A CRISE DA
MAÇONARIA OU MAÇONS EM CRISE?
Uma reflexão sobre os desafios atuais da Ordem frente à modernidade
Por Luiz Sérgio Castro
Em muitas
rodas de conversa, colunas de opinião e reflexões internas dos Templos, uma
pergunta tem se repetido: a Maçonaria está em crise? Mas talvez a pergunta mais
justa e provocadora seja: estamos diante de uma crise da Maçonaria ou de maçons
em crise?
O tema não é novo, mas ganha urgência diante de um cenário em que a sociedade vive transformações aceleradas. O que antes se movia lentamente — tradições, valores, relações sociais — hoje parece oscilar ao ritmo frenético dos algoritmos, das redes sociais e das culturas de massa. Nesse contexto, a Maçonaria, guardiã de antigas tradições e símbolos perenes, é desafiada a manter sua relevância sem perder sua essência.
A
Maçonaria e o Espírito do Tempo
Desde o século
XVIII, quando a Maçonaria especulativa floresceu a partir das antigas guildas
operativas, ela se apresentou como uma escola de virtude, um espaço de formação
moral, filosófica e espiritual. Seus templos eram (e ainda são) lugares de
silêncio reflexivo em meio ao barulho do mundo. No entanto, o espirito do
século XXI é outro: hiperconectado, ansioso, imediatista. E o silêncio
ritualístico, a leitura pausada de símbolos, a lapidação interior — que requer
tempo e disciplina — parecem descompassados com o “agora digital” que tudo
consome e descarta rapidamente.
O desafio, portanto, não é da Maçonaria enquanto estrutura, mas dos homens que hoje a integram, muitas vezes desconectados de seu verdadeiro propósito iniciático.
Uma
Fraternidade em Busca de Sentido
A queda no
número de iniciados em diversas obediências ao redor do mundo tem alimentado a
narrativa da "crise da Maçonaria". Mas os dados, por si sós, não
revelam toda a história. O que se observa com maior preocupação é a fragilidade
do compromisso dos membros com os valores maçônicos, o que resulta em rituais
mecânicos, lojas divididas por disputas de poder, e a substituição da
construção simbólica por vaidades pessoais.
Muitos buscam na Maçonaria prestígio social, status ou influência — e não o caminho interno de autoconhecimento, aprimoramento ético e serviço à humanidade. Nesse sentido, não é a Maçonaria que está em crise, mas os maçons que não compreenderam ou abandonaram seu propósito iniciático.
O
Desafio do Reencantamento
A Maçonaria
nunca foi e nem será uma religião, tampouco um clube de serviços ou um partido
político. Ela é — ou deveria ser — uma escola de mistérios, uma via iniciática
que conduz o homem do caos ao cosmos, da ignorância à luz, da pedra bruta à
obra acabada. Mas como transmitir essa proposta a um mundo saturado de
superficialidade?
É necessário um reencantamento da Maçonaria, não por meio de marketing agressivo ou modernizações vazias, mas por um retorno às suas fontes filosóficas e espirituais. Recolocar o ritual como prática viva, e não como teatro decorativo. Valorizar a instrução, a reflexão simbólica, a ética na prática e a ação discreta mas transformadora no mundo profano.
A
Juventude e o Futuro da Ordem
Outro aspecto
fundamental dessa reflexão é o lugar da juventude na Maçonaria. Jovens
buscadores, inquietos por natureza, estão por toda parte em movimentos
filosóficos, espirituais e sociais. O que falta é uma ponte entre a sabedoria
tradicional e as aspirações das novas gerações. Onde há diálogo sincero, há
crescimento mútuo. Onde há dogmatismo, formalismo estéril ou preconceito
geracional, há estagnação.
Iniciativas que unem Maçonaria e inovação, como Lojas de pesquisa, ações sociais bem coordenadas, conteúdo simbólico bem elaborado e acessível, podem ser caminhos eficazes para abrir as portas a buscadores sérios que desejam mais que frases de efeito — desejam sentido.
A Ordem Sobrevive, Mas Precisa se Renovar Interiormente
A Maçonaria
não está ameaçada enquanto instituição. Sobreviveu a perseguições religiosas,
guerras, totalitarismos e escândalos. Mas o que está em risco é sua alma — o
espírito que a anima, a luz que brilha no coração de cada iniciado.
Se os maçons
atuais — e os que virão — compreenderem que a verdadeira crise não está fora,
mas dentro de cada um de nós, a Ordem não só continuará viva, mas poderá se
tornar ainda mais necessária neste século de sombras e incertezas.
Como ensinava
o Venerável Irmão Albert Pike:
“O homem que
deseja reformar o mundo deve começar por reformar a si mesmo.”
0 Comentários