Genocídio Armênio: 110 Anos Depois e a Participação da Maçonaria


Da Redação

Em 2025, o mundo recorda os 110 anos do Genocídio Armênio — um dos episódios mais sombrios da história do século XX, no qual aproximadamente 1,5 milhão de armênios foram mortos pelo Império Otomano durante a Primeira Guerra Mundial, entre 1915 e 1923. Reconhecido por muitos países e estudiosos como o primeiro genocídio moderno, esse crime hediondo permanece, até hoje, envolto em polêmicas, negações oficiais e dores abertas. O que poucos sabem é que, nesse contexto turbulento, a Maçonaria também foi direta e indiretamente afetada — tanto como vítima quanto, paradoxalmente, como objeto de manipulação política.

O Genocídio Armênio: Contexto e Memória

O Império Otomano, em franca decadência no início do século XX, enfrentava tensões internas profundas. Diante da ascensão do nacionalismo turco e da ameaça percebida pelos jovens turcos — movimento político reformista que havia tomado o poder —, as minorias cristãs, como os armênios, foram gradualmente demonizadas, vistas como traidoras e aliadas da Rússia czarista.

Em 24 de abril de 1915, líderes intelectuais armênios foram presos em Constantinopla (atual Istambul), marcando o início oficial do genocídio. O plano envolveu deportações em massa, marchas forçadas pelo deserto, massacres sistemáticos e a destruição da cultura armênia. Mulheres, crianças e idosos foram mortos sem piedade, templos profanados e registros históricos apagados.

A Maçonaria no Império Otomano

No início do século XX, a Maçonaria exercia certa influência no Império Otomano, especialmente em círculos intelectuais e reformistas. Algumas lojas maçônicas abrigavam tanto muçulmanos quanto cristãos, incluindo armênios, gregos e judeus, em um espírito cosmopolita e iluminista que contrariava o nacionalismo crescente. Era, portanto, uma instituição transnacional que promovia valores de fraternidade, liberdade de pensamento e igualdade entre os povos — exatamente o oposto do projeto autoritário dos Jovens Turcos.

É importante destacar que muitos membros do Comitê União e Progresso (CUP), partido político dos Jovens Turcos, tinham vínculos maçônicos. No entanto, após o golpe de 1913, esses laços foram gradualmente rompidos à medida que o CUP mergulhava num nacionalismo radical, traindo os ideais maçônicos originais. De fato, várias lojas que abrigavam armênios e outros cristãos foram fechadas ou perseguidas, e maçons armênios foram assassinados ou deportados com o restante de sua população.

Maçons Armênios: Vítimas do Silêncio

Entre as vítimas do genocídio estavam inúmeros armênios maçons, notadamente intelectuais, juristas, médicos e professores que compunham o núcleo cultural da nação armênia. A destruição dessas lideranças foi parte essencial da política de extermínio.

Por outro lado, a Maçonaria internacional — especialmente na França, na Inglaterra e nos Estados Unidos — denunciou, já na década de 1920, os horrores cometidos pelos otomanos. Embora não tenha conseguido impedir os crimes, a denúncia maçônica internacional contribuiu para preservar a memória das vítimas e impulsionar ações humanitárias em prol dos refugiados armênios.

O Silêncio e a Reabilitação Histórica

Durante o século XX, a questão do genocídio armênio foi amplamente silenciada, especialmente nos países aliados da Turquia. No entanto, com o passar das décadas, o reconhecimento histórico foi crescendo. Em 1987, o Parlamento Europeu reconheceu oficialmente o genocídio. Em 2019, os Estados Unidos fizeram o mesmo. Em 2023, o Papa Francisco reiterou que o genocídio armênio “foi o primeiro do século XX”.

A Maçonaria, especialmente em países onde o tema é mais discutido, como França e Argentina, promove encontros, publicações e homenagens às vítimas do genocídio. Lojas maçônicas armênias na diáspora mantêm viva a chama da memória, não como um instrumento de rancor, mas como uma defesa da justiça e da dignidade humana.

Considerações Finais

Cento e dez anos depois, o Genocídio Armênio continua a clamar por reconhecimento e verdade. A Maçonaria, embora não tenha sido protagonista direta dos acontecimentos, foi envolvida de forma significativa — por seus membros perseguidos, por sua filosofia humanista e por sua resistência ao obscurantismo.

A lição que permanece é clara: onde a fraternidade é esquecida, a barbárie prospera. A memória dos maçons armênios assassinados, dos templos destruídos e das vidas apagadas permanece como um alerta — e uma convocação. Cabe à Maçonaria de hoje continuar sendo guardiã da verdade, da liberdade e da dignidade humana, lutando contra todos os genocídios e negacionismos, em qualquer época, em qualquer lugar.

 

AJUDE A MANTER VIVO O BLOG 

E A REVISTA O MALHETE!

Sua doação, de qualquer valor, é essencial para continuarmos compartilhando conteúdos de qualidade. Contribua e faça parte desta jornada conosco!

                                


Postar um comentário

0 Comentários