Maçonaria e Democracia na Era Das Redes Sociais

 


Da Redação

Dentro de uma loja maçônica, cada pessoa é tratada com fraternidade, independentemente de suas ideologias, crenças religiosas, condições econômicas, país de origem, cor da pele, classe social ou posição que ocupa na sociedade ou dentro da própria loja. Existe um profundo respeito pela palavra de cada membro: quando um maçom fala, todos ouvem com atenção e sem interrompê-lo, seja para concordar ou discordar. Ao concluir sua exposição, o orador finaliza com a expressão "eu disse", sinalizando que suas palavras refletem apenas sua própria opinião, fruto de uma busca sincera pela verdade — a sua verdade. Nenhum irmão é obrigado a aceitar ou endossar o que foi dito, e a discordância não gera conflitos ou animosidade.

Nesse ambiente, os maçons falam para aprender, compreender, aprimorar-se e colaborar na construção de uma sociedade mais livre, justa, empática, transparente e tolerante, onde os direitos sejam exercidos com a mesma intensidade que os deveres são cumpridos.

Para a Maçonaria, o caos é um campo de forças criativas e destrutivas que necessita ser ordenado em benefício da humanidade. Assim, a liberdade não é concebida como ausência total de limites, mas como expressão da autonomia individual voltada ao constante aperfeiçoamento humano e ao bem-estar coletivo, sobretudo dos mais vulneráveis.

Este modelo de diálogo fraterno permite uma constante evolução de ideias, pois alimenta-se da diversidade de pensamentos e gera novos consensos que enriquecem a convivência. Poucas práticas democráticas podem ser consideradas superiores a esta.

Contudo, na era digital, a liberdade e a democracia tornam-se cada vez mais frágeis. Como afirma o historiador israelense Yuval Noah Harari, o ser humano tornou-se um "animal hackeável". Combinando biotecnologia e informática, governos e corporações conseguem acessar o que sentimos, pensamos e desejamos, podendo manipular nossas escolhas sem que tenhamos plena consciência disso — como um sistema invadido por hackers.

As informações que fornecemos voluntariamente através das redes sociais e aplicativos — nossos deslocamentos, compras, reações, e até alterações químicas e físicas em nosso organismo — são processadas por sistemas que acabam conhecendo-nos melhor do que nós mesmos.

 

Neste contexto, a morte da liberdade e da democracia parece uma questão de tempo. Ainda assim, é possível preservar pequenos espaços de liberdade — e a prática democrática maçônica pode oferecer caminhos para isso.

A primeira forma de resistência consiste em quebrar a lógica de bolhas informativas. Participar de grupos diversos nas redes sociais — com pessoas de diferentes visões e opiniões — nos expõe a ideias contrárias às nossas, impedindo que a manipulação algorítmica nos alimente apenas com conteúdos que reforçam nossas convicções prévias.

Como já dizia o filósofo Jürgen Habermas com sua "racionalidade comunicativa", o diálogo só é realmente democrático quando quem fala busca a compreensão mútua, argumenta com honestidade, não insulta nem desqualifica, e garante a todos igual oportunidade de participação. O ouvinte, por sua vez, se esforça para entender as ideias do outro, mesmo que não precise aceitá-las. Cada mudança de opinião deve ser resultado do livre exercício da razão.

Por outro lado, o diálogo orientado para "combater" visa derrotar o outro, impedindo o debate verdadeiro. Nele, argumentos são excluídos, adversários são desqualificados e busca-se apenas impor uma vitória, não construir entendimento.

Num grupo humano sempre haverá divergências, mas a verdadeira convivência civil pressupõe disposição para o diálogo racional, aberto e respeitoso. O silêncio e a supressão artificial de conflitos não são sinais de paz verdadeira, mas de ausência de vida autêntica. A convivência civil só se fortalece quando enfrentamos com honestidade as diferenças.

Todos somos, em algum nível, parceiros de alguém: pais e filhos, empregadores e empregados, mestres e aprendizes. A vida social é feita de pares que interagem e se completam. Nossa maior tarefa, enquanto seres humanos, é buscar compreender sinceramente aqueles que são diferentes de nós — inclusive nossos adversários. Ao buscar entender o que pensa e sente o "outro", enriquecemos nossa própria identidade.

A prática de consumir informações e conteúdos fora de nossa zona de conforto nas redes sociais e motores de busca pode confundir os algoritmos, dificultando que nos classifiquem com exatidão e reduzindo o controle que exercem sobre nossas preferências.

Outra atitude prática para reduzir o monitoramento é limpar periodicamente os históricos de navegação, pesquisas e interações em todos os dispositivos e plataformas digitais. Além disso, é recomendável desinstalar ou desativar o maior número possível de aplicativos e redes sociais que acumulam e exploram dados pessoais.

Cada aplicativo instalado em nossos dispositivos funciona como um pequeno "Grande Irmão" digital que coleta e processa nossos comportamentos para nos influenciar, vender produtos e até moldar opiniões políticas.

Resistir ao controle invisível exercido pelas tecnologias sobre nossa liberdade individual exige vigilância, disciplina e, sobretudo, um resgate permanente dos valores democráticos que a Maçonaria pratíca cotidianamente em suas lojas. O espírito da racionalidade comunicativa, do diálogo respeitoso e da busca pelo entendimento mútuo pode e deve ser um farol para todos que desejam manter viva a chama da verdadeira liberdade.

 



Postar um comentário

0 Comentários