Imagine-se na Inglaterra, em um campo aberto,
em um dia qualquer, pouco antes do nascer do sol. Você está de pé, voltado
diretamente para o sul. O sol começa a aparecer no horizonte e, para vê-lo,
você precisa voltar seu olhar para a esquerda, para o leste, o oriente.
Lentamente, o sol vai se levantando no céu. Ao
meio-dia, ele atinge o ponto mais elevado no percurso que descreve em arco. A
partir daí, vai declinando em direção à sua direita, ao oeste, o ocidente, onde
finalmente se oculta abaixo da linha do horizonte.
O movimento aparente do sol, para você que se
imagina em um campo na Inglaterra, descreveu um arco que começou na sua
esquerda e seguiu em direção à sua direita. Sabendo que, no dia seguinte, o
fenômeno se repetirá, você deduz que o arco se estende abaixo do hemisfério
onde você está, completando um círculo ao longo do qual o sol parece se mover
da esquerda para a direita. Este parece ser o sentido do movimento natural.
Harmonia com a natureza
Reproduzir o modelo presente na natureza parece
ser sempre a coisa certa. Estar em harmonia com a natureza é agir corretamente;
ir contra ela é preparar sofrimento no futuro.
Para se conseguir harmonia é necessário
reproduzir padrões dominantes, integral ou parcialmente. A jovem que se prepara
para sair, por exemplo, escolhe uma saia azul-marinho e uma blusa azul-celeste:
pronto, o arranjo é harmonioso porque repete a cor azul.
Da mesma forma, alguém olha o campo e percebe
que a serra, coberta pelo verde da mata, se harmoniza com o céu azul. O verde é
resultado da mistura do azul com o amarelo. Há azul no verde — eis a harmonia.
Pois bem: se você precisa caminhar ao longo de
um percurso circular ou oval, para estar em sintonia com a natureza, é
necessário que comece o caminho com o pé esquerdo e pela esquerda.
A
circulação no templo maçônico
Vamos agora aplicar este conceito à circulação
em templo nas lojas maçônicas.
O templo possui três divisões: o oriente, e no
ocidente as colunas do norte e do sul. O eixo principal do templo se estende da
porta de entrada, no ocidente, até o oriente, onde fica o altar do Venerável
Mestre. No ocidente, o norte fica à esquerda e o sul à direita.
O oriente representa o local onde o sol nasce,
e o ocidente, o local para onde a luz se dirige. Para percorrer as colunas no
ocidente, deve-se iniciar a jornada com o pé esquerdo, pelo lado norte, cruzar
em frente ao oriente e continuar pelo lado sul, até retornar à entrada no
ocidente.
No oriente, circula-se igualmente pela
esquerda, cruzando em frente ao altar do Venerável Mestre e passando pelo lado
direito. Assim, a harmonia com o movimento aparente do sol está garantida.
Evita-se ir contra a natureza, pois fazê-lo é preparar sofrimento no futuro.
E
o hemisfério sul?
Você pode perguntar: “E se eu me imaginar no
hemisfério sul, abaixo do Trópico de Capricórnio e voltado para o norte, não
verei o sol nascer à direita e se ocultar à esquerda?”
Exatamente. Você tem razão.
Acontece que a Maçonaria foi estruturada na
Europa, e não em algum lugar do hemisfério sul. O simbolismo e as práticas
foram organizados lá, acima do Trópico de Câncer, e valiam para eles como
naturais.
Pelo menos no Rito Escocês Antigo e Aceito,
praticado na maioria das lojas brasileiras, a circulação tradicional no sentido
horário é a norma, apesar de estarmos no hemisfério sul.
Imagine se a circulação em loja variasse em
função da localização geográfica: como seria para as lojas localizadas sobre a
linha do Equador?
As coisas ficam mais fáceis quando se
reproduzem modelos consagrados, ainda que a verdade nem sempre seja
contemplada. Para buscá-la, às vezes precisamos contrariar o que aparenta ser o
certo.
Fonte: Retales de Masonería
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