Ouvindo uma palestra em uma Loja Maçônica no nordeste mineiro, sobre um tema deveras controverso: a aprendizagem em Maçonaria. Seria isso possível à luz apenas dos estudos? Ou seria algo que não é consubstanciado e congruente com a alusão de alguns decanos, que pregam que o homem livre e de bons costumes já é e nasce maçom, sendo seu aprendizado uma questão apenas de ser burilado, lapidado, e que simplesmente estudar livros, rituais e vade mecum apenas complementa seu crescimento na Ordem?
Aprender é a
única coisa de que a mente nunca se cansa, nunca tem medo e nunca se arrepende.
A verdadeira riqueza do aprendizado está nas experiências que acumulamos e não
nos bens materiais que possuímos.
Uma boa e saudável aprendizagem é aquela que se faz gradualmente, sem pressa, sem saltar etapas na via que agora iniciaste em teu caminhar maçônico, na via do conhecimento das leis que nos regem, na relação com os outros homens e no preito Àquele de quem fomos feitos à imagem: Deus, o Supremo Arquiteto do Universo.
Não tenhas,
por isso, pressa. Na caminhada que iniciaste, serás conduzido pelo oficial da
Loja que tem a incumbência de instruir e supervisionar os aprendizes: o Irmão
Segundo Vigilante. Esse Irmão está sentado à tua frente, na mesa triangular que
lhe serve de enquadramento.
Na Maçonaria
Ancestral, Universal e Arcana, a aprendizagem e a instrução são essencialmente
feitas por três vias:
As lendas,
como alegorias de significado múltiplo;
Os símbolos e
o seu despertar;
A
interiorização das lendas e dos símbolos.
Uma
transformação tem lugar fruto das provas, obstáculos, privações e recompensas
que o iniciado enfrenta. Estudar nossas lendas e nossos símbolos é como
resolver um enigma, pois envolve simbolismo, filosofia e esoterismo, que se
mesclam e dão a verdadeira amplitude do aprendizado.
Assim, investigar o significado oculto dessas lendas, desses símbolos e dos rituais, e deles extrair as lições morais e filosóficas que pretendem transmitir, é levantar o véu com que a ignorância e a indiferença tentam ocultar a verdadeira filosofia maçônica. Seu estudo é a única maneira de assimilar a sabedoria emanada de nossa Sublime Ordem e que constitui o portal do Templo.
O ritual é
símbolo e é lenda, e a aura desse triunvirato é uma presença constante, mesmo
quando absorvida inconscientemente. A cerimônia não é a substância, mas a
embalagem que a adorna. Gostaria, neste ponto, de relembrar que os rituais
maçônicos não são nem pretendem ser a palavra revelada do Grande Arquiteto do
Universo. A Maçonaria foi criada por homens imperfeitos, que buscavam
aperfeiçoar-se, para homens imperfeitos que desejem partilhar essa via e
vivenciá-la.
Existe um
universo de verdade no simbolismo, esoterismo e filosofismo dos quais ouvimos
falar, mas cuja dimensão plena muitas vezes não atingimos. Ouso dizer que a
demanda é contínua, e o percurso é tão importante quanto a meta.
Esse é o
grande desafio que a Maçonaria, que tanto tem para ensinar, nos propõe:
alimentar a insaciável vontade de aprender, estudar e investigar. É preciso
deitar a mão à obra, porque o Templo não se constrói sozinho. Aqui, ratifico a
sublimidade da frase do amado e sábio Irmão Nelson Rodrigues da Costa:
"Dá-me,
Senhor, agudeza para entender, capacidade para reter, método e faculdade para
aprender, sutileza para interpretar, graça e abundância para falar. Dá-me,
Senhor, acerto ao comentar, direção ao progredir e perfeição ao concluir."
Sintetizou
toda a essência do verdadeiro aprendizado de maneira poética e com uma profundidade
maravilhosa.
A busca pelo
crescimento é, prioritariamente, individual, no entendimento de que será
progressivo e cumulativo, abrindo novos horizontes de pesquisa em uma eterna
caminhada que tem seus alicerces na fraternidade, na liberdade e na isonomia.
Entender tudo isso se torna a principal aspiração do verdadeiro iniciado.
O
desenvolvimento escalonado é uma constância. Mesmo que não queiramos, seremos
mais desenvolvidos pelo tempo passado e pelo ingresso na Ordem. Estamos
inseridos em um grupo no qual, pela convivência e pelas experiências
compartilhadas, passamos a fazer parte de um todo, que também pode e deve ser
partilhado. Há irmãos que demandam mais tempo para esse aprendizado, pois
existem limitações que decorrem da própria natureza humana, que é imperfeita, e
do "todo" relatado que não conseguimos compreender por completo.
Quanto às
aspirações, são sempre renováveis e presentes no caminho da vida. Basta querer
abrir o olho da mente e o do coração.
O Mito da
Caverna, de Platão, é uma metáfora que ilustra a busca pela verdade e pelo
conhecimento racional.
A caverna
representa o mundo sensível, onde vivemos, e as sombras são as coisas sensíveis
que tomamos por verdadeiras.
A luz que
projeta as sombras na parede é um reflexo da luz verdadeira, ou seja, das
ideias.
Os grilhões
são os preconceitos e a confiança nos sentidos e opiniões.
A dialética é
o instrumento que quebra os grilhões e permite a escalada do muro.
O prisioneiro
curioso que escapa é o filósofo.
O retorno à
caverna para convidar os outros a sair dela é o diálogo filosófico.
O mito da
caverna pode ser aplicado à educação, onde o aprendizado é a ferramenta que
atrai as pessoas para a luz do conhecimento. Essa crônica sintetiza, de maneira
ímpar, o que é o aprendizado em todas as suas searas.
Os
ensinamentos advindos da Maçonaria destacam a importância da educação e da
reflexão crítica para a compreensão do mundo e da vida, tanto na esfera
maçônica quanto na sociedade. Ela tem como premissa tornar as pessoas felizes
pelo amor, pelo aperfeiçoamento dos costumes, pela tolerância, pela igualdade,
pelo respeito à autoridade e à crença de cada um.
Concluindo,
aprender na Maçonaria é:
Ter uma mente
objetiva, imparcial, e perceber os preconceitos para refletir com base na
própria natureza;
Ter uma
cabeça aberta: compreender todos os aspectos de um problema sem se deixar levar
pelos sentimentos;
Ser humilde,
consciente de sua falta de conhecimento em alguns assuntos, e buscar sempre
evoluir;
Ser empático,
pensando em como suas decisões podem afetar os outros;
Praticar o
autocuidado, focando no que realmente importa e estabelecendo metas de
qualidade para seu crescimento;
Aprender com
os erros, sejam próprios ou alheios;
Diversificar
fontes de conhecimento, conectando ideias e fazendo autoavaliações críticas.
Assim, o
aprendizado deve sempre ser compartilhado, pois, como está escrito no Livro da
Lei:"Quem semear pouco, também colherá pouco; e quem semear
generosamente, colherá generosamente."
Distribuir conhecimento não é prerrogativa apenas do sábio; também o é do aprendiz. Afinal, ninguém é tão sábio que não possa aprender, nem tão humilde aprendiz que não possa ensinar.
M.'. I.'. CIM 157465
Academia Maçônica de Letras do ES
Cadeira N 1 Patrono Alferes Tiradentes
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