Da Redação
Há uma antiga advertência simbólica que ecoa no
coração de cada Loja:
“Quem
guarda rancor contra seu irmão e não o trata bem;
quem traz em si um erro não reparado e não se
desviou do mal;
quem perdeu o amor pela humanidade na
tempestade do tempo —
fique longe por enquanto, e não cruze este
limiar.
O
trabalho interno exige integridade e força.
Pense nisso, estenda a mão ao seu irmão;
caso contrário, não retorne até que tenha se
reconciliado,
quando toda culpa tiver sido expiada e a
humanidade praticada.”
Essas palavras são mais do que um preceito
ritualístico — são um espelho da consciência.
Se um Irmão, tocado por tais palavras, se
afastasse por um momento do trabalho maçônico para refletir e reconciliar-se
com seu semelhante, esse gesto seria digno do mais profundo respeito.
Mas é igualmente possível que outro Irmão,
confuso e aflito, encontre justamente na convivência e no labor coletivo da
Loja um remédio curativo para restaurar a verdadeira fraternidade maçônica —
essa força silenciosa que une, consola e transforma.
O
Significado de Fraternidade
O Léxico Internacional da Maçonaria define o
termo “fraternidade” como o laço profundo que leva os maçons a chamarem-se
mutuamente de Irmãos e a sua comunidade, de Fraternidade.
Durante a Iniciação, o profano é chamado,
primeiro, pelo nome civil; depois, como amigo; e, finalmente, como Irmão. Esse
título, mais do que um tratamento, é um compromisso: o de reconhecer no outro
um semelhante, digno de respeito e solidariedade.
A acusação mais grave que se pode fazer a um
maçom é a de agir de forma antifraternal.
Chamar alguém de Irmão implica estar disposto a
compreender suas falhas, suas diferenças e suas limitações — e, ainda assim,
acolhê-lo com benevolência.
Nos rituais anglo-saxões, os pilares da Ordem
são resumidos em três palavras: Amor Fraternal, Alívio e Verdade.
Há também uma interpretação mais esotérica,
segundo a qual a fraternidade nasce da “infância divina” que todos
compartilhamos — a centelha do Grande Arquiteto do Universo presente em cada
ser humano.
Fraternidade
é um Exercício
Falar de fraternidade é fácil; vivê-la é o
verdadeiro desafio.
Depois de um desentendimento entre Irmãos, o
primeiro passo rumo à reconciliação costuma ser o mais difícil.
É preciso coragem para estender a mão,
humildade para ouvir e sabedoria para perdoar.
Como bem disse um antigo mestre:
“A
convivência com o Irmão é o campo de prova das virtudes espirituais.”
A fraternidade, como toda virtude, não se impõe
— pratíca-se.
Ela nasce do coração aberto e da confiança.
Sem confiança, não há fraternidade possível.
O
Caminho até o Irmão
Para que a fraternidade floresça, é necessário
dar o primeiro passo — sair de si e ir ao encontro do outro.
Isso exige entrega e disposição interior.
É preciso confiar, mesmo quando se corre o
risco de ser decepcionado.
Porque é nesse gesto de fé na bondade humana
que o espírito maçônico se manifesta plenamente.
A verdadeira fraternidade não distingue raça,
credo, gênero, classe social ou nacionalidade.
Ela transcende fronteiras e se expressa em
atitudes concretas: ajudar o Irmão necessitado, confortar o aflito, ouvir com
empatia, perdoar sem reservas.
Onde imperam a intolerância e a exclusão, a
fraternidade é apenas uma palavra vazia.
Mas onde há diálogo, respeito e amor, ela se
torna o alicerce da construção moral e espiritual do maçom.
Fraternidade
e Pluralidade
Dentro da Loja, as opiniões divergem — e isso é
saudável.
A pluralidade de pensamentos enriquece o
trabalho.
Não é necessário concordar com tudo, mas é
essencial tolerar o diferente, desde que o pensamento alheio não fira os
princípios da Ordem nem o respeito mútuo.
A diversidade nos ensina, amplia nossa visão e
nos faz crescer.
A fraternidade, portanto, não é um obstáculo à
diferença — é o campo fértil onde o diálogo floresce.
Ela é, como disse o Irmão Wehling, “o
alicerce da construção do nosso templo humanitário.”
Por
que Buscamos a Fraternidade Maçônica
Muitos buscam a Maçonaria em busca de luz,
sabedoria e autoconhecimento.
Mas há também algo mais profundo: a necessidade
humana de pertencer a uma comunidade confiável, onde se possa compartilhar
ideais, aprender e servir.
Essa convivência gera laços duradouros e uma
harmonia que só o verdadeiro espírito fraternal pode proporcionar.
A Loja é, assim, um laboratório da alma — um
espaço onde o indivíduo se transforma pela convivência com o outro.
E é nesse convívio que o Irmão encontra não
apenas companheirismo, mas um reflexo de si mesmo.
A fraternidade não é uma palavra decorativa nos
nossos rituais — é o cimento invisível que mantém unidas as colunas do Templo.
Ela exige coragem, paciência, humildade e
confiança.
E só floresce onde há amor verdadeiro pela
humanidade.
Homens e mulheres, maçons de todas as
vertentes, compartilham esse mesmo ideal: o de que a fraternidade é o coração
da Maçonaria — a virtude que dá sentido a todas as demais.


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