A história da maçonaria brasileira é
marcada por momentos de grandes realizações, mas também por episódios de
conflitos internos e dissidências. Um dos capítulos mais tristes e polêmicos
ocorreu nas eleições de 1973 para o cargo de Soberano Grão-Mestre Geral do
Grande Oriente do Brasil (GOB). Este evento não só evidenciou as tensões
políticas dentro da organização, mas também levou à criação de uma nova
entidade maçônica, a Confederação Maçônica do Brasil (COMAB).
As
Eleições de 1973
Em 1973, o Grande Oriente do Brasil, uma
das mais antigas e influentes potências maçônicas do país, realizou eleições
para o cargo de Soberano Grão-Mestre Geral. Os candidatos eram Athos Vieira de
Andrade, do Grande Oriente de Minas Gerais, e Osmane Vieira de Resende, o
candidato apoiado pela situação. A participação foi massiva, com 740 lojas
maçônicas de todo o Brasil envolvidas no processo eleitoral.
Os resultados iniciais mostraram uma
clara vitória de Athos Vieira de Andrade, que obteve 7.932 votos contra 3.812
votos de Osmane Vieira de Resende. A vitória de Andrade parecia incontestável,
refletindo o desejo da maioria dos maçons brasileiros.
A
Anulação dos Votos
No entanto, em um movimento que chocou a
comunidade maçônica e gerou indignação, o poder central do GOB decidiu anular
os votos de 600 lojas, representando 71% dos votos. Apenas os votos de 140
lojas, equivalentes a 21% do total, foram validados. Essa decisão reverteu o
resultado das eleições, declarando Osmane Vieira de Resende como o vencedor.
Esta atitude foi vista como antimaçônica
e incompreensível, ignorando o princípio democrático e os valores maçônicos de
justiça e igualdade. A anulação dos votos foi amplamente criticada e
considerada uma traição aos princípios mais sublimes da maçonaria.
A
Dissidência e a Criação da COMAB
A reação à anulação dos votos foi rápida
e decisiva. Dez Grandes Orientes Estaduais, incluindo Rio Grande do Sul, Santa
Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Distrito Federal, Mato Grosso,
Espírito Santo, Ceará e Rio Grande do Norte, decidiram se desligar do GOB.
Estes estados, que haviam majoritariamente apoiado Athos Vieira de Andrade,
sentiram-se traídos pela liderança do GOB e resolveram formar uma nova
organização.
Foi criado o Colégio de Grão-Mestres Independentes,
que posteriormente evoluiu para a Confederação Maçônica do Brasil (COMAB). Este
novo corpo enfrentou um período inicial difícil, não sendo reconhecido nem pelo
Grande Oriente do Brasil nem pela Grande Loja. Os membros da COMAB foram
considerados "irregulares" até a década de 1990.
Impacto
e Reflexões
O episódio de 1973 é uma mancha na
história da maçonaria brasileira, destacando a fragilidade das instituições
diante da manipulação política e da sede de poder. A criação da COMAB, apesar
das dificuldades iniciais, mostrou a resiliência dos maçons em buscar uma
prática maçônica mais justa e alinhada com os verdadeiros princípios da
fraternidade e igualdade.
A história das eleições de 1973 serve
como um lembrete dos perigos da centralização do poder e da importância da
integridade e transparência em qualquer organização, especialmente em uma que
se baseia em valores tão elevados como a maçonaria.
Conclusão
Os eventos de 1973 nas eleições do Grande Oriente do Brasil são uma lembrança dolorosa, mas importante, da história da maçonaria brasileira. Eles nos ensinam sobre a importância da democracia interna, da justiça e da manutenção dos princípios éticos em todas as esferas da vida organizacional. A formação da COMAB, apesar dos desafios enfrentados, é um testemunho da capacidade de renovação e adaptação dos maçons brasileiros diante da adversidade.
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