A Maçonaria em Cuba e a Revolução: Realidade Que Muitos Preferem Ignorar



A Maçonaria em Cuba e a Revolução:

 Realidade Que Muitos Preferem Ignorar

Por Ivan Rios

Falar da Maçonaria em Cuba exige mais do que conhecimento histórico — requer coragem para desafiar mitos confortáveis e preconceitos consolidados. Por muito tempo, sustentou-se a ideia de que a Revolução Cubana suprimiu ou perseguiu a Maçonaria, como se liberdade iniciática e socialismo fossem forças antagônicas. Essa narrativa, porém, não resiste à análise dos fatos.

A verdade incômoda para muitos é que Maçonaria e Revolução Cubana beberam da mesma fonte: o combate à opressão. Ambas se insurgem contra a ignorância institucionalizada, a desigualdade estrutural e o autoritarismo. E, ao contrário do que se propaga, a Maçonaria não só sobreviveu em Cuba — ela floresceu.

A Maçonaria cubana permaneceu ativa após 1959. Longe de ser levada à clandestinidade como no Brasil de Dom Pedro I, continuou funcionando com liberdade e vitalidade. A Grande Loja de Cuba, com mais de 150 anos de existência, reúne hoje mais de 29 mil membros em 316 lojas, em um país com cerca de 11 milhões de habitantes.

Para comparação, a Grande Loja do Estado de São Paulo (GLESP), maior do Brasil, tem menos de 21 mil membros em uma população quatro vezes maior. Proporcionalmente, Cuba possui uma das Maçonarias mais ativas do continente.

Além disso, a Maçonaria cubana mantém 170 tratados de reconhecimento internacional, incluindo com a Grande Loja Unida da Inglaterra, todas as 27 Grandes Lojas Estaduais Brasileiras (CMSB), o Grande Oriente do Brasil e 47 Grandes Lojas dos EUA. É membro-fundador da Confederação Maçônica Interamericana (CMI) e sediou importantes congressos internacionais.

A conexão entre Revolução e Maçonaria não é fortuita. O próprio José Martí, herói nacional cubano, era maçom. Seu ideal de liberdade, fraternidade e educação para todos ecoa tanto nos rituais maçônicos quanto nas políticas sociais de Cuba.

Martí foi o elo entre o humanismo maçônico e o projeto de emancipação cubana. Seu pensamento vive nas lojas e nas escolas, bibliotecas, centros culturais e praças. Cada criança alfabetizada em Cuba carrega, de certo modo, a chama da utopia racionalista que une Maçonaria e Revolução.

Ambas as tradições — iniciática e revolucionária — acreditam na elevação humana: a Maçonaria lapída o indivíduo; a Revolução molda o sujeito coletivo. Onde uma atua simbolicamente, a outra age na estrutura concreta. Ambas aspiram a um mundo mais justo e consciente.

Por que, então, insistir em apresentar Maçonaria e socialismo como incompatíveis? Não será essa uma estratégia ideológica para enfraquecer ambas?

Historicamente, Maçonaria e socialismo revolucionário nasceram do enfrentamento às mesmas forças: absolutismo, obscurantismo religioso e dominação oligárquica. Ambas promovem a razão, a educação e a justiça. A Maçonaria defende a liberdade de consciência; o socialismo, a liberdade coletiva. A Maçonaria afirma a fraternidade universal; o socialismo constrói estruturas para que ela seja viável.

Aqueles que temem essa convergência temem um povo instruído, livre e consciente de seu valor. Temem a combinação do pensamento crítico com a ação coletiva — ou seja, a utopia organizada.

Se há quem acuse o socialismo de ser antimaçônico, é preciso lembrar: foram regimes liberais e capitalistas que mais perseguiram a Maçonaria. O Estado Novo no Brasil, o macarthismo nos EUA e o reinado de Dom Pedro I impuseram severas restrições às lojas maçônicas.

Dom Pedro I, idolatrado por muitos maçons brasileiros, mandou fechar lojas e reprimiu a Ordem, lançando-a à clandestinidade por decreto. Por que ainda se cultua esse monarca dentro de tantos templos? A resposta exige reflexão sobre os próprios valores defendidos pela Maçonaria.

 Uma Maçonaria que Transforma

É preciso romper com o mito da Maçonaria apolítica, neutra e conformada. O verdadeiro espírito maçônico sempre esteve ligado à transformação social, à justiça e à emancipação humana.

Na França revolucionária, a Maçonaria influenciou a Declaração dos Direitos do Homem. Na América Latina, foi fundamental nas lutas pela independência. Em Cuba, é prova viva de que a Maçonaria pode coexistir com um projeto nacional de soberania e justiça.

Negar isso é trair a própria história da Instituição.

Quem lucra com a ideia de que Maçonaria e socialismo são incompatíveis? As elites conservadoras, os inimigos da mudança, os que desejam uma Maçonaria domesticada, meramente cerimonial

Mas uma Maçonaria comprometida com o socialismo ético é um perigo real para esses grupos. É uma ordem que não se contenta com o aperfeiçoamento individual, mas que exige responsabilidade com o mundo. É o retorno à sua origem iluminista, ao seu papel como farol da humanidade.

O esquadro e o compasso não são símbolos de submissão — são instrumentos de construção. E quando necessário, de reconstrução radical. De um mundo sem miséria, sem analfabetismo, sem desigualdade imposta.

A Maçonaria que se cala diante das injustiças se torna cúmplice da escuridão. Mas a que se engaja é aliada da luz. Em Cuba, essa luz nunca se apagou.

É hora de reconhecer que a verdadeira Maçonaria não teme o socialismo — ela o encontra como um terreno fértil onde seus ideais podem florescer.

Aos que ainda insistem em separar artificialmente esses caminhos, cabe um aviso: a história já os uniu. O futuro exige que permaneçam unidos. Se quiser sobreviver no século XXI, a Maçonaria precisa abandonar a neutralidade confortável e reencontrar a coragem de seus fundadores.

Em Cuba, essa coragem pulsa. E continua edificando um templo onde a liberdade, a fraternidade e a justiça não são apenas símbolos — são realidades.

 

 

 


Postar um comentário

0 Comentários