Tempo é Dinheiro


Clique no Player Para Ouvir a Matéria

Por Gustavo Henrique Zuccato (*)

Grande líder da Revolução Americana, maçom, calvinista e um expoente do Iluminismo, Benjamin Franklin faleceu há mais de dois séculos. Durante sua vida fundou bibliotecas ea Universidade da Pensilvânia, sendo reconhecido mundialmente por suas brilhantes frases de efeito, a maioria delas compiladas em seu "Almanaque do Pobre Ricardo" (Poor Richard's Almanac) ou em seu "Sermão do Pai Abraão". Um célebre exemplo é a controvertida sentença que é o tema do presente artigo.

Não se engane: a aparente simplicidade é proposital e engana ao menos avisado.

Obviamente, a simples correlação entre tempo e dinheiro não poderia sobreviver mais de dois séculos se não trouxesse em si um sentido oculto, muito mais profundo e velado aos olhos menos atentos. A armadilha intelectual perpetrada pelo gênio de Franklin é perfeita.

A leitura despretensiosa da frase remete à correspondência quantitativa entre o tempo e o dinheiro, induzindo o leitor a uma conclusão intelectual automática e simples quanto a proporcionalidade direta entre esses dois elementos: quanto mais tempo despendido em determinada atividade produtiva, mais dinheiro auferido ao final.

Perfeito! Mas isto é demasiadamente óbvio e simples para a magnitude intelectual de Benjamin Franklin. A real compreensão da genialidade empregada na construção desta sentença exige definir o significado de dinheiro e igualá-lo ao de tempo. Pois, se "tempo é dinheiro", compreendendo o significado de "dinheiro" compreende-se o significado de "tempo". Não o contrário. Franklin sequer insinua que a recíproca seja verdadeira, "dinheiro é tempo".

Dito isso, passemos rapidamente ao que compreendemos por dinheiro. Materializado em nossa mente por um pedaço de papel impresso de forma peculiar, que traz intrínseco um lastro correspondente em ouro, trata-se de uma criação da engenhosidade humana, que faz com que a maioria absoluta dos seres humanos, mesmo sabendo que aquele pedaço de papel não possui qualquer lastro em metais preciosos, acreditem piamente em seu valor extrínseco, permitindo, assim, que seja trocado por todo e qualquer bem, material ou imaterial. Hoje, na era digital, fácil perceber que o dinheiro é uma formidável ilusão. Nem mesmo sua representação material é exigida para que ele possa "existir" e gerar seus efeitos. Basta que a sociedade acredite que ele está ali, em algum lugar. Nascemos, vivemos e morremos em busca de "bits" que alimentam os mega computadores das instituições financeiras espalhadas pelo globo, sem fronteiras que impeçam seu livre trânsito, bastando que um computador qualquer acrescente alguns dígitos em determinado "saldo bancário". A maioria dos Homens é escravo do dinheiro. O dinheiro nos afasta daquilo que é mais importante. Por aí vai...

 

Pois bem.

Já podemos intuir, pela sentença de Franklin, que o tempo é uma formidável ilusão. Materializado em nossa mente por um relógio. É, igualmente, uma criação do homem e de sua própria engenhosidade. Faz com que os seres humanos acreditem piamente em seu valor extrínseco. A maioria dos Homens é escrava do tempo. O tempo nos afasta daquilo que é mais importante...

É justamente esse o alerta de Franklin: o tempo não existe. Passado e futuro não existem na realidade, apenas na mente. O passado é a memória, uma função cerebral muito pouco confiável. O futuro, por sua vez, é a imaginação projetando fatos e eventos utilizando o banco de dados da memória para tentar controlar a vida. Tal como o dinheiro, o tempo existe porque a mente existe.

Tempo e dinheiro são duas masmorras que nos afastam da Consciência, a qual só existe no agora, na absoluta ausência de tempo.

A velhice e a morte não são coisas do tempo, são coisas do agora. Nem o tempo, muito menos o dinheiro, podem com as coisas do agora.

O agora, é o quociente do dividendo existência pelo divisor temporal e igual a zero, representando, assim, o próprio conceito matemático de limite (a divisão por zero que os professores do ginásio te disseram que não existe). Esta divisão com divisor zero, tende e representa o infinito. O passado foi; o futuro será; e, o agora é! O agora é... infinito. O tempo e o dinheiro são inimigos do agora, afastam a consciência, opõem-se à natureza e, assim, impedem que o homem tenha contato com o infinito.

Tal é a complexidade e a profundidade dos conceitos ocultos na singela frase de Benjamin Franklin - "time is money".

 (*) Por Gustavo Henrique Zuccato, é membro da Academia Campinense Maçônica de Letras

Fonte:Revista O Pensador


Postar um comentário

0 Comentários