Da Redação
No ano de 1930, em meio ao avanço do
fascismo na Itália, o ditador Benito Mussolini fez uma declaração pública que
ecoaria como uma sentença de morte simbólica — e, em muitos casos, literal —
contra a liberdade de pensamento: recomendou que os maçons fossem eliminados,
para que, segundo suas próprias palavras, “adormeçam para sempre”. Essa frase
brutal sintetiza o clima de perseguição, censura e intolerância que marcou um
dos períodos mais sombrios da história moderna europeia.
A Maçonaria como inimiga do totalitarismo
Desde o início do regime fascista,
Mussolini via na Maçonaria um inimigo ideológico e moral. Para o ditador, a
fraternidade maçônica representava tudo o que o fascismo desprezava: liberdade
individual, pensamento crítico, laicidade e internacionalismo. A Maçonaria, com
seus princípios de tolerância, fraternidade e razão, era percebida como um
obstáculo natural à construção de um Estado totalitário, que exigia obediência
cega ao partido e ao líder.
A luta contra a Maçonaria foi, portanto,
parte da estratégia de Mussolini para consolidar o poder absoluto. Em 1925,
apenas três anos após a Marcha sobre Roma que o levou ao poder, o regime
aprovou uma lei que proibia sociedades secretas, um pretexto jurídico para
dissolver as lojas maçônicas italianas. Com isso, o Grande Oriente da Itália
foi fechado, suas propriedades confiscadas e muitos de seus membros presos ou
exilados.
A retórica da eliminação
A declaração de 1930, em que Mussolini
recomenda que os maçons “adormeçam para sempre”, não foi um ato isolado, mas o
ponto culminante de uma campanha de demonização. O ditador, hábil em usar a
retórica como arma política, associava os maçons a conspirações internacionais,
à corrupção moral e ao liberalismo decadente — os mesmos fantasmas que também
serviriam, em outros regimes totalitários, para justificar o antissemitismo e a
repressão a minorias intelectuais.
A expressão “adormeçam para sempre” tinha
um duplo sentido perverso: por um lado, sugeria o desaparecimento simbólico da
Maçonaria, apagada da vida pública; por outro, insinuava o extermínio físico
dos maçons — um aviso velado, mas suficientemente claro para gerar medo e
silenciar opositores.
Conexões com outros regimes autoritários
A perseguição aos maçons não foi exclusiva
do fascismo italiano. Na mesma época, outros regimes autoritários
compartilhavam esse ódio. Na Alemanha nazista, Hitler e Himmler também viam a
Maçonaria como inimiga do Estado e do “espírito ariano”. Na Espanha franquista,
após a Guerra Civil, ser maçom podia significar prisão ou morte. Esses regimes,
cada qual à sua maneira, identificavam na Maçonaria o símbolo da modernidade
democrática, da liberdade de consciência e da solidariedade internacional —
valores incompatíveis com seus projetos de poder absoluto.
Assim, a fala de Mussolini de 1930 deve
ser compreendida dentro de uma constelação de intolerância, na qual os
totalitarismos do século XX buscaram eliminar todas as formas de pensamento
independente.
Resistência e sobrevivência da Maçonaria
Apesar das perseguições, prisões e
exílios, a chama maçônica não se apagou. Muitos irmãos italianos se refugiaram
em outros países europeus e na América Latina, onde encontraram abrigo e
continuaram suas atividades em segredo. Durante a Segunda Guerra Mundial, maçons
italianos exilados chegaram a colaborar com movimentos de resistência
antifascista e com forças aliadas.
Após a queda de Mussolini, em 1943, e o
fim da guerra, a Maçonaria renasceu na Itália, reconstruindo suas lojas e
retomando seu papel na defesa dos ideais democráticos. O renascimento do Grande
Oriente da Itália simbolizou não apenas o retorno de uma instituição, mas
também a vitória da liberdade sobre a tirania.
Conclusão
A recomendação de Mussolini, em 1930, para
que os maçons “adormeçam para sempre” é mais do que uma frase infeliz de um
ditador. É o testemunho de um tempo em que o poder tentou extinguir a luz da
razão, a liberdade de pensamento e o humanismo. A Maçonaria, alvo constante de
regimes autoritários por seu compromisso com a liberdade e a fraternidade
universal, resistiu.
E é precisamente dessa resistência que
emerge sua força moral: enquanto os tiranos passam, a busca pela luz e pela
verdade permanece.


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