Da Redação
Ultrapassando antagonismos artificiais em nome
da condição humana
Introdução
Num tempo em que os discursos polarizados se
multiplicam, é urgente recuperar a serenidade do pensamento filosófico e seu
papel essencial: criar pontes, não muros. Este artigo não pretende defender
instituições nem atacar tradições. Seu propósito é mais nobre — propor uma
reflexão profunda, ancorada na experiência humana, sobre a aparente
incompatibilidade entre Maçonaria e Cristianismo.
A tensão
histórica: Maçonaria x Cristianismo?
Não é novidade a ideia de um conflito entre
Maçonaria e Cristianismo, especialmente dentro do contexto católico. A Igreja
Católica, assim como certos segmentos protestantes, mantém há séculos uma
postura de rejeição à Maçonaria. Por outro lado, é fato que muitas Lojas exigem
de seus membros a crença num Deus revelado — o que sugere uma base comum de
espiritualidade.
Mas será que essa oposição é real? Ou seria
fruto de antagonismos artificiais, mantidos por uma compreensão superficial das
duas tradições?
A fé como
tarefa existencial
Para iluminar essa questão, recorremos ao
pensador dinamarquês Søren Kierkegaard. Em sua obra Ponto de Vista
Explicativo da Minha Obra como Escritor, Kierkegaard se apresenta não como
um filósofo comum, mas como um autor religioso, cujo objetivo era ajudar os
indivíduos a tornarem-se verdadeiros cristãos.
Para ele, ser cristão é uma escolha pessoal
e radical, não uma mera adesão institucional. A fé, nesse sentido, é uma
experiência vivida, um compromisso ético e espiritual que se expressa na
existência concreta — e não em dogmas ou fórmulas rituais.
O risco da
“Cristandade”
Kierkegaard critica o que chama de
“Cristandade” — a forma institucionalizada da fé que esvazia o Cristianismo de
sua força transformadora. A religião, ao se tornar um sistema social, corre o
risco de substituir a vivência autêntica por hábitos, convenções e repetições.
A fé, ensina ele, é um paradoxo. Ela exige um
salto qualitativo: um abandono do racionalismo em prol da entrega confiante ao
divino.
A fé no
silêncio do coração
Essa dimensão íntima da fé está expressa nas
palavras de Jesus:
Aqui, a oração é retirada da vitrine pública e
trazida para o espaço do coração. Essa mesma valorização da interioridade está
presente na tradição maçônica, que não impõe doutrinas, mas propõe um caminho
de autoconhecimento e aperfeiçoamento moral, onde o sagrado é vivido no
silêncio da consciência.
Fé e
Maçonaria: caminhos convergentes?
Ambas apontam para um caminho ético,
espiritual e interior — um chamado à transformação do ser, e não apenas à
conformidade com ritos e normas.
Um chamado
ao diálogo
Numa Europa — e num Ocidente — em busca de identidade, talvez seja hora de resgatar a história com olhos renovados. Abandonar narrativas fechadas e abrir espaço para uma sabedoria relacional, dinâmica, viva. O chamado não é ao conformismo, mas à reconstrução consciente do espírito humano.
Nesse contexto, Maçonaria e Cristianismo podem deixar de ser vistas como inimigas e tornar-se aliadas na construção de uma nova compreensão do sagrado, da ética e da dignidade humana.
Em vez de alimentar antagonismos herdados, é
tempo de construir pontes de entendimento. O mundo precisa menos de
fronteiras e mais de diálogo. E se a Maçonaria e o Cristianismo souberem
escutar uma à outra, talvez reencontrem, juntas, aquilo que sempre procuraram: a
verdade que liberta e a luz que transforma.
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