Por
Wilson Benedito Ferreira
Pio
IX: Um Papa Maçom que se Tornou um dos Maiores Inimigos da Ordem
Uma jornada surpreendente
Giovanni
Maria Mastai-Ferretti, nascido em 1792, é conhecido na história como Pio IX,
Papa de 1846 a 1878. Mas um episódio menos conhecido — e deliberadamente
ocultado pela Igreja — afirma que ele pertencia à Maçonaria antes de ascender
ao trono papal
Os
arquivos mencionam que em 1839, quando já era Bispo de Ímola, Giovanni
Mastai-Ferretti foi recebido fraternalmente na Loja Fidelidade Germânica, em
Nuremberg, portando uma patente autenticada pela Loja Perpétua de Nápoles e
registrada sob o número 13.715. Anteriormente, havia sido iniciado na Loja
Eterna Cadena, pertencente à Grande Loja de Palermo.
De iniciado a traidor
Quando
Mastai-Ferretti foi eleito Papa em 1846, sob o nome de Pio IX, ele abruptamente
deu as costas ao seu passado maçônico.
Em
1864, publicou a famosa encíclica Syllabus Errorum, que consolidou todas as
condenações papais à Maçonaria, estigmatizando-a como inimiga jurada da Igreja.
Considerado
perjuro e traidor de seus juramentos maçônicos, foi convocado e posteriormente
expulso da Maçonaria Italiana por decisão da Loja Eterna Cadena. A medida foi
confirmada em 1865 por Vítor Emanuel II, Rei da Itália e Grão-Mestre do Grande
Oriente da Itália, que o expulsou definitivamente da Ordem.
O respeitado prisioneiro
O
paradoxo de Pio IX é impressionante: após lutar incansavelmente contra a
Maçonaria, ele caiu em 1870 nas mãos daqueles mesmos que havia excomungado.
Em
20 de setembro, tropas patrióticas lideradas por figuras maçônicas como
Garibaldi, Mazzini, Cavour e Manzoni tomaram Roma e puseram fim ao poder
temporal dos papas. Pio IX tornou-se então prisioneiro do Vaticano.
No
entanto, apesar do ódio que nutria por eles, os maçons o tratavam com
consideração e respeito, vendo nele um "irmão perdido". Esta foi uma
brilhante lição de fraternidade e tolerância para o homem que havia dedicado
seu papado à luta contra a Ordem.
As repercussões no Brasil: a “Questão dos Bispos”
A condenação da Maçonaria por Pio IX teve consequências. No Brasil, provocou um grande conflito entre Igreja e Estado, conhecido como a Questão dos Bispos (ou "Questão Episcopal-Maçônica").
Dois
bispos, Dom Vital (Olinda) e Dom Antonio Macedo (Pará), queriam impor a
aplicação estrita do Syllabus, exigindo que as irmandades religiosas excluíssem
seus membros maçons. Mas essas irmandades resistiram, invocando o direito
civil, e venceram a causa perante as cortes imperiais.
Os bispos, recusando-se a obedecer, foram condenados em 1874 a quatro anos de prisão com trabalhos forçados. No entanto, um ano depois, o Marechal Duque de Caxias, maçom e presidente do Conselho de Ministros, concedeu-lhes anistia.
Um irmão que virou inimigo
A história de Pio IX continua sendo um episódio único, revelando as contradições de um homem que fez o juramento de posse na loja maçônica antes de se tornar um dos maiores críticos da Ordem.
Traidor
para alguns, perjuro para seus antigos irmãos, ele, no entanto, continua sendo
uma figura respeitada até mesmo por aqueles que perseguiu. A Maçonaria, ao
tratá-lo como prisioneiro com dignidade e consideração, deu-lhe uma verdadeira
lição de humanidade e fraternidade.
Um
episódio doloroso e instrutivo, que merece ser conhecido e refletido.
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