Da Redação
Quando
o Venerável Mestre entoa o chamado: “A mim, meus Irmãos, pelo sinal, pela bateria, pela aclamação”, estamos diante de um momento carregado de
simbolismo, que ultrapassa o cerimonial e toca o coração da espiritualidade
maçônica. No Rito Escocês Antigo e Aceito (REAA), a tríplice aclamação “Houzzé, houzzé, houzzé”
e o lema “Liberdade,
Igualdade, Fraternidade” são expressões fundamentais da
identidade maçônica.
Aclamação Escocesa: Origens e Significados
A
aclamação “Houzzé” suscita diversas interpretações. Alguns estudiosos apontam
sua origem como uma antiga forma de "hurrah" inglesa, usada como
grito de júbilo, provavelmente herdada dos marinheiros que saudavam visitantes
a bordo. No entanto, há interpretações mais profundas. O respeitado maçom
Michael Segall sugeriu que “Houzzé” deriva do hebraico “hou zé”, que significa “É Ele!”, uma referência
direta ao Grande Arquiteto do Universo.
Há
também conexões com termos bíblicos como oz,
que significa força, honra, poder — atributos divinos associados ao Eterno,
como em Crônicas 16:28: “Tributai
ao Senhor glória e honra (kavod ve oz).”
Outras
hipóteses levantam possíveis vínculos com o nome Uzá, que tocou a Arca da
Aliança; com Oséias (cujo nome significa “Deus salva”); ou mesmo com a deusa
pré-islâmica al-Uzza,
associada à acácia e ao simbolismo solar. No plano histórico, registros
maçônicos da Irlanda (1725), Escócia (1738) e França (1774) já mencionam
variações como Huzzah,
Houzai e Houzze, confirmando o uso
dessa aclamação como expressão ritualística de alegria, respeito e
glorificação.
Lema Maçônico: Liberdade, Igualdade,
Fraternidade
Embora
o lema tenha sido oficializado pela República Francesa apenas em 1848, ele já
figurava no Grande Livro de
Arquitetura da Grande Loja da França desde 1789. Entre os
revolucionários franceses, as palavras apareceram pela primeira vez em 1790 num
discurso de Robespierre e, em 1793, foram estampadas nos edifícios públicos de
Paris. Mas seu significado para a Maçonaria é mais antigo, simbólico e
filosófico.
Albert
Lantoine reconheceu que, embora não tenha nascido diretamente dentro das lojas,
o lema foi amplamente adotado pela Maçonaria continental e, posteriormente, por
toda a Maçonaria Latina. A Loja Saint-Jean d’Écosse do Contrato Social já fazia
menção ao tríptico em 1791, o que reforça a sua adoção antes de sua consagração
como lema republicano.
Valores Iniciáticos e Humanistas
No
contexto escocês, o lema não tem sentido político-partidário, mas espiritual e
iniciático. “Liberdade”
é, para o maçom, a libertação de dogmas, preconceitos e pensamentos prontos. É
a autonomia de consciência, o direito de pensar, crer e escolher — e ser
responsável por essas escolhas.
“Igualdade” não é
nivelamento, mas reconhecimento da dignidade de todo ser humano. Significa
respeitar o outro como igual, independentemente de crenças, culturas ou
convicções. É a base do respeito mútuo.
“Fraternidade” ultrapassa
a solidariedade — é afeição, empatia, comunhão de destino. Somos todos irmãos
em humanidade, unidos por um vínculo natural que nos impele ao cuidado, ao
diálogo, à compaixão e à busca pelo bem comum.
Um Chamado à Consciência
Cada
vez que se ouve a aclamação “Houzzé,
houzzé, houzzé” seguida do lema “Liberdade, Igualdade, Fraternidade”,
não é apenas uma repetição ritual: é uma invocação viva, alegre e coletiva à
presença do Grande Arquiteto do Universo. É a lembrança de que o trabalho
maçônico não é apenas cerimonial, mas transformação interior, ética e
espiritual.
Para
além da Loja, esses princípios nos chamam à ação no mundo profano: respeitar,
libertar, acolher, construir pontes e não muros. Eles nos recordam que o
verdadeiro templo está no interior do ser, continuamente erguido e sustentado
por essas três colunas fundamentais.
Vivat, vivat, vivat, semper vivat!
Houzzé, houzzé, houzzé!
Liberdade – Igualdade –
Fraternidade!
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