"Aprendendo" Ser Maçom


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(*) Por Dário Angelo Baggeri 

Ouvindo uma palestra em uma Loja Maçônica no nordeste mineiro, sobre um tema deveras controverso: a aprendizagem em Maçonaria. Seria isso possível à luz apenas dos estudos? Ou seria algo que não é consubstanciado e congruente com a alusão de alguns decanos, que pregam que o homem livre e de bons costumes já é e nasce maçom, sendo seu aprendizado uma questão apenas de ser burilado, lapidado, e que simplesmente estudar livros, rituais e vade mecum apenas complementa seu crescimento na Ordem?

Aprender é a única coisa de que a mente nunca se cansa, nunca tem medo e nunca se arrepende. A verdadeira riqueza do aprendizado está nas experiências que acumulamos e não nos bens materiais que possuímos.

Uma boa e saudável aprendizagem é aquela que se faz gradualmente, sem pressa, sem saltar etapas na via que agora iniciaste em teu caminhar maçônico, na via do conhecimento das leis que nos regem, na relação com os outros homens e no preito Àquele de quem fomos feitos à imagem: Deus, o Supremo Arquiteto do Universo.

Não tenhas, por isso, pressa. Na caminhada que iniciaste, serás conduzido pelo oficial da Loja que tem a incumbência de instruir e supervisionar os aprendizes: o Irmão Segundo Vigilante. Esse Irmão está sentado à tua frente, na mesa triangular que lhe serve de enquadramento.

Na Maçonaria Ancestral, Universal e Arcana, a aprendizagem e a instrução são essencialmente feitas por três vias:

As lendas, como alegorias de significado múltiplo;

Os símbolos e o seu despertar;

A interiorização das lendas e dos símbolos.

Uma transformação tem lugar fruto das provas, obstáculos, privações e recompensas que o iniciado enfrenta. Estudar nossas lendas e nossos símbolos é como resolver um enigma, pois envolve simbolismo, filosofia e esoterismo, que se mesclam e dão a verdadeira amplitude do aprendizado.

Assim, investigar o significado oculto dessas lendas, desses símbolos e dos rituais, e deles extrair as lições morais e filosóficas que pretendem transmitir, é levantar o véu com que a ignorância e a indiferença tentam ocultar a verdadeira filosofia maçônica. Seu estudo é a única maneira de assimilar a sabedoria emanada de nossa Sublime Ordem e que constitui o portal do Templo.

O ritual é símbolo e é lenda, e a aura desse triunvirato é uma presença constante, mesmo quando absorvida inconscientemente. A cerimônia não é a substância, mas a embalagem que a adorna. Gostaria, neste ponto, de relembrar que os rituais maçônicos não são nem pretendem ser a palavra revelada do Grande Arquiteto do Universo. A Maçonaria foi criada por homens imperfeitos, que buscavam aperfeiçoar-se, para homens imperfeitos que desejem partilhar essa via e vivenciá-la.

Existe um universo de verdade no simbolismo, esoterismo e filosofismo dos quais ouvimos falar, mas cuja dimensão plena muitas vezes não atingimos. Ouso dizer que a demanda é contínua, e o percurso é tão importante quanto a meta.

Esse é o grande desafio que a Maçonaria, que tanto tem para ensinar, nos propõe: alimentar a insaciável vontade de aprender, estudar e investigar. É preciso deitar a mão à obra, porque o Templo não se constrói sozinho. Aqui, ratifico a sublimidade da frase do amado e sábio Irmão Nelson Rodrigues da Costa:

"Dá-me, Senhor, agudeza para entender, capacidade para reter, método e faculdade para aprender, sutileza para interpretar, graça e abundância para falar. Dá-me, Senhor, acerto ao comentar, direção ao progredir e perfeição ao concluir."

Sintetizou toda a essência do verdadeiro aprendizado de maneira poética e com uma profundidade maravilhosa.


A busca pelo crescimento é, prioritariamente, individual, no entendimento de que será progressivo e cumulativo, abrindo novos horizontes de pesquisa em uma eterna caminhada que tem seus alicerces na fraternidade, na liberdade e na isonomia. Entender tudo isso se torna a principal aspiração do verdadeiro iniciado.

O desenvolvimento escalonado é uma constância. Mesmo que não queiramos, seremos mais desenvolvidos pelo tempo passado e pelo ingresso na Ordem. Estamos inseridos em um grupo no qual, pela convivência e pelas experiências compartilhadas, passamos a fazer parte de um todo, que também pode e deve ser partilhado. Há irmãos que demandam mais tempo para esse aprendizado, pois existem limitações que decorrem da própria natureza humana, que é imperfeita, e do "todo" relatado que não conseguimos compreender por completo.

Quanto às aspirações, são sempre renováveis e presentes no caminho da vida. Basta querer abrir o olho da mente e o do coração.

O Mito da Caverna, de Platão, é uma metáfora que ilustra a busca pela verdade e pelo conhecimento racional.

A caverna representa o mundo sensível, onde vivemos, e as sombras são as coisas sensíveis que tomamos por verdadeiras.

A luz que projeta as sombras na parede é um reflexo da luz verdadeira, ou seja, das ideias.

Os grilhões são os preconceitos e a confiança nos sentidos e opiniões.

A dialética é o instrumento que quebra os grilhões e permite a escalada do muro.

O prisioneiro curioso que escapa é o filósofo.

O retorno à caverna para convidar os outros a sair dela é o diálogo filosófico.

O mito da caverna pode ser aplicado à educação, onde o aprendizado é a ferramenta que atrai as pessoas para a luz do conhecimento. Essa crônica sintetiza, de maneira ímpar, o que é o aprendizado em todas as suas searas.

Os ensinamentos advindos da Maçonaria destacam a importância da educação e da reflexão crítica para a compreensão do mundo e da vida, tanto na esfera maçônica quanto na sociedade. Ela tem como premissa tornar as pessoas felizes pelo amor, pelo aperfeiçoamento dos costumes, pela tolerância, pela igualdade, pelo respeito à autoridade e à crença de cada um.

Concluindo, aprender na Maçonaria é:

Ter uma mente objetiva, imparcial, e perceber os preconceitos para refletir com base na própria natureza;

Ter uma cabeça aberta: compreender todos os aspectos de um problema sem se deixar levar pelos sentimentos;

Ser humilde, consciente de sua falta de conhecimento em alguns assuntos, e buscar sempre evoluir;

Ser empático, pensando em como suas decisões podem afetar os outros;

Praticar o autocuidado, focando no que realmente importa e estabelecendo metas de qualidade para seu crescimento;

Aprender com os erros, sejam próprios ou alheios;

Diversificar fontes de conhecimento, conectando ideias e fazendo autoavaliações críticas.

Assim, o aprendizado deve sempre ser compartilhado, pois, como está escrito no Livro da Lei:"Quem semear pouco, também colherá pouco; e quem semear generosamente, colherá generosamente."

Distribuir conhecimento não é prerrogativa apenas do sábio; também o é do aprendiz. Afinal, ninguém é tão sábio que não possa aprender, nem tão humilde aprendiz que não possa ensinar.

(*) Ir.'. Dario Angelo Baggieri
M.'. I.'. CIM 157465
Academia Maçônica de Letras do ES
Cadeira N 1 Patrono Alferes Tiradentes

 




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