Da Redação
Muito se escreveu sobre a vida do sábio Rei
Salomão, e inúmeras reflexões cercam a figura enigmática de Hiram Abiff. No
entanto, Hiram, Rei de Tiro, apesar de seu papel fundamental na edificação do
Templo de Jerusalém, ocupa surpreendentemente pouco espaço na memória e nos
estudos de muitos maçons contemporâneos. Mencionado apenas de passagem no
folclore e nos rituais, ele desaparece quase tão rapidamente quanto é citado —
uma injustiça histórica diante de sua grandeza e relevância.
Hiram não foi apenas um coadjuvante na obra de
Salomão. Foi um monarca poderoso, governante de um dos reinos mais ricos e
influentes do Oriente Médio antigo. Sua longa amizade com o Rei Davi e,
posteriormente, com Salomão, revela um homem digno da posição simbólica que a
Maçonaria lhe atribui como Segundo Grão-Mestre, associado à Coluna Dórica —
símbolo de força simples, estabilidade, lealdade e generosidade prática.
Estudiosos acreditam que o nome Hiram, ou suas
variações, significava algo como “O Exaltado”, título perfeitamente condizente
com o prestígio que desfrutava junto ao seu povo por volta do ano 1000 a.C.
Embora saibamos mais sobre seu reino do que sobre sua vida pessoal, os
registros disponíveis indicam que ele estava cercado por riqueza, poder e
influência incomuns para sua época.
O Reino de Tiro era formado principalmente por
duas ilhas: Tiro propriamente dita e a pequena ilha de Melkart. Apesar de Tiro
medir aproximadamente apenas um quilômetro de comprimento por pouco mais de
setecentos metros de largura, sua posição estratégica — a menos de um
quilômetro da costa do atual Líbano — tornava-a praticamente inexpugnável. Essa
característica permitiu que o reino resistisse a cercos e invasões por mais de
mil anos.
Embora conhecido na Maçonaria como Rei de Tiro,
Hiram era, na realidade, o Rei dos Fenícios. Seus navegadores espalharam
cultura, conhecimento e riqueza por vastas regiões do mundo antigo, fundando
cidades como Cartago e Útica, no norte da África. Há inclusive relatos de que
os fenícios teriam navegado até a atual Inglaterra para extrair estanho —
elemento essencial para a produção do bronze — em regiões como a Cornualha.
Exímios artesãos, os fenícios dominavam a
metalurgia, a tecelagem, o trabalho em madeira, pedra e diversos outros
ofícios. Não surpreende, portanto, que Salomão tenha escolhido Hiram e seu povo
como parceiros ideais para a monumental tarefa de edificar um Templo dedicado
ao Senhor Deus de Israel.
A aliança entre Hiram, Davi e Salomão foi
claramente baseada na necessidade mútua. Os reis de Israel precisavam de
materiais e mão de obra especializada para seus projetos — o palácio de Davi e
o Templo destinado a abrigar a Arca da Aliança. Hiram, por sua vez, necessitava
de alimentos para sustentar seu povo. Assim, firmou-se um acordo cujos termos
são descritos no Livro das Crônicas.
Salomão comprometia-se a fornecer anualmente a
Hiram 20.000 coros de trigo, 20.000 coros de cevada, 20.000 batos de vinho e
20.000 batos de azeite. Embora hoje seja difícil traduzir essas medidas com
precisão, estima-se que correspondam a algo entre 880 mil e 1,7 milhão de
galões de vinho e azeite, além de quantidade semelhante de cereais.
Com o avanço da construção do Templo, os custos
aumentaram significativamente, e Hiram passou a emprestar grandes somas de
dinheiro a Salomão. Em retribuição, o rei de Israel concedeu-lhe 20 cidades na
região da Galileia. Contudo, ao visitá-las, Hiram mostrou-se profundamente
insatisfeito. Conforme registrado em 1 Reis 9: 10–14, ele questionou Salomão:
“Que cidades são estas que me deste, meu irmão?” Sua insatisfação parece
compreensível, considerando que havia emprestado ao rei de Israel 120 talentos
de ouro, valor que, em termos atuais, equivaleria a algo entre 12 e 25 milhões
de libras esterlinas.
Talvez a maior contribuição de Hiram tenha sido
o envio de numerosos artesãos especializados, entre eles o célebre Hiram Abiff,
mestre construtor do Templo. Ao longo dos séculos, surgiram diversas
interpretações: alguns acreditam que Hiram, Rei de Tiro, e Hiram Abiff seriam a
mesma pessoa; outros defendem que seriam pai e filho; e há ainda quem sustente
que se tratam de personagens completamente distintos. O fato é que essa
associação reforça ainda mais a importância do rei fenício na tradição
maçônica.
Pouco mais se sabe sobre a vida pessoal de
Hiram, além de que seu reino continuou a crescer, prosperar e influenciar
outras nações por cerca de seis a sete séculos, até ser conquistado por
Alexandre, o Grande, por volta de 400 a.C.
Sem a ajuda decisiva de Hiram, Rei de Tiro, é
possível que Salomão jamais tivesse alcançado a grandeza que a história lhe
atribui. Seu legado, embora discreto nos rituais, permanece sólido como a
Coluna que simboliza: silencioso, forte e indispensável.

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