Da Redação
Um aprendiz perguntou ao Mestre:
“Quando o senhor percebeu que as palavras não
dizem tudo?”
O Mestre respondeu:
“Quando aprendi a ouvir o que existe entre uma
palavra e outra. E não foi fácil.”
Esse diálogo simbólico mostra uma grande
verdade da Maçonaria: as palavras comuns não conseguem transmitir toda a
realidade. Elas são apenas a superfície de algo muito maior e mais profundo.
O excesso de palavras no mundo profano
No dia a dia, usamos palavras para convencer,
justificar ou aparentar. Muitas vezes falamos demais para parecer mais
importantes, ou ficamos em silêncio não por sabedoria, mas por cálculo.
Assim, a linguagem se transforma em teatro, em
máscara, em vitrine. O mundo moderno vive nesse labirinto verbal, onde há
excesso de discursos, opiniões e informações. As redes sociais, a mídia e a
comunicação acelerada multiplicam as palavras, mas reduzem sua profundidade.
No fim, tudo parece verdade, mas é apenas
reflexo em espelhos. Opiniões viram slogans, frases se repetem sem reflexão, e
a voz interior do ser humano se perde.
O uso da palavra em Loja
Na Loja, a palavra tem outro valor. Ela é
lenta, precisa, usada no momento certo. Não se fala para preencher o tempo, mas
para marcar o ritmo dos trabalhos.
O linguajar ritual não é conversa comum: é
caminho simbólico. Cada palavra é como um degrau que conduz o iniciado.
Isso exige uma reeducação da fala e da escuta.
No Templo, as palavras não apenas descrevem a realidade – elas a constroem.
Quando o Venerável Mestre abre os trabalhos, ele não transmite apenas uma
ordem: ele cria uma nova dimensão, onde a experiência iniciática pode
acontecer.
O valor do símbolo
O profano pode pensar que o simbolismo é uma
forma de esconder segredos. Mas o iniciado entende que o símbolo não esconde:
ele protege.
O símbolo é uma porta de passagem: só atravessa
quem está preparado. Ele guarda o sentido mais profundo, evitando que seja
banalizado ou distorcido.
Assim, antes de aprender a falar, o iniciado
aprende a ficar em silêncio. Esse silêncio não é vazio, mas preparação. Ele
ensina a ouvir não apenas palavras, mas sentidos ocultos e profundos.
O Verbo como criação
Na Maçonaria, a palavra não é apenas
comunicação: é criação. Quando o Mestre pronuncia uma palavra sagrada, ele não
fala simplesmente – ele evoca, transforma, dá forma ao invisível.
Por isso, certas palavras só podem ser ditas em
Loja, e apenas em momentos adequados. Não por segredo vazio, mas porque
carregam o peso da experiência espiritual.
O aprendizado progressivo
As palavras iniciáticas não são fórmulas
mágicas. São expressões vivas, que crescem junto com o iniciado.
Por isso, um ensinamento que hoje parece
incompreensível, no futuro se tornará claro, quando o irmão tiver amadurecido
espiritualmente. Cada ritual, cada releitura, cada meditação revela novos
significados.
A construção do Templo interior
A palavra ritual também é ferramenta de
construção. Assim como os arquitetos erguiam catedrais com proporções sagradas,
o maçom usa a harmonia do linguajar iniciático para edificar seu Templo
interior.
O ritmo das palavras e o equilíbrio entre fala
e silêncio criam no Templo uma atmosfera especial, que facilita a elevação da
consciência.
A palavra no mundo atual
Hoje vivemos uma época de inflação verbal. Há
muita comunicação, mas pouca profundidade. Nunca se falou tanto, mas raramente
se diz o essencial.
Nesse cenário, a Maçonaria tem uma missão
importante: preservar a qualidade da palavra. Cada Loja é um espaço de
comunicação autêntica, onde se fala pouco, mas com profundidade.
O desafio do século XXI é traduzir a tradição
maçônica para a linguagem do homem digital, sem perder o valor simbólico. A
palavra deve continuar carregando o mistério e a essência da Verdade, mesmo em
tempos de excesso de informação.
Conclusão
O verdadeiro iniciado aprende que a palavra
nasce do silêncio, cresce com o símbolo, amadurece na meditação e floresce na
fraternidade.
Somente essa palavra pode nos guiar além do
labirinto verbal do mundo profano e conduzir ao linguajar universal da Verdade.
0 Comentários