Por Mateus Hautt Norenberg (*)
Qual o sentido de existir e conviver de forma
conjunta e pacífica?
A raça humana, Homo sapiens, é composta por
seres portadores de grande capacidade cognitiva, ou seja, raciocinamos,
aprendemos, memorizamos, tomamos decisões e interagimos de forma eficaz.
Certa vez, em um programa de televisão, o
médico, matemático e físico Doutor Enéas Carneiro foi questionado sobre o
sentido da vida. Sua resposta foi impactante: firme sem agredir, enfática sem
desrespeitar e crítica sem mencionar nada nem ninguém.
A pergunta foi então sobre o sentido da vida.
Parte de sua resposta foi:
“Cada ser humano é um universo em miniatura.
Cada ser humano tem aspirações que são diferentes quando a gente sai de um para
outro representante dessa espécie. Eu vejo como uma tônica geral, que deveria
ser objeto, deveria ser escopo do processo educacional do nosso país,
desenvolver em cada indivíduo, em cada ser humano, o respeito pelo seu
semelhante. Na medida em que cada um de nós aprender que a matéria de cada um
de nós é feita, é idêntica à matéria com que todos os outros são feitos, na
medida em que cada um de nós tiver consciência de que não há nada de
intrinsecamente diferente que nos separe a nós todos, seres humanos, quando nós
tivermos consciência de que a palavra semelhante quer dizer semelhante mesmo,
nós nos respeitaremos melhor!”.
A palavra que mais deveria representar a
postura do maçom é respeito. A partir dessa linda reflexão que o Doutor Enéas
Carneiro traz, vejo que cada vez faz mais sentido a palavra silêncio; ele,
juntamente com a ação individual de exemplo na sociedade, é o principal combate
aos tiranos.
Não somos seres que agem sempre de forma
comedida em nossos pensamentos; nossos excessos fazem com que, na maior parte
das vezes, nosso comportamento seja desrespeitoso — para conosco e para com o
próximo.
Imaginemos a água, um recurso essencial para a
vida. Quando digo essencial, é em sua maior e extrema verdade: não sobrevivemos
sem ela, não seria possível nossa existência. Porém, se usada de forma
demasiada, pode nos levar a uma hiponatremia, condição grave que pode resultar
em morte pelo excesso. É uma forma muito clara de distinguir algo: o que é
essencial para a vida pode, se consumido em demasia, levar à morte.
Nosso pensamento não é diferente. Pensamos de
forma individual; o coletivo não pode e nem deve ser o principal meio de tomada
de decisão de nenhum indivíduo, haja vista que este seja um ser portador de
conhecimento.
A dualidade se mostra latente em nossos
trabalhos; ela existe para o equilíbrio e a harmonia do universo em sua
grandeza. O que seria do Grêmio sem o Inter? O que seria do claro sem o escuro?
O que seria da direita sem a esquerda?
Nossas ações não podem sofrer influência
externa; devemos buscar, na sabedoria, na força e na beleza, nossas formas mais
sensatas de pensar e de nos manifestar. Somente assim iremos agir sem repelir.
Nossa principal missão não é converter um
extremista, um religioso ou um fanático, por ele pensar diferente de nós, mas
sim mostrar que nós, maçons, somos e agimos baseados em princípios de respeito
e tolerância — e que nossa atitude é a principal arma contra isso.
Ainda na mesma ocasião, o Doutor Enéas fez uma
ponte de extrema importância, que nos faz entender melhor o motivo das pessoas
agirem de forma que nós consideramos inadequada:
“A diferença entre o indivíduo que limpa o chão
e um astrofísico é uma diferença de informação! O que limpa o chão aprendeu
muito pouco, coitado! Ele sabe apenas limpar o chão, mas ele é tão útil quanto
o astrofísico! Ele tem direito a uma vida digna.”
Será que temos a ingenuidade de pensar que,
neste universo, não existem maçons de denominações religiosas e políticas
diferentes das que cada um de nós tem por certas? É exatamente isso: cada um de
nós pensa de forma distinta, meus irmãos. Podemos ter objetivos e indicadores
que levam para o mesmo lado, mas o pensamento, esse, cada um tem o seu.
Já pensamos que a Maçonaria enfrenta todas as
frentes de desigualdades e injustiças?
Maçons sobrevivendo em países comunistas,
maçons sobrevivendo à guerra da Ucrânia, maçons sobrevivendo à guerra de Israel
— mas agindo, agindo de forma silenciosa. O agir é o simples fato de levar lá
para fora o que aprendemos aqui, com respeito e, principalmente, com
tolerância.
Tenho acompanhado tudo o que ocorre no mundo,
da forma mais cruel, mais hipócrita e mais injusta. Isso causa repúdio, mas não
tenho o direito de me levantar e achar que o meu senso de entendimento é melhor
que o do outro. A intolerância e o desrespeito, além de nos atormentar lá fora,
no mundo profano, estão começando a atingir nossa Ordem, causando desordem e
evasão, com grandes proporções de desrespeito.
Contudo, o entendimento que cabe a nós, homens
livres e livres pensadores, é o de tornar a sociedade melhor — mas ela começa
dentro do Templo. Nossa egrégora não pode ser quebrada por falta de respeito. E
aqui faço um paralelo: o desrespeito não é somente tratar o outro de forma
ríspida; desrespeito é tudo aquilo que, de alguma forma, desvaloriza a
convivência entre as pessoas ou membros de um local ou sociedade.
Que nossos mais puros pensamentos e sentimentos
sejam para contribuir com o conhecimento dos demais. Todos — todos,
independentemente de suas posições sociais — possuem dentro da Maçonaria o
mesmo valor. O conhecimento é direito de todos, mas o conhecimento maçônico
não; este, apenas aqueles que tiveram a oportunidade de receber a Luz serão
portadores.
Que sejamos a fonte do conhecimento para nossos irmãos, que sejamos o exemplo, que nossas ações sejam baseadas na fraternidade, que saibamos o momento certo de parar, para que sempre prevaleçam o respeito e a tolerância entre nós.
(*) Mateus Hautt Norenberg
Mestre Maçom
Loja Hiram Abiff, 535
Loja Hipólito José da Costa, 410
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