“É necessário, porém, distinguir-se entre a
iniciação simbólica e a iniciação real ou vivida. A Iniciação maçônica é
puramente simbólica e assim, depende apenas de que o iniciado alcance a
Iniciação Real. A Iniciação simbólica é apenas uma imagem, a Iniciação real é
uma ciência.” (Nicola Aslan)
INTRODUÇÃO
A Maçonaria é uma
instituição iniciática, repleta de simbologias.
Ao ler a afirmativa acima, podemos nos perguntar:
quem é que poderá lembrar de, após ter sido iniciado, ter ouvido esclarecimentos
sobre o porquê da Maçonaria ser definida como iniciática ou de onde teriam vindo
essas tradições, ou ainda, aludindo ao trecho de autoria do Irmão Nicola Aslan
que aparece logo após o título, ter ouvido sobre haver uma distinção entre a
Iniciação simbólica e essa outra Iniciação, a real?
Sim, a
Iniciação está afeta ao campo da interpretação intuitiva, portanto, a percepção
de cada um é única, e para defini-la ou nos referirmos aos complexos significados
que envolvem o que é simbólico e o que é real, poucos conseguem transformar
isso em palavras. Já no que se referem às instruções, também, não são muitos
aqueles que poderiam contar ou resumir essa que seria uma longa história: as origens
e significados das Iniciações desde os seus tempos mais remotos e o que chegou efetivamente
até nós. Quem sabe, então, ao longo das primeiras sessões, onde tudo é novo
para o Aprendiz, no período reservado à Instrução, orientar, indicar livros e artigos
de autores que esmiuçam o Grau e que tenham discorrido sobre os significados da
Iniciação e do seu simbolismo. É preciso leitura? Sim, e a leitura não está
afeta ao Ritual somente. Aliás, isso independe do Grau e do tempo de Maçonaria.
O de praxe é achar que a lacuna
à qual nos referimos, será resolvida logo que surgir para o recém-iniciado, a
oportunidade de presenciar uma Iniciação em uma outra Loja, quando então será
convidado e aconselhado para bem observar tudo o que ali se passar, pois, na
condição de espectador, presumidamente, passará a entender o que é uma
Iniciação, fazendo um paralelo com a sua própria, e que poderia soar um tanto
simplista ou até reducionista.
Evidentemente, a Iniciação é um processo,
como bem se referiu André Combes, o qual, foi citado pelo Irmão Luiz Vitório
Cichoski em seu livro:
“deve
ser compreendida como a primeira etapa da formação do Maçom: ela é o ponto de
partida do trabalho que o Neófito deverá
realizar sobre si mesmo” (Cichoski, 2014, pág. 219)
O fato de poder ser um espectador
valerá mesmo como um complemento, não seu entendimento pleno, pois, tudo vai se
operar mesmo com o passar do tempo, e pesará, sobretudo, muito da intuição de
cada um em particular.
O Irmão Ivo Reinaldo Christ, em seu
trabalho intitulado “A Maçonaria Iniciática”, escreveu o seguinte:
“O
conhecimento iniciático é muito mais sensorial do que intelectual.”
Uma Iniciação é um processo de transformação
para uma nova vida e para o resto das nossas vidas, pois, marcará um antes e um
depois.
Portanto, porque não usar de mais esclarecimentos (por parte dos Irmãos
Vigilantes, dos Mestres, dos padrinhos...) para com os recém iniciados, sobre o
porquê a Maçonaria ser considerada iniciática, em que consiste esse processo
iniciático, o que é a Iniciação que eles viveram e o que ela irá representar em
suas vidas a partir daquele primeiro momento, é fundamental. E ainda haveria
mais: o que é a Iniciação simbólica, o que é a Iniciação real, esta última, aquela
que viverão dali para a frente, afinal, um iniciado passou apenas pela porta de
entrada, e alguém tem de avisar que o caminho iniciático é um longo caminho,
além de solitário.
O Irmão Nicola Aslan reproduziu em seu livro
“Estudos Maçônicos Sobre Simbolismo”, o seguinte comentário de Paul Naudon:
“Os
Ritos iniciáticos não tem nenhum valor sacramental. O profano que foi recebido
Maçom, de acordo com as formas tradicionais, não adquiriu só por este fato as
qualidades que distinguem o pensador esclarecido do homem não inteligente e
grosseiro. O cerimonial de recepção tem valor unicamente como encenação de um
programa que importa ao Neófito seguir, para entrar na posse de todas as suas
faculdades.” (Aslan, 1997, pág. 42)
O simbolismo, o aspecto externo e o interno desses símbolos, as
experiências objetivas e subjetivas, a visão e a percepção, a intuição, as
introspecções..., são parte do todo.
O ensino maçônico difere em muito de outras
modalidades de ensino, pois, atende ao método iniciático. Pensar por si mesmo,
desenvolvendo a capacidade de compreensão, e meditar muito. Mas, para aprender
a pensar, é preciso primeiro aprender a calar. E aqui já poderíamos fazer uma
projeção: quem aprendeu a lição sobre a importância do silêncio, quem aprendeu
a calar, saberá o momento adequado de falar e sobre o que se vai falar, o que é
diferente de papagaiar.
O QUE SIGNIFICA MAÇONARIA INICIÁTICA?
A Maçonaria, conforme Nicola Aslan “é uma sociedade iniciática porque, ao
contrário das sociedades profanas, o candidato que reúne os requisitos que a
autoridade maçônica exige, é submetido à uma cerimônia esotérica, a iniciação.”
Ou como escreveu o irmão Cipriano Oliveira em
seu livro “Maçonaria: Passado, Presente e Futuro”:
“Por
via Iniciática significa uma transmissão de certos conhecimentos através de um
processo esotérico hierarquizado denominado Iniciação, simbolizando a morte e o
renascimento para uma nova vida, na qual se pretende despertar a pessoa para um
conjunto de conhecimentos que transcendem a personalidade, de ordem metafísica.
Recebe para isso ‘chaves interpretativas’ que lhe permite começar esse labor
intelectual e emocional.
Associado
ao esoterismo existe sempre um ritual que nos remete para os mistérios antigos,
em que o conhecimento era secreto, quer por ser apanágio de poucos, quer por
ser fonte de poder. Uma vez transposto esse patamar, não mais se podia voltar
atrás, por se ter tido acesso às suas chaves herméticas.” (Oliveira,2011, pág. 22)
É possível ter
passado pela cerimônia da Iniciação e não ter tido a sensação de que algo novo em
seu íntimo estava acontecendo, uma mudança, um despertar, um novo ser surgindo?
AS ESCOLAS INICIÁTICAS DA ANTIGUIDADE, OU AS ESCOLAS
DE MISTÉRIOS
Os Mistérios Antigos eram aqueles cultos onde
os ensinamentos eram ministrados aos seus membros por intermédio de rituais, de
simbolismos específicos, os quais, deveriam ser mantidos em segredo. Para esses
últimos havia uma espécie de pacto de silêncio, além de que, os seus
recebedores deveriam antes prestar um juramento.
Não existiu propriamente uma uniformidade
entre as várias escolas do passado e os seus métodos, mas, mantiveram sempre
uma ligação estreita com o culto, a educação e o poder, que eram administrados
por intermédio dos seus sacerdotes. Aliás, o poder e a intermediação eram sim
características comuns entre elas, assim como, os cuidados nas ligações entre o
sagrado e o profano.
A Maçonaria herdou dessas escolas
iniciáticas, muitos dos seus procedimentos, assim como, dos conhecimentos
esotéricos da antiguidade provenientes das mais variadas crenças e religiões. A
Maçonaria bebeu ainda nas fontes que compreendem as ciências herméticas, o
misticismo judaico e fundamentalmente no Livro Sagrado, a Bíblia.
O ENSINO INICIÁTICO/O ENSINO MAÇÔNICO
Como escreveu o Irmão Nicola Aslan, quando se
referindo certamente a um estudioso que lhe precedeu, mas, sem citar nomes: “Já foi dito que o ensinamento dos Maçons é
revelado por Símbolos que se tornam sensíveis graças a um Ritual.”
A partir daí, o que vai ser compreendido do
Símbolo, o que vai ser interpretado é pessoal. O aprendizado em si vai depender
de cada maçom, do seu empenho, da sua paixão pelo estudo, pois, muitos dos
frutos que colherá serão oriundos das suas reflexões e interpretações acerca
desses símbolos.
Um esclarecimento muito importante provindo
da análise de Aslan, resume perfeitamente em que vai consistir esse conhecimento
maçônico para o Maçom que estiver buscando verdadeiramente seu progresso moral,
intelectual e espiritual, e que encarne a condição de “eterno aprendiz”,
independente dos Graus que já tenha galgado. Escreveu o Irmão Nicola Aslan, em
seu livro “Estudos Maçônicos sobre Simbolismo”:
“Demasiadamente
ecléticas, as doutrinas maçônicas não se distinguem pela originalidade,
tampouco pela coesão e pela coordenação; em compensação, nelas não existe a
sombra do dogmatismo, sendo, ao contrário, doutrinas essencialmente ventiladas,
doutrinas próprias para homens livres e sem qualquer espírito gregário; são
elas, na verdade, o resultado sedimentado do conflito secular travado pelas
várias correntes de ideias religiosas e filosóficas. O Maçom aceita somente
aquilo que lhe satisfaz o entendimento. O seu equilíbrio mental permanece
inatingível, graças ao estudo, contínuo e diuturno, em que ele se aplica, (grifo
meu!) a fim de absorver conhecimento de tudo o que constitui o fundo espiritual
e cultural da humanidade.
Pelo
método iniciático, o Maçom distingue-se culturalmente dos outros homens. Não
conhece nem pode conhecer a satisfação espiritual e intelectual, pois ele sabe
que a Verdade de hoje pode não ser a Verdade de amanhã. Pesquisador eterno, o
Maçom faz jus à denominação de FILHO DA LUZ.” (Aslan, 1997, págs. 19-20)
TORNANDO-SE UM VERDADEIRO INICIADO
Em um trabalho de autoria de vários Irmãos,
intitulado “O Maçom e a Intuição” lemos a seguinte passagem:
“Nos
Ensinamentos Maçônicos, um ensinamento é dito secreto, não necessariamente
porque alguém proibiu sua divulgação, mas ele somente será aprendido pelo olho
interno do Aprendiz, e este pode não ter atingido ainda o nível necessário de
percepção.
O que
se pode fazer é indicar ao Aprendiz quais os métodos ou caminhos que o levariam
a atingir um determinado conhecimento através da intuição, fornecendo-lhe um
quadro de orientações e não de definições, pois, o conhecimento é íntimo e
pessoal, e a participação isolada de que aprende é indispensável.”
Desde a antiguidade, em todas as escolas de
mistério, o silêncio foi exigido dos iniciados, além da capacidade de manter
segredo.
Na Maçonaria, o símbolo se faz acompanhar do
silêncio, o que convida à meditação, reforçando aqui, essa condição necessária
e importante para achar o significado oculto do símbolo.
E nas palavras do Ir.’. Luis Javier Miranda
Mc Nally:
“Quando
a iniciação alcança o iniciado, este não só entende o significado do propósito
para o qual foi escolhido, como esse significado faz parte dele, aplicando os
ensinamentos na sua vida cotidiana, transmitindo-os para os outros de seu
círculo que não são iniciados por intermédio do seu exemplo; em outras palavras,
a iniciação começa a fazer parte da sua consciência, traduzindo essa
conscientização em termos práticos, no amo e respeito por seu semelhante.” (Mc
Nally, 2008, págs. 15-16)
CONCLUSÃO
Basicamente, uma conscientização
pode ser traduzida como a “ação de tomar conhecimento de algo”, sendo que, a
partir desse momento os nossos costumes, os nossos comportamentos, a nossa
maneira de ser, estão sujeitos às alterações que virão por conta das adaptações
que se farão necessárias.
Parafraseando Paul Naudon, pode-se dizer que aqueles
que são iniciados na Maçonaria, naquele primeiro momento tomaram parte num
cerimonial de recepção que vai introduzi-los num programa a ser seguido.
O
tempo dirá se todos aqueles que são iniciados estavam mesmo destinados ou dispostos
a se submeterem e a cumprirem o programa esse que os conduzirá a uma iluminação
de caráter íntimo e que vai exigir bastante de cada um. Nem todos estarão aptos
a buscar e conseguir esse conhecimento superior, muitos não conseguirão se
desvencilhar das veleidades, da soberba, das trivialidades e dos prazeres do
ego.
O sábio Irmão Octacílio Schüler Sobrinho
escreveu que, a Maçonaria é uma grande estrada, a qual, pela Iniciação nos
levará ao conhecimento, assim como, por meio dos seus símbolos, ao
autodesenvolvimento. Se este último, que faz com que tomemos as rédeas de nosso
processo evolutivo, não acontecer, mesmo tendo sido iniciado continuará sendo
um profano.
Ainda da lavra do Irmão Octacílio
Schüler Sobrinho, a seguinte passagem que consta em um dos seus livros parece
vir exatamente ao encontro daquilo que foi esboçado até aqui, durante o
desenvolvimento deste trabalho:
“O que
de verdade há é que, iniciado _ colocado no caminho _, mesmo atingindo o grau
de Companheiro ou Mestre, sempre será um iniciado, ou seja, um eterno Aprendiz.
Entendido desta maneira, o Maçom não pode deixar de estudar insistentemente o
simbolismo, porque esta ausência provocará, necessariamente, uma patologia
mental e espiritual, levando o obreiro a não entender o que é Maçonaria e a
perder a motivação e abandonar a Ordem.” (Schüler Sobrinho, 2000, pág. 132)
E analisando o uso
da expressão “eterno Aprendiz”, ela está perfeitamente inserida no contexto
deixando entrever todo o seu rico significado, sendo que ela carrega em si a
ideia de que o eterno Aprendiz é aquele que não pode deixar de estudar com
afinco, pois, se assim não proceder, corre o risco de não entender a Maçonaria.
Aliás, esse pensamento deve ser difundido
constantemente em Loja, pois, a expressão “eterno Aprendiz”, muitas vezes é
utilizada por alguns como se não passasse de “efeitos especiais”.
Do nosso esforço contínuo para estudar,
dependerá o nosso entendimento em cada um dos Graus do REAA, pois, dentro de
cada um deles há um mundo novo de conhecimentos à nossa espera. Se eu disser
que a busca é infinita, alguém poderá duvidar disso?
Irmão José Ronaldo Viega Alves
Loja Saldanha Marinho, “A Fraterna”
Oriente de S. do Livramento – RS.
CONSULTAS BIBLIOGRÁFICAS:
Internet:
“Significado de Conscientização” – disponível
em: significados.com.br
“A Maçonaria Iniciática” – Trabalho de
autoria do Irmão Ivo Reinaldo Christ. Disponível em: www.alferes20.net/
Revistas:
ACÁCIA, nº 56, de jan./fev.2000: “Sociedade
Iniciática” – Artigo de autoria do Irmão Nicola Aslan
A TROLHA, nº 357, junho/2016: “O Maçom e a
Intuição” – Trabalho de autoria de vários Irmãos.
Livros:
ASLAN, Nicola. “Estudos Maçônicos Sobre
Simbolismo” – Editora Maçônica “A Trolha” Ltda.- 1ª Edição – 1997
CICHOSKI, Luz Vitório. “Fundamentos da Iniciação”
– Editora Maçônica “A Trolha” Ltda. - 1ª Edição – 2014
MC NALLY, Luis Javier Miranda. “Iniciação” –
Editora Maçônica “A Trolha” Ltda.- 1ª Edição - 2008
OLIVEIRA, Cipriano. “Maçonaria: Passado,
Presente e Futuro.” – Editora Maçônica “A Trolha” Ltda. – agosto de 2011.
SCHÜLLER SOBRINHO, Octacílio. ”MAÇONARIA - Introdução
aos Fundamentos Filosóficos” – Livraria e Editora Obra Jurídica Ltda. - 2000
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