O Legado da Maçonaria Escocesa


Da Redação

Pouco se discutiu sobre o papel dos iniciados escoceses na transição da Maçonaria operacional para a especulativa. De fato, até o final do século XX, os historiadores da Ordem evitaram abordar essa questão, ainda que de maneira sutil e elegante. A Maçonaria moderna oficialmente surgiu em 1717, com a fundação da Grande Loja de Londres. No entanto, os estudiosos preferem utilizar parâmetros diferentes, mais complexos.

É importante lembrar que o ponto de partida dessa história é a Inglaterra. A primeira evidência da organização dos pedreiros data de 1356, quando o conselho de Londres foi chamado a resolver uma disputa entre cortadores e levantadores. Os primeiros documentos sobre a profissão de maçom surgem no final do século XIV e início do século XV, como os Manuscritos Regius (1390) e Coock (1420), que mencionam as Antigas Obrigações. Já em 1220, Londres possuía o Santo Ofício e Irmandade dos Maçons, que em 1376 passou a se chamar Sociedade dos Maçons. Após a Reforma Inglesa, a construção de igrejas e catedrais foi reduzida, mas a situação mudou radicalmente a partir de 1430, quando os monarcas escoceses contrataram trabalhadores da França, onde os mistérios do Collegium Fabrorum floresciam. Acredita-se que esses trabalhadores foram os primeiros a introduzir a Maçonaria na Escócia. A Maçonaria Escocesa também foi influenciada pelos Mistérios Celtas e pela tradição Templária, elementos importantes da herança cultural do país.

A teoria da transição das antigas corporações para a Maçonaria moderna apresenta dificuldades. Em 1989, o historiador francês Roger Dachez publicou um artigo intitulado "As Origens da Maçonaria Especulativa na Grã-Bretanha", onde menciona que em 1620 a Loja de Aceitação já admitia pessoas fora do ofício de construtores. Em 1686, a Sociedade de Maçons de Staffordshire começou a aceitar pessoas de todas as origens, como o antiquário e alquimista Elías Ashmole, que alguns consideram, talvez erroneamente, o primeiro maçom especulativo.

Há divergências entre os estudiosos sobre os estágios da transição para a Maçonaria Especulativa. Eric Ward argumenta que a Maçonaria Especulativa é puramente inglesa e que desde o início adotou os rituais das Lojas Operativas, sem se integrar a elas. Por outro lado, o escocês David Stevenson acredita que as primeiras Lojas inglesas eram puramente especulativas, independentes das Operativas.

Podemos considerar a existência de uma Maçonaria especulativa no século XVII ao analisar a evolução das Lojas Inglesas e Escocesas. A Escócia pode ser vista como o berço do sistema especulativo por várias razões, como o uso mais antigo da palavra "Loja" nos estatutos de Schaw do final do século XVI, as primeiras admissões de membros não operativos, a criação de rituais e símbolos especulativos, e a introdução do terceiro grau no século XVII.

Entretanto, da Inglaterra vêm os Ancient Duties e a presença, já em 1646, de Lojas formadas por cavalheiros maçônicos. Após a reforma de William Shaw na Escócia, a Inglaterra assumiu a liderança na transição para o sistema especulativo no final do século XVII. No entanto, a tradição escocesa, com seus rituais herméticos e esotéricos e o sistema de graus, desempenhou um papel crucial no desenvolvimento da Maçonaria moderna. Essa fusão entre as tradições resultou, no início do século XVIII, na criação da Grande Loja de Londres.

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