações.

Assim, a Loja Simbólica, longe de ser apenas um espaço de moralidade ou instrução formal, torna-se o laboratório alquímico da alma, onde cada símbolo é uma chave, cada número um degrau e cada ritual uma preparação para a reintegração com o Divino. O verdadeiro Mestre, ao compreender essa progressão, reconhece que a Obra não se encerra em si mesma, mas se renova continuamente em espiral ascendente, conduzindo à eternidade e à Luz.



(*) João Alexandre Paschoalin Filho, 33

Loja Constância 1147 – Oriente de Campinas

Membro da Academia Campineira Maçônica de Letras – cadeira 23

Referências:

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