Circulação em Loja e a Harmonia Com a Natureza


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Por Robson Granado

Imagine-se na Inglaterra, em um campo aberto, em um dia qualquer, pouco antes do nascer do sol. Você está de pé, voltado diretamente para o sul. O sol começa a aparecer no horizonte e, para vê-lo, você precisa voltar seu olhar para a esquerda, para o leste, o oriente.

Lentamente, o sol vai se levantando no céu. Ao meio-dia, ele atinge o ponto mais elevado no percurso que descreve em arco. A partir daí, vai declinando em direção à sua direita, ao oeste, o ocidente, onde finalmente se oculta abaixo da linha do horizonte.

O movimento aparente do sol, para você que se imagina em um campo na Inglaterra, descreveu um arco que começou na sua esquerda e seguiu em direção à sua direita. Sabendo que, no dia seguinte, o fenômeno se repetirá, você deduz que o arco se estende abaixo do hemisfério onde você está, completando um círculo ao longo do qual o sol parece se mover da esquerda para a direita. Este parece ser o sentido do movimento natural.


 Harmonia com a natureza

Reproduzir o modelo presente na natureza parece ser sempre a coisa certa. Estar em harmonia com a natureza é agir corretamente; ir contra ela é preparar sofrimento no futuro.

Para se conseguir harmonia é necessário reproduzir padrões dominantes, integral ou parcialmente. A jovem que se prepara para sair, por exemplo, escolhe uma saia azul-marinho e uma blusa azul-celeste: pronto, o arranjo é harmonioso porque repete a cor azul.

Da mesma forma, alguém olha o campo e percebe que a serra, coberta pelo verde da mata, se harmoniza com o céu azul. O verde é resultado da mistura do azul com o amarelo. Há azul no verde — eis a harmonia.

Pois bem: se você precisa caminhar ao longo de um percurso circular ou oval, para estar em sintonia com a natureza, é necessário que comece o caminho com o pé esquerdo e pela esquerda.

 A circulação no templo maçônico

Vamos agora aplicar este conceito à circulação em templo nas lojas maçônicas.

O templo possui três divisões: o oriente, e no ocidente as colunas do norte e do sul. O eixo principal do templo se estende da porta de entrada, no ocidente, até o oriente, onde fica o altar do Venerável Mestre. No ocidente, o norte fica à esquerda e o sul à direita.

O oriente representa o local onde o sol nasce, e o ocidente, o local para onde a luz se dirige. Para percorrer as colunas no ocidente, deve-se iniciar a jornada com o pé esquerdo, pelo lado norte, cruzar em frente ao oriente e continuar pelo lado sul, até retornar à entrada no ocidente.

No oriente, circula-se igualmente pela esquerda, cruzando em frente ao altar do Venerável Mestre e passando pelo lado direito. Assim, a harmonia com o movimento aparente do sol está garantida. Evita-se ir contra a natureza, pois fazê-lo é preparar sofrimento no futuro.


 E o hemisfério sul?

Você pode perguntar: “E se eu me imaginar no hemisfério sul, abaixo do Trópico de Capricórnio e voltado para o norte, não verei o sol nascer à direita e se ocultar à esquerda?”

Exatamente. Você tem razão.

Acontece que a Maçonaria foi estruturada na Europa, e não em algum lugar do hemisfério sul. O simbolismo e as práticas foram organizados lá, acima do Trópico de Câncer, e valiam para eles como naturais.

Pelo menos no Rito Escocês Antigo e Aceito, praticado na maioria das lojas brasileiras, a circulação tradicional no sentido horário é a norma, apesar de estarmos no hemisfério sul.

Imagine se a circulação em loja variasse em função da localização geográfica: como seria para as lojas localizadas sobre a linha do Equador?

As coisas ficam mais fáceis quando se reproduzem modelos consagrados, ainda que a verdade nem sempre seja contemplada. Para buscá-la, às vezes precisamos contrariar o que aparenta ser o certo.

Fonte: Retales de Masonería

 

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