A Maçonaria Sob a Sombra do Nazismo


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Da Redação

Ao longo da história, a Maçonaria tem sido alvo de incompreensão, perseguição e intolerância por regimes autoritários. Nenhum período, porém, ilustra com tanta brutalidade essa realidade quanto os anos sombrios da ascensão e dominação nazista na Europa. Os fatos aqui relatados foram registrados por Alexander Craighead, maçom e autor, durante o próprio período das atrocidades cometidas pelo regime de Adolf Hitler, constituindo um testemunho histórico de inestimável valor.

Em 1940, o Grão-Mestre A. J. MacDonald, da Grande Loja da Nova Escócia, declarou em seu discurso oficial:

 “Os ditadores da Europa decretaram a morte da Maçonaria, mas nesta hora sombria agradecemos a Deus porque, na Comunidade Britânica, ainda possuímos a Grande Luz da Maçonaria, que chegou até nós através dos séculos. O espírito vivo dessa Luz deve ser mantido aceso no coração humano onde quer que os homens estejam determinados a ser livres.”

Essa afirmação resume com precisão o conflito fundamental entre o nazismo e a Maçonaria: de um lado, um regime totalitário baseado no medo, na exclusão e na obediência cega; do outro, uma instituição que defende a liberdade de consciência, a fraternidade universal e a dignidade humana.

 A Destruição Sistemática da Ordem

Logo após a ascensão de Hitler ao poder, as dez Grandes Lojas existentes na Alemanha foram dissolvidas. À medida que os nazistas conquistavam outros países, o mesmo destino era imposto à Maçonaria local. A Gestapo confiscava listas de membros, perseguia irmãos, leiloava propriedades, destruía templos e enviava maçons proeminentes para campos de concentração. Em 1937, o regime chegou ao ponto de organizar, em Munique, uma “Exposição Antimaçônica”, destinada a difamar a Ordem perante o público.

Na Áustria, poucas horas após a invasão alemã em 12 de março de 1938, as instalações da Grande Loja de Viena foram tomadas e seus bens confiscados. Dias depois, o Grão-Mestre, o Grão-Mestre Adjunto, todos os Veneráveis Mestres de vinte e duas lojas e numerosos irmãos foram presos. Em 5 de junho de 1938, o Grão-Mestre Dr. Schlesinger faleceu ainda sob custódia nazista.

 Perseguição na França e no Leste Europeu

Na França, as três principais obediências — o Grande Oriente, a Grande Loja e a Grande Loja Nacional — foram suprimidas. Seus bens foram confiscados e muitos objetos simbólicos expostos publicamente antes de serem vendidos em leilões. Em 19 de setembro de 1941, em Vichy, nove generais do Exército Francês foram demitidos exclusivamente por sua filiação maçônica.

Na Iugoslávia e na Bulgária, a Maçonaria foi dissolvida pouco antes da invasão nazista. Na Tchecoslováquia, as duas Grandes Lojas optaram por encerrar suas atividades ao perceberem a aproximação do inimigo. Muitos irmãos desses países, assim como da Áustria, conseguiram fugir para os Estados Unidos, onde receberam apoio da Grande Loja de Nova York e fundaram a sociedade Humanitas, que se reunia regularmente no Templo Maçônico de Nova York.

 Noruega, Polônia e Países Baixos

Na Noruega, o líder colaboracionista Vidkun Quisling decretou oficialmente, em 29 de novembro de 1940, a proibição da Maçonaria em todo o país. Aqueles que demoraram a renunciar à Ordem foram penalizados, e a sede maçônica foi transformada em museu.

Da Polônia, os relatos são particularmente angustiantes. Muitos dirigentes maçônicos que permaneceram em Varsóvia foram condenados a morrer de fome ou exaustão em campos de concentração. As condições de vida da população polonesa eram descritas como piores do que em qualquer outro país ocupado, superando até mesmo os sofrimentos da Primeira Guerra Mundial.

Nos Países Baixos, a perseguição atingiu níveis de extrema crueldade. Após a ordem de dissolução das lojas, grupos nazistas confiscaram todos os fundos maçônicos — mais de um milhão e meio de florins. Joias foram derretidas, aventais transformados em couro para sapatos, e edifícios maçônicos, incluindo escolas e lares para idosos, foram tomados à força. Idosos foram expulsos e obrigados a portar placas com a inscrição: “Parasitas de judeus e maçons”.

A perseguição foi tão severa que vários maçons proeminentes cometeram suicídio. Outros desapareceram sem deixar vestígios. Entre eles esteve o próprio Grão-Mestre General H. Van Torgeren, posteriormente confirmado como falecido em um campo de concentração.

 Uma Obra Humanitária Destruída

O caráter trágico desses acontecimentos torna-se ainda mais evidente quando se considera a vasta obra humanitária da Grande Loja dos Países Baixos. Com 150 lojas espalhadas pela Holanda, África do Sul e colônias holandesas, a instituição mantinha escolas para meninos e meninas, fundos de auxílio a viúvas e órfãos, casas gratuitas para viúvas de maçons, assistência médica e psicológica, além de apoio financeiro e funerário aos irmãos necessitados. Tudo isso foi destruído sob o peso implacável do regime nazista.

 A Luz que Não se Apaga

Apesar da brutalidade e da tentativa sistemática de erradicar a Ordem, a Maçonaria sobreviveu. O espírito da Grande Luz, mencionado pelo Grão-Mestre MacDonald, continuou vivo no coração daqueles que acreditavam na liberdade, na fraternidade e na dignidade humana.

A história da perseguição nazista à Maçonaria não é apenas um registro de sofrimento, mas também um lembrete poderoso: regimes baseados no ódio e na opressão sempre temem instituições que ensinam o pensamento livre, a tolerância e o valor da consciência individual. E é exatamente por isso que, mesmo nos tempos mais sombrios, essa Luz jamais foi completamente apagada.

 

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