O Caminho das Mulheres na Maçonaria: História, Desafios e Conquistas

Da Redação

A admissão de mulheres na Maçonaria tem sido um processo evolutivo e complexo, marcado por inúmeras etapas e variações dependendo dos tempos e contextos geográficos. Esta evolução revela uma luta contínua por igualdade e emancipação dentro de uma instituição historicamente dominada por homens.

Mulheres na Alvenaria Operativa

A integração das mulheres na alvenaria operativa, embora rara, está documentada já no século XIII. Relatos históricos mostram que mulheres participavam de trabalhos de construção e, às vezes, eram admitidas em corporações comerciais. Exemplos incluem o Livro dos Ofícios de Paris, escrito em 1268, e os estatutos da Guilda dos Carpinteiros de Norwich, que mencionam mulheres como Gunnilda, listada como maçona em 1256. Sabina von Steinbach, filha de um arquiteto, teria trabalhado nas esculturas da Catedral de Estrasburgo no início do século XIV, embora essa informação permaneça controversa.

O Surgimento da Maçonaria Especulativa

Com o advento da Maçonaria especulativa no início do século XVIII, as mulheres começaram a ser iniciadas em circunstâncias excepcionais. Elisabeth Aldworth, uma jovem aristocrata irlandesa, é considerada a primeira mulher iniciada na Maçonaria por volta de 1712. Sua iniciação ocorreu em circunstâncias extraordinárias, quando foi apanhada observando uma reunião maçônica. Diante da escolha entre iniciação e morte, ela optou por ser iniciada e permaneceu membro da loja até sua morte.

As Constituições de Anderson e a Exclusão das Mulheres

A criação da primeira Grande Loja de Londres e Westminster em 1717 e a promulgação das Constituições de Anderson em 1723 institucionalizaram a exclusão das mulheres da Maçonaria. O artigo III das Constituições estipulava que os membros da loja deviam ser homens “nascidos livres, com idade de maturidade de espírito e prudência, nem servos, nem mulheres, nem homens imorais ou escandalosos, mas de boa reputação”. Esta exclusão foi reforçada nas constituições de Ahiman Rezon da Grande Loja de Anciãos em 1756.

O Estatuto Jurídico das Mulheres no Século XVIII

No século XVIII, o estatuto jurídico da mulher era definido por leis e costumes patriarcais, com algumas variações dependendo do país. As mulheres eram geralmente consideradas menores legais, colocadas sob a tutela de um homem durante toda a vida. A educação das mulheres limitava-se em grande parte às competências domésticas, e suas oportunidades de emancipação legal eram raras. No entanto, o Iluminismo começou a lançar as sementes da mudança, questionando o estatuto das mulheres e defendendo seus direitos.

Maçonaria de Adoção e Sociedades Paramaçônicas

Na França e na Europa, a Maçonaria de Adoção surgiu no século XVIII. Estas lojas de adoção permitiam que as mulheres fossem iniciadas num quadro maçônico, embora muitas vezes sob a supervisão de lojas masculinas. Sociedades mistas ou femininas inspiradas na Maçonaria também surgiram, como a Ordem dos Cavaleiros e Ninfas da Rosa ou a Ordem dos Esfregões.

Avanços no Século XIX

O século XIX marcou avanços significativos na integração das mulheres na Maçonaria. Em 1882, Maria Deraismes tornou-se a primeira mulher iniciada numa loja masculina na França, graças à loja "Les Libres Penseurs" em Pecq. Esta iniciação abriu caminho para a criação da primeira obediência maçônica mista, Le Droit Humain, fundada por Maria Deraismes e Georges Martin em 1893, defendendo a igualdade dos sexos e permitindo às mulheres o acesso a todos os graus maçônicos.

O Século XX e o Reconhecimento Internacional

No século XX, a Maçonaria mista e feminina ganhou reconhecimento e influência. Le Droit Humain desenvolveu-se internacionalmente, com federações nacionais em diversos países. Na França, a Grande Loge Féminine de France (GLFF) foi criada em 1945, sucedendo à Union Masonique Féminine de France. Em 1959, adotou o Rito Escocês Antigo e Aceito (REAA), marcando total independência da alvenaria de adoção.

A Situação Atual no Século XXI

No século XXI, as mulheres ainda representam uma minoria no cenário maçônico global. Em 2015, na França, havia cerca de 32 mil irmãs para 138 mil irmãos. Outros países como Bélgica, Ilhas Britânicas, Alemanha, Itália e Islândia também apresentam um crescimento gradual na participação feminina na Maçonaria. Nos Estados Unidos e no Canadá, as mulheres frequentemente ingressam em organizações paramaçônicas como a Ordem da Estrela Oriental, fundada em 1830.

Conclusão

A história da integração das mulheres na Maçonaria é marcada por avanços progressivos e resistências persistentes. Desde as primeiras iniciações operativas até as obediências mistas e femininas contemporâneas, as mulheres tiveram que superar muitos obstáculos para obter igual reconhecimento no mundo maçônico. Hoje, embora os desafios permaneçam, a presença de mulheres na Maçonaria continua a crescer, enriquecendo o panorama maçônico global e contribuindo para a emancipação e igualdade de gênero. A Maçonaria mista, em particular, atrai um público mais vasto e diversificado, beneficiando-se de uma dinâmica de modernidade e inclusão que lhe permite prosperar no cenário contemporâneo.

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