Da Redação
A palavra “segredo” sempre exerceu um
poder magnético sobre a mente humana. Desde os primórdios da civilização, ela
fascina, intriga, e, por vezes, desperta medo ou repulsa. Há segredos de
família, segredos de Estado e segredos inomináveis, como os das sociedades
criminosas — a Máfia, as Tríades Chinesas e outras organizações que operam nas
sombras. Há também os segredos das antigas seitas religiosas, como os cátaros,
ou das sociedades com pretensões políticas, como os Illuminati, a Ku Klux Klan
ou a Cagoulé francesa dos anos 1930.
Em todas essas expressões do mistério
humano, há um elemento comum: o silêncio consentido. O segredo é um pacto. Uma
promessa de não revelar, de resguardar o que foi confiado, de proteger um
conhecimento ou uma prática de olhares profanos.
Mas o que dizer da Maçonaria?
Desde o Iluminismo, os seus adversários a
imaginam como uma sociedade secreta, envolta em ritos misteriosos e simbolismos
indecifráveis. Já os seus adeptos, ao contrário, afirmam que ela não é secreta,
mas discreta. E aqui está uma distinção fundamental: enquanto a sociedade
secreta esconde sua própria existência e seus fins, a Maçonaria existe às
claras, com templos, lojas e obras públicas conhecidas. O que ela preserva, na
verdade, é o sentido simbólico e iniciático de seus rituais — e não a sua
realidade institucional.
Entretanto, a palavra “segredo” sempre
acompanhou a Ordem. Desde o século XVIII, ela foi associada à Maçonaria tanto
em publicações elogiosas quanto em obras difamatórias. Basta lembrar que quase
desde o nascimento da Maçonaria moderna, em 1717, documentos e rituais foram
divulgados, e o chamado “segredo maçônico” se tornou alvo de curiosidade e de
ataques.
A Igreja Católica, por exemplo, foi uma
das primeiras e mais vigorosas opositoras da Fraternidade. O Papa Clemente XII,
em 1738, publicou a célebre bula In Eminenti Apostolatus Specula, na qual
condenava severamente os maçons e decretava a excomunhão de todos os que a ela
pertencessem. O motivo central? O “segredo com que se cercam e às suas obras”,
o silêncio inviolável que protegeria intenções supostamente perigosas.
Mas será que esse segredo é realmente algo
tenebroso? Ou seria, antes, um símbolo da interioridade espiritual do iniciado?
O chamado “segredo maçônico” não é uma
senha, um código, ou um mistério político. Ele é o mistério do próprio homem, o
conhecimento de si mesmo e daquilo que o transcende. O segredo da Maçonaria não
está trancado em cofres, mas gravado no coração de cada iniciado. É o segredo
da transformação interior, da passagem das trevas à luz — um segredo que não
pode ser revelado em palavras, pois só pode ser vivido.
Daí a importância do silêncio.
Não o silêncio do medo, mas o silêncio da contemplação,
da humildade diante do sagrado. O maçom é instruído a guardar silêncio não para
ocultar algo indevido, mas para respeitar o processo de aprendizado e de
descoberta pessoal que cada irmão deve trilhar.
A antimaçonaria — antiga como a própria
Ordem — sempre confundiu esse silêncio simbólico com conspiração. Ao longo dos
séculos, críticas e teorias se acumularam: de panfletos religiosos a teorias
políticas, de encíclicas papais a tratados conspiratórios. Mas o segredo
resistiu, e continua resistindo, não porque esconda crimes, e sim porque protege
a verdade da profanação.
Em última instância, o segredo
maçônico é o silêncio que fala.
É o espaço de mistério que permite ao
homem reconhecer que há dimensões da existência que não se traduzem em fórmulas
ou dogmas. É a recordação de que o verdadeiro conhecimento é interior e
progressivo, e que a Luz, uma vez conquistada, deve ser preservada com
discrição e reverência.
Assim, se há um segredo na Maçonaria, ele não está em seus ritos ou símbolos, mas na experiência iniciática que cada maçom carrega dentro de si. É o segredo da própria alma, que nenhuma bula, decreto ou denúncia pode revelar.
Porque, afinal, o mais profundo dos
segredos não é o que se oculta dos olhos — é o que se revela apenas ao coração
preparado para compreendê-lo.




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